Nesta sexta edição do “Pescado no Facebook” houve um
repeteco de autores que já haviam colaborado em edições anteriores. Mais uma
vez selecionei publicações dos amigos Marcelo Siano Lima e Vinícius Medeiros.
Desta vez a indignação tanto do Marcelo quanto do Vinicius é
comum. Ambos tratam do desdobramento que está levando à escolha do nome para
presidir a comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados.
Marcelo Siano Lima – “Não
dá para termos uma chocadeira do 'ovo da serpente' ocupando a presidência de
tal comissão.”
Apesar de entender os jogos
políticos, não posso aceitar que os grandes partidos com assento na Câmara dos
Deputados tenham abdicado da presidência da Comissão de Direitos Humanos em
favor do PSC, uma sigla quase toda representada por fundamentalistas cristãos
protestantes.
Não há desculpas para esse absurdo,
para essa aberração política. A nós, cidadãos e cidadãs, defensor dos direitos
humanos, das liberdades civis, do estado laico, da democracia e das
instituições republicanas, integrantes de uma sociedade plural, cabe o dever de
protestar, de fazer ouvir alto nossa indignação e nossa contrariedade.
É preciso deter esse crescimento
fundamentalista, seja no voto, seja no controle de instituições e de
representações sociais, seja no comando de órgãos responsáveis pelo zelo dos
direitos humanos e da Constituição.
Não podemos admitir que a câmara dos
deputados, por quaisquer que sejam os argumentos que venham a ser levantados,
solape a constituição e atente contra os direitos humanos e as liberdades
civis. Vamos protestar, vamos radicalizar nossos protestos contra esse acordo
que entrega ao deputado de São Paulo a presidência de uma comissão tão
importante.
Não dá para termos uma chocadeira do
'ovo da serpente' ocupando a presidência de tal comissão.
Vinícius Medeiros - “Eu
não tenho muito o que discordar do que foi escrito pelo deputado Marcos
Feliciano (PSC-SP) em seu artigo na Folha (06/Mar). Contudo ainda não ficou
claro, a meu ver, a infeliz citação de "que os africanos são descendentes
de um ancestral amaldiçoado por Noé". Houve um tentativa de esclarecer as
coisas, mas o deputado apenas se enrolou mais. Disse que não usou a palavra
negro, pois se referia "a um povo definido por uma região e não pela cor
de sua pele". Então, brancos e negros africanos são realmente descendentes
de um ancestral amaldiçoado?
Que ultraje, deputado!”
O assunto desta quarta-feira da
seção Tendências/debates [e para comentarmos aqui no POLITICA E CULTURA] trata
sobre o imbróglio na escolha do presidente da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.
A indicação do pastor evangélico e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP)
para presidir a comissão gerou um furacão de manifestações por parte de
militantes da comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e
transexuais).
Segundo o pastor, militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que
discorde de suas posições. A comissão é mais importante que debates rasos.
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) destaca que graças ao jogo de
interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo que Marco Feliciano
presida a comissão.
Wyllys afirma que tenta representar aqueles que sempre receberam mais insultos
e porradas que direitos e estima.
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DITADURA GAY E OS DIREITOS
HUMANOS
Dias atrás, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) foi sugerido para o Ministério
da Ciência e Tecnologia. Houve protestos de alguns da comunidade científica pelo
simples fato de ele ser católico praticante e seu nome foi vetado. Agora é a
vez de um pastor evangélico ser questionado para presidir a Comissão de
Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. Perseguição
religiosa?
A presidência da CDHM, pela proporcionalidade entre legendas, ficou com o meu
partido, o PSC. A indicação do meu nome gerou um furacão de manifestações
dissimuladas pela internet por parte de militantes da comunidade GLBTT (gays,
lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais). Algumas me acusaram de ser
racista e homofóbico.
Tudo teve início quando postei na internet que os africanos são descendentes de
um "ancestral amaldiçoado por Noé". Referia-me a uma citação bíblica,
segundo a qual o filho de Noé, após ser amaldiçoado pelo pai, foi mandado para
a África. A maldição foi quebrada com o advento de Jesus, que derramou seu
sangue para nos salvar. Não usei a palavra negro, pois me referia a um povo
definido por uma região e não pela cor de sua pele.
Sou pastor e prego para pessoas de todas as etnias. Nunca, nem antes nem depois
desse episódio, fui considerado racista, inclusive porque corre em minhas veias
sangue negro também. Amo o continente africano. Sou querido pelo povo de
Angola, onde fiz trabalhos.
Sobre homossexuais, minha posição é mais tolerante do que se pode imaginar.
Como cristão, aprendi no Evangelho que somos todos criaturas de Deus. Nunca me
dirigi a nenhum grupo de pessoas com desrespeito. Apenas ensino o que aprendi
na Bíblia, que não aprova a relação sexual nem o casamento entre duas pessoas
do mesmo sexo. Fora isso, a salvação está ao alcance de todos. Essa é a minha
fé --só prego o amor e o perdão.
No entanto, esses militantes GLBTT rotulam como homofóbica qualquer pessoa que
discordar de suas posições. Acusam de incitação à violência, o que qualquer
pessoa isenta sabe que não é verdade. Mas, jogada ao vento, essa mentira causa
estragos à imagem do acusado perante a opinião publica. Vivemos uma ditadura
gay.
No ano passado, tentei participar de um seminário organizado pela CDHM e
presidido pelo deputado Jean Wyllys. Apavorei-me com o tema: diversidade sexual
na primeira infância. Fui recebido com palavrões pelos militantes GLBTT. Foi me
dado um minuto para falar, mas não consegui. A militância não permitiu.
Foi desesperador ouvir dos que ali estavam que se um menino na creche, na hora
do banho, quiser tocar o órgão genital de outro menino não poderia ser
impedido. Afinal, segundo eles, criança não nasce homem nem mulher e sim gênero
e se descobre com o tempo. Se forem impedidos na primeira infância, sabe-se lá
o que pode acontecer...
A fúria deles é por saber que questiono suas pretensões. Defendo a Constituição
e ela precisaria ser alterada para aprovar suas lutas.
Não se pode tratar naquela comissão apenas desses assuntos. É preciso isonomia.
Outros grupos precisam de igual atenção.
Existem assuntos que caíram no esquecimento. Os brasileiros que estão
aprisionados de maneira sub-humana em diversos países como imigrantes ilegais.
A demarcação das terras dos quilombolas. O tráficos de mulheres e de órgãos. O
atendimento das famílias dos autistas. Os portadores de necessidades especiais.
Não basta aprovar leis, é preciso saber se estão sendo respeitadas.
Por que a CDHM não questiona o Executivo sobre manter relações comerciais com
um país que condena à morte pessoas por sua opção religiosa ou sexual, como o
Irã?
Essa comissão é muito mais importante do que discussões rasas. Peço a Deus
sabedoria para levar adiante tão honrosa missão.
MARCO FELICIANO, 40, pastor evangélico, é deputado federal pelo PSC-SP
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CINISMO CRUEL
Graças ao jogo de interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo
que o pastor e deputado Marco Feliciano presidirá a Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Esse fato não é escandaloso --e eu não me oponho a ele-- pelo simples fato de
ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com
a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não
haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição.
Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de
minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da
dignidade humana desses grupos.
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que
disse que o problema da África negra é "espiritual" porque "os
africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé", revivendo uma
interpretação distorcida e racista da Bíblia, que já foi usada no passado para
justificar a escravidão dos negros?
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que
se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado que defende um
projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de Psicologia a aceitar supostas
"terapias de reversão da homossexualidade" anticientíficas e baseadas
em preconceitos.
Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de
santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos
da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um
olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas)
decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as
uniões homoafetivas como entidades familiares.
Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM
ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um
partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só
gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos
e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas
que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve
proteger.
Eu me formei num cristianismo que acolhe os diferentes, respeitando sua
dignidade. Eu me apaixonei na juventude por esse cristianismo que deu origem à
Teologia da Libertação, que participou da luta contra a ditadura e que nos deu
grandes referências.
O PSC, lamentavelmente, não tem nada a ver com isso. E Marco Feliciano menos
ainda! Que ele seja o novo presidente da comissão é uma contradição: é como
colocar à frente das políticas contra a violência de gênero um cara que bate na
mulher.
É isso que milhares de brasileiras e brasileiros estão sentido nesse momento:
que a Câmara bateu neles. Em nós --confesso que eu também senti. Às vezes, me
pergunto o que estou fazendo aqui. Mas depois vejo a mobilização de milhares de
pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar
aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e
estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!
JEAN WYLLYS, 38, é deputado federal pelo PSOL-RJ
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QUE COISA!
Eu não tenho muito o que discordar do que foi escrito pelo deputado Marcos
Feliciano (PSC-SP) em seu artigo na Folha (06/Mar). Contudo ainda não ficou
claro, a meu ver, a infeliz citação de "que os africanos são descendentes
de um ancestral amaldiçoado por Noé". Houve um tentativa de esclarecer as
coisas, mas o deputado apenas se enrolou mais. Disse que não usou a palavra
negro, pois se referia "a um povo definido por uma região e não pela cor
de sua pele". Então, brancos e negros africanos são realmente descendentes
de um ancestral amaldiçoado?
Que ultraje, deputado!
VINICIUS MEDEIROS, 19, estudante
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E vocês, amigos, o que pensam?
Convido todos e marco como sempre os que lembro: Ed, Gileno, Rafael, Sou da Paz, Diego, Dagmar.
### COMENTÁRIOS ###
Gileno Ranna Eu, se fosse deputado, não
votaria em Feliciano para assumir uma comissão parlamentar como a que está em
questão... Não porque ele é religioso, mas sim, porque ele é contra ao
reconhecimento de determinadas liberdades civis comuns ao nosso tempo (de
facto, eu compartilho da opinião do ex primeiro-ministro do Canadá, Pierre
Trudeau: "there's no place for the state in the bedrooms of the
nation")
Aproveitando que foi citado o Chalita em um outro caso: sou contra qualquer político no cargo que deve ser destinado a um tecnocrata, como o Ministério da Ciência e Tecnologia;
Rui Alberto
Monteiro Rodrigues Democracia
Representativa é isso aí: Quem se elege, deve representar alguém, alguma
coisa... O QUÊ, EXATAMENTE? Ninguém sabe, porque após eleitos, a coisa se faz a
portas fechadas, e se algo vaza é por sorte ou por ação de jornalistas... Nem
eles se denunciam a si mesmos, de tão preocupados em cuidar da farta mesa em
que passam o tempo. Na democracia participativa, pelo contrário, os cargos
políticos perdem a importância e passam a ser "orientativos"... A
população vota tudo o que hoje só eles votam.... Via redes sociais...OU
seja.... Esse aí não seria mais que pau de galinheiro neste tipo de
democracia...
Gileno Ranna Em resumo: Não acredito que
deva haver um impedimento oficial quanto a quem deve assumir qualquer comissão
do congresso, mas se a decisão fosse minha, uma pessoa como Feliciano ou
Chalita jamais assumiriam os cargos, respectivamente a CDHM e o MCTI
Vinícius Medeiros Concordo sobre o Chalita e o
MCT, Gileno.
Mas não vejo impedimento contra o Marcos Feliciano, a não ser pelas declarações
estúpidas contra homossexuais e ambíguas em relação aos negros. Ou melhor:
africanos como ele disse se referir. Tentou se justificar, mas não conseguiu.
Ainda assim, a função deve freá-lo e também suas convicções antes de qualquer
pronunciamento. Hehe, Rui e sua esperança. Minha também, claro!
Gileno Ranna As convicções pessoais do
Feliciano só podem ser levadas à prática e de forma oficial (ou seja, em forma
de lei) em países como Irã, Paquistão e, mais recentemente, os países da
"revolução árabe";
Vinícius Medeiros Digo que ele deve pensar duas
vezes antes de qualquer decisão, sobretudo se ela estiver influenciada por suas
convicções pessoais.
Racquell Narducci Concordo com o Gileno Ranna em
muita coisa e sonho com o dia em que não precisaremos (será que algum dia
precisamos mesmo?) de uma comissão destas...
Vinícius Medeiros Estou saindo, mas vão
comentando aí que mais tarde eu apareço e leio todos.
Rui Alberto
Monteiro Rodrigues Também
vou... Mas fiquei com a sensação que tudo se resume no que postou a Racquell
Narducci....
Dagmar Vulpi Este é um daqueles assuntos
que por mais que se pondere, sempre haverá uma parte descontente. Tanto o
deputado Marco Feliciano, que é pastor evangélico, quanto o deputado Jean
Wyllys, foram eleitos para legislar para um todo, porém deixam claro que seu “trabalho”
está diretamente voltado para grupos específicos. Se de um lado um defende os
direitos de uma determinada minoria de brasileiros com suas opções sexuais, do
outro a defesa é por opção religiosa, e entre estes dois grupos completamente
heterogêneos existe um abismo de intolerâncias que impedem o consenso.
E enquanto isso, como fica a outra parte que é a maioria?
Sou da Paz Falou tudo, Dagmar! Como
alguém poderia trabalhar em favor do todo se é representante categórico de um
grupo específico? A questão é: existe algum deputado que seja imparcial?
Ed Lascar Muito bom o debate que o
Dagmar arrematou com uma síntese bem equilibrada. O pastor falou bobagem e deu
uns volteios para se justificar. A verdade é que ele é mestiço de negro com
branco ou seja: ele é filho destes mesmos amaldiçoados, descendência de Noé em
degredo punitivo para a África. A Bíblia também aí erra, como tantas e tantas
outras passagens. Todos somos africanos, dizem os cientistas. Todos somos amaldiçoados...
ehehhehe..
Ed Lascar Não vejo o porquê, realmente,
dele não assumir a pasta. É um colegiado; ele é apenas um voto entre tantos
outros.
Carlos Mourão Só
por ser um PASTOR já está implícito a b___ que é.
Carlos Mourão O Congresso Nacional jamais
representou a vontade do povo. Não justifica termos este tipo de democracia.
Mas isto tem explicação : o Congresso só tem 3 categorias do povo : a dos
pastores evangélicos, os pecuaristas e os empresários. ENTONCE querem o que?
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Dag Vulpi