Empresário
acolhe queixas contra agentes e ajuda detentos da Penitenciária da
Papuda
BRASÍLIA
- Preso há mais de 200 dias na Penitenciária da Papuda, o
empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, importou
para dentro da prisão a experiência e liderança que usou para
comandar um esquema que movimentou R$ 84 bilhões nos últimos dez
anos e envolveu uma rede de parceiros, segundo a CPI. Apontado como
chefe da máfia dos caça-níqueis pela Polícia Federal (PF) e pelo
Ministério Público (MP), Cachoeira tornou-se líder informal dos
detentos do presídio: centraliza queixas contra a direção e os
agentes, declama direitos humanos e faz as vezes de assistente social
de presos e de seus familiares.
A
ascensão do bicheiro na cadeia alertou o sistema de inteligência da
Secretaria de Segurança do DF, que o colocou em isolamento. Nas
últimas semanas, o Estado ouviu relatos de carcereiros e advogados
que reconstituem o papel do contraventor dentro do presídio.
Cachoeira
ocupa hoje sozinho uma cela. Antes do preso famoso, o local era
ocupado por um detento com problemas mentais, que acabou por deixar
um rastro de sujeira e odor forte. Passa quase todo o tempo sem
camisa, com o corpo 16 quilos mais magro à mostra. A bermuda, levada
pela família, quase não para, está frouxa.
Cachoeira
não fica quieto. Caminha de um lado para o outro, conversa, planeja
e garante: "Na próxima segunda, saio daqui". Sempre foi
elétrico. As investigações da PF mostram que o dia do empresário
começava bem cedo - por volta das 6h já começava a ligar para os
aliados - e terminava tarde. Dormia pouco e, agora na cadeia, tem
tido dificuldades para cair no sono e conta com a ajuda de
medicamentos.
No
início da prisão, Cachoeira chegou a dividir cela com outros réus
da operação Monte Carlo. Quase nove meses depois da operação,
apenas ele e Gleyb Ferreira da Cruz, braço direito de Carlinhos,
permanecem presos.
Na
Papuda, o empresário ainda resiste a algumas "regras",
como abaixar a cabeça para agentes e autoridades. Tido como
arrogante por uns e boa praça por outros, Cachoeira responde a
processos internos por desacato e não é estranho responder às
ordens dos agentes ou mesmo instigar outros presos a questionarem os
comandos. Contudo, seu olhar já começa a mirar o chão de cimento.
Congelados.
O
empresário se recusa a comer a quentinha da Papuda. Alimenta-se de
produtos congelados vendidos na unidade penitenciária ou trazidos
por familiares. Recebe quinzenalmente a visita da mulher Andressa
Mendonça, atribuindo a ela o papel de "primeira dama dos
presos". Cabe a Andressa, a musa da CPI, atender aos pedidos dos
detentos e seus familiares que vão de cestas básicas a orientações
jurídicas.
Entre
as celas, os dois protagonizam juras de amor e brigas. Em uma das
discussões, Andressa jogou a aliança no chão e bradou que não
teria medo de largá-lo. "Já deixei o pai dos meus filhos",
disse referindo-se ao atual senador Wilder Morais (DEM-GO), que
assumiu o cargo depois da cassação de Demóstenes Torres.
Cachoeira
também recebe constantemente a visita da ex-mulher Andreia Aprígio,
com quem tem três filhos. A advogada é dona do Laboratório
Vitapan, que segundo as investigações lavava dinheiro da
organização criminosa.
O
advogado de Cachoeira, Nabor Bulhões, afirma que o empresário não
tem qualquer liderança na cadeia. "É uma pessoa muito
preocupada com os outros e ele nem teria como prestar qualquer
assistência," destaca. Seu cliente também não teria problemas
de mau comportamento. "Houve um caso isolado e que já foi
esclarecido em que Carlos estava apenas tentando preservar os outros
presos de assistirem um programa de televisão muito violento."
Na
última semana, o Tribunal Regional Federal concedeu mais um habeas
corpus para Cachoeira. Porém, ele permanece preso por força de uma
decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) na
operação Saint Michel. Agora o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
deve analisar novo pedido de liberdade da defesa. A prisão é
insustentável, segundo a defesa, e fere o princípio da isonomia.
Alana
Rizzo - (O Estado de S. Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi