Clientes pagariam pelas consultas e as
mensalidades dos planos valeriam apenas para custear os procedimentos, defende
Roberto D'Ávila, do Conselho Federal de Medicina, que quer mudança o quanto
antes; tema não foi discutido entre membros do CFM
O presidente do Conselho Federal de
Medicina (CFM), Roberto D’Ávila, quer que médicos de planos de saúde passem a
cobrar seus pacientes pelas consultas. "A ideia é que eles se desvinculem
dos planos para esse tipo de atendimento. O credenciamento passaria a valer
apenas para outros procedimentos", defende.
A estratégia, uma forma de driblar os
baixos honorários pagos pelas operadoras, teria uma limitação: ela não poderia
ser adotada por profissionais que atendessem nos hospitais dos planos de saúde
ou por médicos contratados. O tema ainda não foi discutido entre integrantes do
colegiado. "Mas estou divulgando a ideia. Meu sonho é que isso seja feito
o mais brevemente possível", completou.
A sugestão vem à tona quase dois meses
depois da aprovação no CFM de uma recomendação liberando médicos de planos de
saúde a cobrar um adicional pelo acompanhamento de gestantes durante o parto
normal. A diferença é que, no caso do acompanhamento de gestantes, o médico
receberia uma parte dos honorários da paciente e outra, do plano. No caso das
consultas, apenas do paciente.
D’Ávila considera um equívoco médicos
aceitarem receber de R$ 30 a R$ 40 dos planos por consulta e, no atendimento
particular, cobrar pelo menos R$ 150. "Os reflexos disso são
evidentes", constata D’Ávila.
Ele observa que pacientes de convênios têm
atendimentos rápidos, que não ultrapassam 10 minutos. Já a consulta de um
paciente particular pode durar em média meia hora. "Isso não é bom para o
profissional, não é bom para o paciente."
O presidente do CFM diz não haver empecilho
para que o descredenciamento para atendimento de consultas seja realizado.
"Em boa parte dos casos, não há contrato entre operadora e prestador de serviço.
Os termos são antigos, não foram renovados e, consequentemente, não têm
validade", assegura - um argumento que ainda desperta dúvida mesmo dentro
do CFM.
As alternativas que passam a ser discutidas
pelo conselho surgem quase dois anos depois do início da movimentação para
elevar os honorários pagos pelas operadoras aos médicos. Entre as estratégias
apoiadas pelas entidades de classe estão as suspensões temporárias de
atendimentos a pacientes de planos. As paralisações ocorrem geralmente com
especialidades determinadas e não atingem o atendimento de emergência.
Os protestos, no entanto, até agora
trouxeram poucos resultados práticos. Na semana passada, a superintendência do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendou que associações médicas
de vários Estados - incluindo conselhos regionais - fossem condenadas pela
prática de crime econômico. "Vamos continuar lutando", disse D’Ávila.
Em novembro, o CFM liberou que médicos de
convênio passassem a cobrar de gestantes um valor pelo acompanhamento durante o
parto normal. "O contrato do profissional com a operadora prevê o
recebimento pelas consultas e pelo procedimento do parto em si, mas não pelo
acompanhamento", afirmou na ocasião o coordenador da Câmara Técnica do CFM
Gerson Zafalon. Polêmica, essa cobrança foi considerada abusiva pela advogada
do Instituto de Defesa do Consumidor, Joana Cruz, e atualmente está em
discussão na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Via (Estadão)
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