sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Inflação anual de Dilma é próxima à de Lula e inferior à de FHC



Embora a presidente Dilma Rousseff seja duramente acusada de leniência com a inflação, o ritmo de aumento de preços durante o seu governo é próximo ao do período Luiz Inácio Lula da Silva e inferior ao da gestão Fernando Henrique Cardoso.

A inflação foi de 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013, o que dá uma média anual de 6,1%. Na era Lula (2003 a 2010), os preços subiram 5,8% ao ano. Já na gestão FHC (1995 a 2002), o aumento médio foi de 9,1%.

Os dados se referem ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador oficial de inflação, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


As críticas à presidente Dilma provavelmente resultam da avaliação, por parte de analistas, de que neste momento histórico existem condições para o governo manter a inflação em um nível mais baixo.

Tanto Lula quanto FHC tiveram que enfrentar a inércia de uma inflação alta deixada por seus respectivos antecessores.  Em 1994, um ano antes de o tucano chegar à Presidência, os preços haviam subido 917%, de modo que a alta de 22% no ano seguinte – que seria um escândalo nos dias atuais – foi vista como um alívio.

Em 2002, antes da posse de Lula, a inflação havia sido de 12,5%. O resultado de 9,3% no primeiro ano do petista também foi, portanto, um avanço.

Com Dilma, ocorreu o contrário. O gráfico acima mostra que a inflação vinha caindo gradativamente em cada mandato presidencial até chegar o governo atual, que interrompeu essa trajetória.

Para recordar, a inflação foi de 135% ao ano com Figueiredo, 586% com Sarney, 735% com Collor e 1.519% com Itamar. Justiça seja feita, foi no governo Itamar Franco que a hiperinflação acabou. O IPCA subiu 757% no primeiro semestre de 1994 e apenas 19% no segundo, época em que FHC era ministro da Fazenda.

FHC
Fernando Henrique Cardoso passou o primeiro mandato combatendo fortemente a inflação, pois essa postura o havia colocado na Presidência e disso dependeria a sua reeleição.

De 22% em 1995, o IPCA passou a 10%, 5% e 2% em cada um dos anos seguintes, respectivamente. O gráfico abaixo deixa clara a redução drástica da inflação a partir de 1995.


Desde o início, FHC usou intensamente o câmbio como uma das armas do combate ao aumento de preços, em vez de conter com mais força os gastos públicos. Mantendo o real forte em relação ao dólar, os produtos importados ficaram baratos para os brasileiros ao longo de todo o primeiro mandato.

A estratégia gerou um rombo nas contas externas do país e provocou críticas dentro do próprio governo. Chamada de “âncora cambial'', a política foi classificada de “populismo cambial'' pelo então ministro José Serra.

Com o real caro, o preço dos produtos brasileiros fica alto e a nossa indústria tem dificuldade para competir com os estrangeiros. Resultado: as importações aceleram e as exportações pisam no freio. A âncora cambial fez o saldo comercial do Brasil (diferença entre exportações e importações) acumular uma perda de US$ 22 bilhões durante o primeiro mandato de FHC. Analistas passaram a desconfiar que, cedo ou tarde, faltariam dólares no país.

Após crises em países emergentes, investidores observaram os fracos fundamentos da nossa economia à época e especularam contra o real. Em janeiro de 1999, o governo teve que fazer uma forte desvalorização da moeda nacional e abandonar a âncora cambial.

Com a queda do real, o saldo comercial melhorou, mas a inflação aumentou. Um ajuste fiscal forte, que poderia ter sido feito no primeiro mandato, acabou tendo que ser feito no segundo, paralelamente a uma elevação considerável da taxa básica de juros.

Num contexto de impostos altos, corte de gastos públicos e juros elevados, a economia travou, provocando aumento do desemprego e queda da renda da população. Dessa forma, FHC fechou as portas do Planalto para os tucanos por pelo menos 12 anos.

Lula
A política de combate à inflação no governo Lula começou com uma carta aberta do recém empossado presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pedindo para ajustar a meta de aumento de preços de 4% para 8,5%.

Meirelles explicava que a inércia da inflação do ano anterior seria responsável, sozinha, por 4 pontos percentuais da alta de preços em 2003. Dessa forma, o primeiro mandato do governo Lula começou com uma inflação de 9,3%, em 2003, e terminou com uma de 3,14%, em 2006.

Diferentemente do que ocorreu no segundo mandato de FHC, no governo Lula o câmbio ajudou a segurar a inflação, pois os preços de matérias-primas – que são o forte do Brasil – dispararam no mercado internacional. As exportações batiam recorde anualmente, o que permitiu ao país importar cada vez mais produtos baratos sem causar um rombo nas contas externas.

O cenário permitiu ao Banco Central baixar drasticamente a taxa básica de juros sem pressionar a inflação.

O bom resultado das exportações gerou confiança dos investidores internacionais e os estimulou a colocar dinheiro no setor produtivo brasileiro. A entrada de dólares permitiu ao país passar de devedor a credor externo. Em um cenário mais estável, o crédito pôde avançar, gerando consumo, emprego e renda.

Com a crise financeira internacional em 2008, a atividade econômica brasileira esfriou, e o presidente Lula passou a injetar dinheiro na economia por meio de empréstimos de bancos públicos.

A inflação, então, voltou a subir e terminou o ano de 2010 em 5,91% – mesmo número alcançado por Dilma em 2013. Porém, naquele momento a economia brasileira cresceu 7,5% (contra os cerca de 2% no ano passado), de modo que Lula terminou seu segundo mandato como o presidente mais popular do mundo e, diferentemente de FHC, elegeu sua sucessora.

Dilma
A presidente Dilma Rousseff pegou um cenário internacional mais difícil do que Lula. Ela não pode contar com o câmbio para controlar a inflação, como fizeram Lula e FHC em seu primeiro mandato.

Com o real valorizado, as importações avançariam muito e não haveria como elevar as exportações o suficiente para compensar a saída de dólares. A China e a Europa, dois de nossos principais clientes, desaceleraram o ritmo de compra de produtos brasileiros.

Ainda, a concessão de crédito aumentou. Ao mesmo tempo, a taxa básica de juros, um dos principais instrumentos de controle de preços, foi reduzida pelo Banco Central nos dois primeiros anos do governo Dilma. Esses dois movimentos fizeram crescer a quantidade de dinheiro disponível na economia, sem a contrapartida do aumento dos investimentos e da produtividade. A consequência foi uma inflação acima do centro da meta por três anos seguidos.

A acusação à presidente de leniência com a inflação parte da ideia de que o governo não deveria aumentar a circulação de dinheiro no país sem que houvesse um aumento de produtividade. Seria melhor respeitar as metas ainda que isso gerasse algum custo social de curto ou médio prazo – como o aumento do desemprego.

Ainda, o uso de métodos não convencionais para segurar os preços – por exemplo, o subsídio à energia elétrica e à gasolina e também o baixo reajuste aos preços administrados – é uma postura que gera desconfiança no mercado.

Cumprir a promessa oficial de uma inflação de 4,5% seria uma das medidas para dar previsibilidade ao mercado e ganhar a confiança de investidores. Combinado com outras decisões – como a de não maquiar os dados das contas públicas e realizar mais concessões de infraestrutura ao setor privado –, o controle dos preços ajudaria a atividade econômica a se recuperar no longo prazo.

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