A depressão da
aposentadoria pode ser um nefasto convite ao mal de Alzheimer
por Rogério Tuma
no site Carta Capital
Ao se
aposentar, as pessoas precisam manter o interesse em aprender para que seu
cérebro não entre em processo de regressão cognitiva. Segundo um novo estudo,
manter o bom humor e desempenhar atividades intelectuais é fundamental para
atrasar e até evitar a perda de memória na velhice.
Aposentados
sofrem modificações importantes em seu estilo de vida, com mudanças sociais,
financeiras e culturais. De acordo com sua capacidade adaptativa, essas
mudanças podem provocar um declínio progressivo do intelecto, ou atrasá-lo.
O estudo,
coordenado pelo doutor Lawrence Baer e colaboradores, da Universidade
Concórdia, de Montreal, Canadá, e publicado no Journal of Gerontology,
entrevistou por quatro anos consecutivos 333 indivíduos saudáveis aposentados
após trabalharem por mais de 20 anos, e comparou dados sobre sua capacidade
cognitiva, motivações, tipos de ocupações exercidas após a aposentadoria e
presença ou não de depressão.
De acordo com
os resultados, indivíduos com maior interesse em exercitar o cérebro e
continuar aprendendo ocupavam cargos de maior complexidade antes da
aposentadoria. Esses indivíduos procuram, quando se aposentam, um número maior
de afazeres, justamente os que demandam mais esforço intelectual. Não por acaso,
esses idosos conseguem se proteger do declínio cognitivo, atrasando a perda
ligada à idade em pelo menos dois anos. A variedade de atividades é um fator
protetor importante e independente do interesse cognitivo. Quem desempenha mais
afazeres, mesmo lúdicos, não relacionados ao aprendizado, também está mais
protegido da piora cognitiva e pode atrasar tal declínio em pelo menos um ano.
As atividades
mais comuns escolhidas pelos aposentados foram leitura, jogos, viagens,
educação continuada, ouvir música; as mais criativas como pintura e outras
culturais, como visitas a museus e assistir a palestras. As ocupações não
intelectuais podem também ser um exercício para o cérebro, pois mesmo nas
brincadeiras utilizamos as funções cerebrais que formam a inteligência.
O humor, dizem
os autores, é outro fator fundamental na performance intelectual. Ao se
aposentar, os indivíduos estão mais sujeitos a desenvolver depressão e seu
impacto é maior com a idade avançada. A depressão acomete de 15% a 30% dos
idosos e é por si só um fator de risco para o mal de Alzheimer.
Os
entrevistados eram relativamente jovens: a faixa etária média era de 60 anos,
idade usual para se aposentar no Canadá. Indivíduos jovens com depressão se
queixam mais de sintomas físicos e da perda de interesse, mas também de déficit
cognitivo. Ficou claro que sintomas depressivos tiveram um impacto negativo
nesses adultos jovens, antecipando a perda cognitiva em um ano.
Computando os
três fatores, dois de proteção e um negativo, podemos concluir que os indivíduos
que logo antes de se aposentar se engajam em atividades cognitivas ou de
diversão, e se mantêm interessados, buscando novos conhecimentos e experiências
e assim exercitando seu cérebro, sem depressão (ou com a depressão tratada, se
a tiverem), conseguem se manter intelectualmente intactos por pelo menos
quatro anos mais que seus pares que optaram por aposentar o cérebro também,
ficando sentados no sofá assistindo à televisão o dia todo.
A população
brasileira está envelhecendo e a disfunção cognitiva na população idosa
torna-se um problema de saúde pública de proporções catastróficas. Uma saída,
baseada no estudo mencionado, é oferecer a essa faixa etária oportunidade para
o exercício intelectual, a exemplo da entrada gratuita em teatros, cinemas e museus,
e um programa de governo para estímulo e aderência à leitura e às atividades
físicas para os idosos.
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