As internações compulsórias ou
involuntárias de dependentes químicos na região da Cracolândia começam nesta
segunda-feira (21/01) por meio do trabalho conjunto de profissionais da saúde, do
Ministério Público, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). A medida foi oficializada pelo governo do Estado no
último dia 11, com o objetivo de dar apoio aos usuários de drogas, fornecendo
principalmente tratamento ambulatorial e fazendo o maior número possível de
internações voluntárias.
De acordo com a secretaria estadual
de Justiça, haverá um plantão jurídico no Centro de Referência de Álcool,
Tabaco e Outras Drogas (Cratod), no bairro do Bom Retiro, com juízes,
promotores públicos e advogados designados pela OAB. O funcionamento será de
segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 13h. A operação começa pelo próprio
bairro, com os agentes percorrendo toda a região para avaliar quais são os
dependentes químicos em maior situação de risco e sem consciência de seus atos.
Eles serão dirigidos à internação compulsória ou involuntária somente depois de
uma avaliação médica e judicial.
O professor titular de psiquiatria
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Laranjeira, mostrou-se
favorável à medida. Segundo ele, os dependentes químicos que estão muito
envolvidos com drogas, principalmente com o crack, perdem a consciência.
"Isso já vem acontecendo há um bom tempo e temos que entender o que é
compulsória, que é o determinado pela Justiça, e involuntária, que é feita pelo
médico e família. No estado de São Paulo já temos cerca de 700 leitos
especializados e metade já estão sendo ocupados pelas vagas compulsórias ou
involuntárias."
Para Laranjeira, o que se propõe com
esse projeto é uma melhor sistematização da lei, começando por um região onde
há pessoas em condição crítica de saúde mental e física e apurando a
necessidade da internação. "Isso nada mais é do que cuidados mais
intensivos. As classes média e alta, que têm dinheiro, já fazem internação
involuntária e compulsória o tempo todo. É um direito das pessoas que só contam
com o Sistema Único de Saúde (SUS), como é o caso da Cracolândia, receber esse
cuidado extremo."
O vice-presidente do Conselho
Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP), Marcos Valdir Silva, avalia
justamente o contrário. Para ele, a retirada e a internação compulsória desses
dependentes não passa de uma política de higienização do centro da cidade.
"Defendemos que haja políticas públicas integradas e não só uma ação
repressora, que não foi discutida com a sociedade e profissionais da área, e
que no fundo só quer resolver a ponta do iceberg e buscar uma solução para
aqueles que estão gerando problema coletivo."
Silva avalia que as internações
compulsórias vão criar grandes e lotados manicômios. Segundo ele, uma solução
para evitar isso é difícil, mas deve começar com investimentos na prevenção do
uso de drogas, nos centros de apoio psicossocial, além do cumprimento do que
está previsto na lei no que se refere à dependência química. "A internação
compulsória reprime. O dependente de drogas precisa de tratamento e não ser
privado de liberdade e ser submetido a um tratamento." Para Silva, ao sair
d internação compulsória é certo que o paciente recaia na dependência química.
O vice-presidente da Comissão
Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB, Ariel de
Castro Alves, ressaltou que os dois tipos de internação estão previstos na lei
e podem ser aplicados, com a ressalva de que não sejam usados como limpeza
social. "A internação involuntária ou compulsória só deve ser aplicada nos
casos crônicos que já foram atendidos em vários programas sociais e de saúde
pública sem efeito. Nesses casos, a última tentativa é essa intervenção
excepcional para tentar salvar a pessoa."
Segundo Ariel, é preciso levar em
conta que se todas as tentativas não surtirem efeito muitos desses dependentes
químicos podem cometer crimes e ir para as penitenciárias ou mesmo serem
assassinados na rua. "O papel do poder público é garantir a proteção e o
bem estar social das pessoas. Se as medidas forem no sentido de garantir a
proteção social como última saída para salvaguardar a vida é pertinente, mas
deve ser feita uma análise individual e não generalizada, com as pessoas sendo
recolhidas à força", disse.
Agência Brasil
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