quarta-feira, 24 de julho de 2013

Lula: setores conservadores estão colocando as unhas de fora

Dilma sofre 'preconceito' de setores 'conservadores', diz Lula

Ex-presidente afirmou que Dilma é alvo de 'mais preconceito' do que ele. 'Setores conservadores estão colocando as unhas de fora', declarou.

Nathalia Passarinho
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta terça-feira (23), durante discurso no Festival da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha, em Brasília, uma defesa enfática da presidente Dilma Rousseff e disse que ela sofre "preconceito" de "setores conservadores". 

Após as manifestações que tomaram as ruas do país, pesquisas de popularidade mostraram forte queda no percentual de brasileiros que aprovam o governo Dilma. Pesquisa Datafolha divulgada no último dia 27 indica que o índice de eleitores que consideram o governo ótimo ou bom caiu de 57% para 25%.


Para Lula, Dilma está sendo tratada com "mais preconceito" do que o sofrido por ele. O ex-presidente defendeu as respostas de Dilma aos protestos, como o programa Mais Médicos, que, entre outros pontos, prevê trazer médicos estrangeiros para atuar em áreas pobres do país.

“Eles agora estão com preconceito contra ela maior do que tinham contra mim, a maior falta de respeito com uma mulher da competência da companheira Dilma. Será que eles têm falta de respeito com a mãe deles como têm com a Dilma? A Dilma não é nada mais do que uma extensão da gente lá”, disse Lula, sem especificar a quem estava se referindo.
Segundo o ex-presidente, os “setores conservadores” estão colocando as “unhas de fora”. “Nós somos responsáveis pelos acertos e pelos erros. Mais uma vez, os setores conservadores estão colocando as unhas de fora. A luta, companheiros, continua", afirmou.

Mais Médicos
O ex-presidente também comentou sobre o programa “Mais Médicos”, lançado pela presidente Dilma e defendeu a proposta de se trazer médicos estrangeiros para atuar em áreas pobres do país.

“É preciso melhorar a saúde, sim. Se os médicos brasileiros não querem trabalhar no sertão, que a gente traga médicos de fora. Ninguém quer tirar emprego de ninguém. Longe de mim tirar emprego de médico brasileiro, mas o que quero é dar emprego em lugar aonde não tem médico”, disse.

Lula também se opôs a críticas de que os médicos estrangeiros contratados pelo governo deveriam fazer o "Revalida", exame nacional de diplomas médicos expedidos por instituições de educação superior estrangeiras. Para o Conselho Federal de Medicina, os médicos que se formaram no exterior precisam ter os conhecimentos testados.

“Aí disseram: ‘temos que fazer um teste com os médicos de fora para saber se os médicos são bons’. Apenas 27% dos médicos brasileiros passam no exame do Conselho Federal de Medicina. Queremos encontrar uma solução conversando com médicos, com a sociedade. A constatação é que algumas especialidades estão faltando. Enquanto a gente não forma, a gente traz gente de fora. Qual é o problema?”

Ministérios
Segundo o ex-presidente, as pressões sobre Dilma para reduzir a quantidade de ministérios visam atingir áreas ligadas aos direitos humanos e citou como exemplo a Secretaria de Igualdade Racial.

A cobrança por corte de pastas foi feita pela oposição e pelo maior partido da base aliada, o PMDB.

"Eu estou vendo um zumzumzum na imprensa de gente que vai pedir para a presidenta Dilma reduzir ministério. Olha, deixa eu te falar uma coisa. Fique esperto porque ninguém vai querer acabar com o Ministério da Fazenda. Eles vão tentar mexer no Ministério da Igualdade Racial, nos direitos humanos", disse o ex-presidente durante discurso no Festival Latinidades, em Brasília.

Mais cedo, antes do início do evento, Lula afirmou que não poderia dar "palpite" sobre redução de ministérios. "Como posso dar palpite numa coisa se faz dois anos e sete meses que eu saí do governo?", disse.

Durante o discurso, no entanto, Lula disse não é necessário fazer mudanças nos ministérios, mas sim "entender" a função de cada um.

"Eles não vão tentar mexer porque é a Dilma que tem que mexer. E acho que ela não vai mexer. E eles vão tentar porque vão dizer 'é preciso fazer ajuste, é preciso diminuir'. A gente não tem que diminuir nem aumentar, tem que saber para que serve", completou.

Corte
A sugestão para cortar ministérios foi manifestada principalmente pelo PMDB, maior partido aliado do governo, por intermédio do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) ao jornal "Folha de S.Paulo" na semana passsada. Em entrevista, ele declarou ser a favor da reduzir de 39 para 25 o total de ministérios.

De acordo com o blog de Cristiana Lôbo, o líder da bancada do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), está recolhendo assinaturas para apresentar uma proposta de emenda constitucional que limita em 20 o número de ministérios – hoje, são 39. Segundo Gerson Camarotti, o assunto representa um "dilema".

Atualmente, o governo tem 39 pastas (24 ministérios, dez secretarias e cinco órgãos com status de ministério). Quando Lula deixou o governo, em 2010, existiam 37 ministérios na Esplanada. Dilma criou mais dois: a Secretaria de Aviação Civil e o Ministério da Micro e Pequena Empresa. Antes de Lula, o governo de Fernando Henrique Cardoso deixou 24 ministérios.

'Volta, Lula'
Em entrevista após o evento, Lula foi questionado por jornalistas sobre o movimento “Volta, Lula”. Parlamentares petistas próximos ao ex-presidente vêm defendendo que ele concorra à Presidência em 2014.

“Não existe essa possibilidade, querido. Eu, se pudesse, ia votar a jogar bola, mas o Felipão acho que não está me olhando com bons olhos”, respondeu o ex-presidente.

Lula também negou que setores do PT estejam descontentes com Dilma.
“Eu não sei quem descobre umas divergências que não existem. Eu fui presidente da República e muitas vezes não pude ir a uma reunião do Diretório do PT e nem por isso teve divergência. O PT apoia 150% a presidenta Dilma, quiçá 200%. Não há hipótese de ter divergência que não possa ser superada. Se tiver alguma coisa, será discutido entre o partido e a presidenta”, afirmou.
Inflação

Lula comentou ainda a alta da inflação no país. Segundo ele, o governo precisa fazer um esforço “monstruoso” para evitar a alta de preços.

“A inflação é o mal a ser extirpado da política econômica brasileira. Tenho certeza que a presidenta Dilma pensa exatamente isso, o ministro Guido pensa exatamente isso. Temos que fazer um esforço monstruoso da sociedade e do governo para não permitir que a inflação tenha qualquer sinal de volta”, disse.

Do G1


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