Embora a
presidente Dilma Rousseff seja duramente acusada de leniência com a inflação, o
ritmo de aumento de preços durante o seu governo é próximo ao do período Luiz
Inácio Lula da Silva e inferior ao da gestão Fernando Henrique Cardoso.
A inflação foi
de 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91%
em 2013, o que dá uma média anual de 6,1%. Na era Lula (2003 a 2010), os
preços subiram 5,8% ao ano. Já na gestão FHC (1995 a 2002), o aumento médio foi
de 9,1%.
Os dados se
referem ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador
oficial de inflação, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
As críticas à
presidente Dilma provavelmente resultam da avaliação, por parte de analistas,
de que neste momento histórico existem condições para o governo manter a
inflação em um nível mais baixo.
Tanto Lula quanto
FHC tiveram que enfrentar a inércia de uma inflação alta deixada por seus
respectivos antecessores. Em 1994, um ano antes de o tucano chegar à
Presidência, os preços haviam subido 917%, de modo que a alta de 22% no ano
seguinte – que seria um escândalo nos dias atuais – foi vista como um alívio.
Em 2002, antes
da posse de Lula, a inflação havia sido de 12,5%. O resultado de 9,3% no
primeiro ano do petista também foi, portanto, um avanço.
Com Dilma,
ocorreu o contrário. O gráfico acima mostra que a inflação vinha caindo
gradativamente em cada mandato presidencial até chegar o governo atual, que
interrompeu essa trajetória.
Para recordar,
a inflação foi de 135% ao ano com Figueiredo, 586% com Sarney, 735% com Collor
e 1.519% com Itamar. Justiça seja feita, foi no governo Itamar Franco que a
hiperinflação acabou. O IPCA subiu 757% no primeiro semestre de 1994 e apenas
19% no segundo, época em que FHC era ministro da Fazenda.
FHC
Fernando
Henrique Cardoso passou o primeiro mandato combatendo fortemente a inflação,
pois essa postura o havia colocado na Presidência e disso dependeria a sua
reeleição.
De 22% em
1995, o IPCA passou a 10%, 5% e 2% em cada um dos anos seguintes,
respectivamente. O gráfico abaixo deixa clara a redução drástica da inflação a
partir de 1995.
Desde o
início, FHC usou intensamente o câmbio como uma das armas do combate ao aumento
de preços, em vez de conter com mais força os gastos públicos. Mantendo o real
forte em relação ao dólar, os produtos importados ficaram baratos para os brasileiros
ao longo de todo o primeiro mandato.
A estratégia
gerou um rombo nas contas externas do país e provocou críticas dentro do
próprio governo. Chamada de “âncora cambial'', a política foi classificada de
“populismo cambial'' pelo então ministro José Serra.
Com o real
caro, o preço dos produtos brasileiros fica alto e a nossa indústria tem
dificuldade para competir com os estrangeiros. Resultado: as importações
aceleram e as exportações pisam no freio. A âncora cambial fez o saldo
comercial do Brasil (diferença entre exportações e importações) acumular uma
perda de US$ 22 bilhões durante o primeiro mandato de FHC. Analistas passaram a
desconfiar que, cedo ou tarde, faltariam dólares no país.
Após crises em
países emergentes, investidores observaram os fracos fundamentos da nossa
economia à época e especularam contra o real. Em janeiro de 1999, o governo
teve que fazer uma forte desvalorização da moeda nacional e abandonar a âncora
cambial.
Com a queda do
real, o saldo comercial melhorou, mas a inflação aumentou. Um ajuste fiscal
forte, que poderia ter sido feito no primeiro mandato, acabou tendo que ser
feito no segundo, paralelamente a uma elevação considerável da taxa básica de
juros.
Num contexto
de impostos altos, corte de gastos públicos e juros elevados, a economia
travou, provocando aumento do desemprego e queda da renda da população. Dessa
forma, FHC fechou as portas do Planalto para os tucanos por pelo menos 12 anos.
Lula
A política de
combate à inflação no governo Lula começou com uma carta aberta do recém
empossado presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao ministro da
Fazenda, Antonio Palocci, pedindo para ajustar a meta de aumento de preços de
4% para 8,5%.
Meirelles
explicava que a inércia da inflação do ano anterior seria responsável, sozinha,
por 4 pontos percentuais da alta de preços em 2003. Dessa forma, o primeiro
mandato do governo Lula começou com uma inflação de 9,3%, em 2003, e terminou
com uma de 3,14%, em 2006.
Diferentemente
do que ocorreu no segundo mandato de FHC, no governo Lula o câmbio ajudou a
segurar a inflação, pois os preços de matérias-primas – que são o forte do
Brasil – dispararam no mercado internacional. As exportações batiam recorde
anualmente, o que permitiu ao país importar cada vez mais produtos baratos sem causar
um rombo nas contas externas.
O cenário
permitiu ao Banco Central baixar drasticamente a taxa básica de juros sem
pressionar a inflação.
O bom
resultado das exportações gerou confiança dos investidores internacionais e os
estimulou a colocar dinheiro no setor produtivo brasileiro. A entrada de
dólares permitiu ao país passar de devedor a credor externo. Em um cenário mais
estável, o crédito pôde avançar, gerando consumo, emprego e renda.
Com a crise
financeira internacional em 2008, a atividade econômica brasileira esfriou, e o
presidente Lula passou a injetar dinheiro na economia por meio de empréstimos
de bancos públicos.
A inflação,
então, voltou a subir e terminou o ano de 2010 em 5,91% – mesmo número
alcançado por Dilma em 2013. Porém, naquele momento a economia brasileira
cresceu 7,5% (contra os cerca de 2% no ano passado), de modo que Lula terminou
seu segundo mandato como o
presidente mais popular do mundo e, diferentemente de FHC, elegeu sua
sucessora.
Dilma
A presidente
Dilma Rousseff pegou um cenário internacional mais difícil do que Lula. Ela não
pode contar com o câmbio para controlar a inflação, como fizeram Lula e FHC em
seu primeiro mandato.
Com o real
valorizado, as importações avançariam muito e não haveria como elevar as
exportações o suficiente para compensar a saída de dólares. A China e a Europa,
dois de nossos principais clientes, desaceleraram o ritmo de compra de produtos
brasileiros.
Ainda, a
concessão de crédito aumentou. Ao mesmo tempo, a taxa básica de juros, um dos
principais instrumentos de controle de preços, foi reduzida pelo Banco Central
nos dois primeiros anos do governo Dilma. Esses dois movimentos fizeram crescer
a quantidade de dinheiro disponível na economia, sem a contrapartida do aumento
dos investimentos e da produtividade. A consequência foi uma inflação acima do
centro da meta por três anos seguidos.
A acusação à
presidente de leniência com a inflação parte da ideia de que o governo não
deveria aumentar a circulação de dinheiro no país sem que houvesse um aumento
de produtividade. Seria melhor respeitar as metas ainda que isso gerasse algum
custo social de curto ou médio prazo – como o aumento do desemprego.
Ainda, o uso
de métodos não convencionais para segurar os preços – por exemplo, o subsídio à
energia elétrica e à gasolina e também o baixo reajuste aos preços
administrados – é uma postura que gera desconfiança no mercado.
Cumprir a
promessa oficial de uma inflação de 4,5% seria uma das medidas para dar
previsibilidade ao mercado e ganhar a confiança de investidores. Combinado com
outras decisões – como a de não maquiar os dados das contas públicas e realizar
mais concessões de infraestrutura ao setor privado –, o controle dos preços
ajudaria a atividade econômica a se recuperar no longo prazo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi