quarta-feira, 6 de março de 2013

Pescando no Facebook VI - 06 03 2013

Nesta sexta edição do “Pescado no Facebook” houve um repeteco de autores que já haviam colaborado em edições anteriores. Mais uma vez selecionei publicações dos amigos Marcelo Siano Lima e Vinícius Medeiros. 

Desta vez a indignação tanto do Marcelo quanto do Vinicius é comum. Ambos tratam do desdobramento que está levando à escolha do nome para presidir a comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados.


Marcelo Siano Lima – “Não dá para termos uma chocadeira do 'ovo da serpente' ocupando a presidência de tal comissão.”

Apesar de entender os jogos políticos, não posso aceitar que os grandes partidos com assento na Câmara dos Deputados tenham abdicado da presidência da Comissão de Direitos Humanos em favor do PSC, uma sigla quase toda representada por fundamentalistas cristãos protestantes.

Não há desculpas para esse absurdo, para essa aberração política. A nós, cidadãos e cidadãs, defensor dos direitos humanos, das liberdades civis, do estado laico, da democracia e das instituições republicanas, integrantes de uma sociedade plural, cabe o dever de protestar, de fazer ouvir alto nossa indignação e nossa contrariedade.

É preciso deter esse crescimento fundamentalista, seja no voto, seja no controle de instituições e de representações sociais, seja no comando de órgãos responsáveis pelo zelo dos direitos humanos e da Constituição.

Não podemos admitir que a câmara dos deputados, por quaisquer que sejam os argumentos que venham a ser levantados, solape a constituição e atente contra os direitos humanos e as liberdades civis. Vamos protestar, vamos radicalizar nossos protestos contra esse acordo que entrega ao deputado de São Paulo a presidência de uma comissão tão importante.

Não dá para termos uma chocadeira do 'ovo da serpente' ocupando a presidência de tal comissão.

Vinícius Medeiros - Eu não tenho muito o que discordar do que foi escrito pelo deputado Marcos Feliciano (PSC-SP) em seu artigo na Folha (06/Mar). Contudo ainda não ficou claro, a meu ver, a infeliz citação de "que os africanos são descendentes de um ancestral amaldiçoado por Noé". Houve um tentativa de esclarecer as coisas, mas o deputado apenas se enrolou mais. Disse que não usou a palavra negro, pois se referia "a um povo definido por uma região e não pela cor de sua pele". Então, brancos e negros africanos são realmente descendentes de um ancestral amaldiçoado?

Que ultraje, deputado!”


O assunto desta quarta-feira da seção Tendências/debates [e para comentarmos aqui no POLITICA E CULTURA] trata sobre o imbróglio na escolha do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.

A indicação do pastor evangélico e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a comissão gerou um furacão de manifestações por parte de militantes da comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais).


Segundo o pastor, militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que discorde de suas posições. A comissão é mais importante que debates rasos.


O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) destaca que graças ao jogo de interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo que Marco Feliciano presida a comissão.


Wyllys afirma que tenta representar aqueles que sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima.


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DITADURA GAY E OS DIREITOS HUMANOS


Dias atrás, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) foi sugerido para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Houve protestos de alguns da comunidade científica pelo simples fato de ele ser católico praticante e seu nome foi vetado. Agora é a vez de um pastor evangélico ser questionado para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. Perseguição religiosa?


A presidência da CDHM, pela proporcionalidade entre legendas, ficou com o meu partido, o PSC. A indicação do meu nome gerou um furacão de manifestações dissimuladas pela internet por parte de militantes da comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais). Algumas me acusaram de ser racista e homofóbico.


Tudo teve início quando postei na internet que os africanos são descendentes de um "ancestral amaldiçoado por Noé". Referia-me a uma citação bíblica, segundo a qual o filho de Noé, após ser amaldiçoado pelo pai, foi mandado para a África. A maldição foi quebrada com o advento de Jesus, que derramou seu sangue para nos salvar. Não usei a palavra negro, pois me referia a um povo definido por uma região e não pela cor de sua pele.


Sou pastor e prego para pessoas de todas as etnias. Nunca, nem antes nem depois desse episódio, fui considerado racista, inclusive porque corre em minhas veias sangue negro também. Amo o continente africano. Sou querido pelo povo de Angola, onde fiz trabalhos.


Sobre homossexuais, minha posição é mais tolerante do que se pode imaginar. Como cristão, aprendi no Evangelho que somos todos criaturas de Deus. Nunca me dirigi a nenhum grupo de pessoas com desrespeito. Apenas ensino o que aprendi na Bíblia, que não aprova a relação sexual nem o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Fora isso, a salvação está ao alcance de todos. Essa é a minha fé --só prego o amor e o perdão.


No entanto, esses militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que discordar de suas posições. Acusam de incitação à violência, o que qualquer pessoa isenta sabe que não é verdade. Mas, jogada ao vento, essa mentira causa estragos à imagem do acusado perante a opinião publica. Vivemos uma ditadura gay.


No ano passado, tentei participar de um seminário organizado pela CDHM e presidido pelo deputado Jean Wyllys. Apavorei-me com o tema: diversidade sexual na primeira infância. Fui recebido com palavrões pelos militantes GLBTT. Foi me dado um minuto para falar, mas não consegui. A militância não permitiu.


Foi desesperador ouvir dos que ali estavam que se um menino na creche, na hora do banho, quiser tocar o órgão genital de outro menino não poderia ser impedido. Afinal, segundo eles, criança não nasce homem nem mulher e sim gênero e se descobre com o tempo. Se forem impedidos na primeira infância, sabe-se lá o que pode acontecer...

A fúria deles é por saber que questiono suas pretensões. Defendo a Constituição e ela precisaria ser alterada para aprovar suas lutas.


Não se pode tratar naquela comissão apenas desses assuntos. É preciso isonomia. Outros grupos precisam de igual atenção.


Existem assuntos que caíram no esquecimento. Os brasileiros que estão aprisionados de maneira sub-humana em diversos países como imigrantes ilegais. A demarcação das terras dos quilombolas. O tráficos de mulheres e de órgãos. O atendimento das famílias dos autistas. Os portadores de necessidades especiais. Não basta aprovar leis, é preciso saber se estão sendo respeitadas.


Por que a CDHM não questiona o Executivo sobre manter relações comerciais com um país que condena à morte pessoas por sua opção religiosa ou sexual, como o Irã?


Essa comissão é muito mais importante do que discussões rasas. Peço a Deus sabedoria para levar adiante tão honrosa missão.


MARCO FELICIANO, 40, pastor evangélico, é deputado federal pelo PSC-SP


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CINISMO CRUEL


Graças ao jogo de interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo que o pastor e deputado Marco Feliciano presidirá a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.


Esse fato não é escandaloso --e eu não me oponho a ele-- pelo simples fato de ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição.


Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos.


Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que disse que o problema da África negra é "espiritual" porque "os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé", revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia, que já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros?


Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos.


Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas) decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as uniões homoafetivas como entidades familiares.


Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve proteger.


Eu me formei num cristianismo que acolhe os diferentes, respeitando sua dignidade. Eu me apaixonei na juventude por esse cristianismo que deu origem à Teologia da Libertação, que participou da luta contra a ditadura e que nos deu grandes referências.


O PSC, lamentavelmente, não tem nada a ver com isso. E Marco Feliciano menos ainda! Que ele seja o novo presidente da comissão é uma contradição: é como colocar à frente das políticas contra a violência de gênero um cara que bate na mulher.


É isso que milhares de brasileiras e brasileiros estão sentido nesse momento: que a Câmara bateu neles. Em nós --confesso que eu também senti. Às vezes, me pergunto o que estou fazendo aqui. Mas depois vejo a mobilização de milhares de pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!


JEAN WYLLYS, 38, é deputado federal pelo PSOL-RJ


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QUE COISA!


Eu não tenho muito o que discordar do que foi escrito pelo deputado Marcos Feliciano (PSC-SP) em seu artigo na Folha (06/Mar). Contudo ainda não ficou claro, a meu ver, a infeliz citação de "que os africanos são descendentes de um ancestral amaldiçoado por Noé". Houve um tentativa de esclarecer as coisas, mas o deputado apenas se enrolou mais. Disse que não usou a palavra negro, pois se referia "a um povo definido por uma região e não pela cor de sua pele". Então, brancos e negros africanos são realmente descendentes de um ancestral amaldiçoado?

Que ultraje, deputado!


VINICIUS MEDEIROS, 19, estudante


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E vocês, amigos, o que pensam? Convido todos e marco como sempre os que lembro: EdGilenoRafaelSou da PazDiegoDagmar.


### COMENTÁRIOS ###

Gileno Ranna Eu, se fosse deputado, não votaria em Feliciano para assumir uma comissão parlamentar como a que está em questão... Não porque ele é religioso, mas sim, porque ele é contra ao reconhecimento de determinadas liberdades civis comuns ao nosso tempo (de facto, eu compartilho da opinião do ex primeiro-ministro do Canadá, Pierre Trudeau: "there's no place for the state in the bedrooms of the nation")

Aproveitando que foi citado o Chalita em um outro caso: sou contra qualquer político no cargo que deve ser destinado a um tecnocrata, como o Ministério da Ciência e Tecnologia;
Rui Alberto Monteiro Rodrigues Democracia Representativa é isso aí: Quem se elege, deve representar alguém, alguma coisa... O QUÊ, EXATAMENTE? Ninguém sabe, porque após eleitos, a coisa se faz a portas fechadas, e se algo vaza é por sorte ou por ação de jornalistas... Nem eles se denunciam a si mesmos, de tão preocupados em cuidar da farta mesa em que passam o tempo. Na democracia participativa, pelo contrário, os cargos políticos perdem a importância e passam a ser "orientativos"... A população vota tudo o que hoje só eles votam.... Via redes sociais...OU seja.... Esse aí não seria mais que pau de galinheiro neste tipo de democracia...

Gileno Ranna Em resumo: Não acredito que deva haver um impedimento oficial quanto a quem deve assumir qualquer comissão do congresso, mas se a decisão fosse minha, uma pessoa como Feliciano ou Chalita jamais assumiriam os cargos, respectivamente a CDHM e o MCTI

Vinícius Medeiros Concordo sobre o Chalita e o MCT, Gileno. Mas não vejo impedimento contra o Marcos Feliciano, a não ser pelas declarações estúpidas contra homossexuais e ambíguas em relação aos negros. Ou melhor: africanos como ele disse se referir. Tentou se justificar, mas não conseguiu. Ainda assim, a função deve freá-lo e também suas convicções antes de qualquer pronunciamento. Hehe, Rui e sua esperança. Minha também, claro!

Gileno Ranna As convicções pessoais do Feliciano só podem ser levadas à prática e de forma oficial (ou seja, em forma de lei) em países como Irã, Paquistão e, mais recentemente, os países da "revolução árabe";

Vinícius Medeiros Digo que ele deve pensar duas vezes antes de qualquer decisão, sobretudo se ela estiver influenciada por suas convicções pessoais.

Racquell Narducci Concordo com o Gileno Ranna em muita coisa e sonho com o dia em que não precisaremos (será que algum dia precisamos mesmo?) de uma comissão destas...

Vinícius Medeiros Estou saindo, mas vão comentando aí que mais tarde eu apareço e leio todos.

Rui Alberto Monteiro Rodrigues Também vou... Mas fiquei com a sensação que tudo se resume no que postou a Racquell Narducci....

Dagmar Vulpi Este é um daqueles assuntos que por mais que se pondere, sempre haverá uma parte descontente. Tanto o deputado Marco Feliciano, que é pastor evangélico, quanto o deputado Jean Wyllys, foram eleitos para legislar para um todo, porém deixam claro que seu “trabalho” está diretamente voltado para grupos específicos. Se de um lado um defende os direitos de uma determinada minoria de brasileiros com suas opções sexuais, do outro a defesa é por opção religiosa, e entre estes dois grupos completamente heterogêneos existe um abismo de intolerâncias que impedem o consenso. 

E enquanto isso, como fica a outra parte que é a maioria?

Sou da Paz Falou tudo, Dagmar! Como alguém poderia trabalhar em favor do todo se é representante categórico de um grupo específico? A questão é: existe algum deputado que seja imparcial?

Ed Lascar Muito bom o debate que o Dagmar arrematou com uma síntese bem equilibrada. O pastor falou bobagem e deu uns volteios para se justificar. A verdade é que ele é mestiço de negro com branco ou seja: ele é filho destes mesmos amaldiçoados, descendência de Noé em degredo punitivo para a África. A Bíblia também aí erra, como tantas e tantas outras passagens. Todos somos africanos, dizem os cientistas. Todos somos amaldiçoados... ehehhehe..

Ed Lascar Não vejo o porquê, realmente, dele não assumir a pasta. É um colegiado; ele é apenas um voto entre tantos outros.

Carlos Mourão Só por ser um PASTOR já está implícito a b___ que é.


Carlos Mourão O Congresso Nacional jamais representou a vontade do povo. Não justifica termos este tipo de democracia. Mas isto tem explicação : o Congresso só tem 3 categorias do povo : a dos pastores evangélicos, os pecuaristas e os empresários. ENTONCE querem o que?

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