Mais uma
vez o Uruguai é a vanguarda. O primeiro país sul-americano a legalizar o aborto
agora também é o primeiro a regulamentar a venda de maconha.
Seja por
influência religiosa, falta de senso crítico ou apenas por um conservadorismo
latente, ainda predominam muitos mitos e equívocos quando o assunto é a droga.
O primeiro
erro é acreditar que a maconha é a "porta de entrada para drogas mais
pesadas". Se existe de fato uma "porta de entrada" para as
drogas certamente não é a maconha, e sim o álcool, já que na maior parte das
vezes o consumo de bebidas alcoólicas é feito anteriormente a qualquer uso de
outras drogas. Ora, se alcool é a verdadeira porta de entrada para outras
drogas, então porque não é proibido?
O segundo
erro é achar que a maconha é mais nociva do que outras drogas como o álcool e o
tabaco. Nunca vi alguma notícia de que algum homem tenha espancado uma
mulher porque tinha usado maconha. Nunca vi alguém atropelar seis em um ponto
de ônibus porque fumou um baseado e dirigiu. Nunca vi alguém morrer de câncer
no pulmão porque fumou cannabis. Se a maconha, tanto do ponto de vista
social, como do ponto de vista da saúde, é menos nociva do que o álcool e do
que o tabaco, então por que é proibida?
O terceiro
erro é acreditar que a legalização das drogas irá aumentar o consumo. Isso não
irá acontecer simplesmente porque é tão fácil achar pontos de venda, que quem
quiser consumir maconha já está consumindo. Muito pelo contrário, só com a
legalização haverá a possibilidade de um maior controle sobre a produção e a
venda da cannabis.
Sabe o que
impede um adolescente de 14 anos de comprar bebida alcoólica? O fato de ser
legalizada. Se um adolescente chegar em um supermercado com a intenção de
comprar alguma bebida, dificilmente vai conseguir, já que existem leis que
restringem a compra de bebidas por adolescentes, e, caso ocorra a venda,
certamente o proprietário é passível de punição por isso.
Agora,
sabe o que impede um adolescente de comprar drogas? Nada. O traficante
está pouco se importando se quem está comprando é maior ou menor de idade, se o
dinheiro é lícito ou não - o que o traficante quer é vender, seja para quem
for.
Hoje, a
politica de proibição do uso de drogas só beneficia o traficante e a indústria
de armas, que lucra vendendo para os dois lados. Para todo o resto da
sociedade, sobretudo para os mais pobres, que são obrigados a morar em zonas
dominadas pelo tráfico e a conviver entre o fogo cruzado entre policiais e
traficantes, a politica de proibição não é apenas ineficiente, mas cruel. E
nefasta. E assassina.
Estefano Nascimento é aluno do curso
de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes Ciências e Humanidades da
USP
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