terça-feira, 6 de agosto de 2013

Mais uma vez o Uruguai é a vanguarda

Mais uma vez o Uruguai é a vanguarda. O primeiro país sul-americano a legalizar o aborto agora também é o primeiro a regulamentar a venda de maconha.

Seja por influência religiosa, falta de senso crítico ou apenas por um conservadorismo latente, ainda predominam muitos mitos e equívocos quando o assunto é a droga.

O primeiro erro é acreditar que a maconha é a "porta de entrada para drogas mais pesadas". Se existe de fato uma "porta de entrada" para as drogas certamente não é a maconha, e sim o álcool, já que na maior parte das vezes o consumo de bebidas alcoólicas é feito anteriormente a qualquer uso de outras drogas. Ora, se alcool é a verdadeira porta de entrada para outras drogas, então porque não é proibido?


O segundo erro é achar que a maconha é mais nociva do que outras drogas como o álcool e o tabaco. Nunca vi alguma notícia de que algum homem tenha espancado uma mulher porque tinha usado maconha. Nunca vi alguém atropelar seis em um ponto de ônibus porque fumou um baseado e dirigiu. Nunca vi alguém morrer de câncer no pulmão porque fumou cannabis. Se a maconha, tanto do ponto de vista social, como do ponto de vista da saúde, é menos nociva do que o álcool e do que o tabaco, então por que é proibida?

O terceiro erro é acreditar que a legalização das drogas irá aumentar o consumo. Isso não irá acontecer simplesmente porque é tão fácil achar pontos de venda, que quem quiser consumir maconha já está consumindo. Muito pelo contrário, só com a legalização haverá a possibilidade de um maior controle sobre a produção e a venda da cannabis.

Sabe o que impede um adolescente de 14 anos de comprar bebida alcoólica? O fato de ser legalizada. Se um adolescente chegar em um supermercado com a intenção de comprar alguma bebida, dificilmente vai conseguir, já que existem leis que restringem a compra de bebidas por adolescentes, e, caso ocorra a venda, certamente o proprietário é passível de punição por isso.

Agora, sabe o que impede um adolescente de comprar drogas? Nada. O traficante está pouco se importando se quem está comprando é maior ou menor de idade, se o dinheiro é lícito ou não - o que o traficante quer é vender, seja para quem for.

Hoje, a politica de proibição do uso de drogas só beneficia o traficante e a indústria de armas, que lucra vendendo para os dois lados. Para todo o resto da sociedade, sobretudo para os mais pobres, que são obrigados a morar em zonas dominadas pelo tráfico e a conviver entre o fogo cruzado entre policiais e traficantes, a politica de proibição não é apenas ineficiente, mas cruel. E nefasta. E assassina.

Estefano Nascimento é aluno do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes Ciências e Humanidades da USP


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