Crônica de *Henrique Gomes
Fingia
a felicidade, pensava que ela estava tão perto que se eu esperasse com calma e
um belo sorriso ela se chegaria mais e eu a agarraria com todas as forças, mas
a felicidade às vezes pode rir de sua cara.
Olhei
para um lado, mas tive preguiça de olhar para o outro. Fiquei na janela aqueles
poucos segundos pensando, mas cansei e fui fazer minha caminhada matinal. Não
me concentrava, o calçadão de Ipanema parecia um tanto leve naqueles dias,
também um tanto instável. Logo meus devaneios foram interrompidos pelo Jorge –
um grande fã do Chico Buarque – me chamou a atenção, para conversar de novo
sobre música, falei um pouco, mas minha atenção foi passada para os seus
cansados olhos, eles ainda brilhavam, será que a música fazia isso? Acho que
preciso ouvir mais sambas. Voltei à realidade, me despedi do Jorge, Jorge
Maravilha como eu o chamava por causa de uma canção do Chico Buarque. Caminhei
por todo o calçadão sem pensar em nada importante e fui pra casa.
Fui
ao banheiro tirar o suor, e me lembrei dele, não das coisas ruins, apenas das
boas, de seu corpo junto ao meu, de seu amor acariciando meus lábios e consumei
o pecado ali mesmo no banheiro.
Tantas
vezes ele me traíra, e voltava com aquele sorriso cínico, mas era tão
bonitinho, não resistia e me entregava mesmo sabendo de suas traições...
Tomei
o meu café quentinho, li minhas revistas, mas faltava qualquer coisa naquela
mesa, qualquer coisa de força, de amor, mas não quis pensar nisso, prestei
atenção em uma matéria que dizia que o Justin Bieber assumia sua
homossexualidade, ri, como é possível! Tão novinho. Acabei e voltei a meus
afazeres naquele domingo, o ar do nosso apartamento estava tão... Que nosso?
Meu apartamento! Penso em cada coisa – O telefone toca – Alô?
-
Oi amiga, se eu posso ir hoje à noite pra o clubinho? Claro que posso, não
comece sem mim.
Bom,
o dia começou tenho várias coisas a fazer, tipo ser feliz. Mas... Onde está a
felicidade? Em Deus? Nos amigos? Família? Nas grandes ou pequenas coisas? Mas
afinal, o que é a felicidade? Seu pensamento foi interrompido por uma resposta
já pronta que pairava em seu subconsciente: Não quero saber o que é e nem de
onde vem, apenas quero ela. Mas bem, vou à praia, pensar demais enlouquece. Ali
estava o Jorge com seu velho e afinado violão.
-
Jorge Maravilha! Ainda aqui homem?
-
Tomando umas cachacinhas aqui, a patroa tá brigada comigo. (Risos)
-
Fizesse o que dessa vez homem? (risos)
-
Cheguei bêbado em casa, acho que ela vai brigar de novo comigo hoje, mas ela
sabe que eu bebo por causa dela – Jorge deu uma gargalhada, mas bem melódica –
Mas ainda amo aquela vaquinha, todos os dias meus olhos brilham a vê-la.
- Está embriagado mesmo homem, chamando a própria mulher de vaquinha – os dois riram – Logo Jorge interrompeu:
- Está embriagado mesmo homem, chamando a própria mulher de vaquinha – os dois riram – Logo Jorge interrompeu:
-
É. Mas só bem longe dela. (Risos)
Os
sinos da igreja replicaram, eram 12:00 horas. Parece que os sinos me levaram a
novos devaneios, não sei, será casamento? Não, não com ele.
-
É, mas eu amo ela realmente, a gente briga mais “nóis” se ama.
-
O que? O que você falou? Ah! Sim. Só é bom assim, do que seria o amor sem
aquelas briguinhas pra apimentar a relação?
-
É verdade... Mas, pra onde você estava indo?
-
Ia à praia, mas o papo aqui está tão bom, estou com vontade de ouvir seus
sambas, sabe tocar algum rock não?
-
Aprendi alguns, meu filho Diego, ele gosta muito desses barulhos, mas tem umas
musicas até legais..
Conversamos
um monte de coisa, o Jorge é até um bêbado bastante sóbrio. Os sinos da igreja
replicam mais uma vez.
-
“Eita!” Já são 13:00 horas , vou indo, essa hora o sol está excelente, e a água
do mar bem quentinha. Tchau Jorge Maravilha.
-
Tchau! Até mais, escute aquele CD que lhe indiquei, muito bom ele.
- Vou sim! Até mais.
- Vou sim! Até mais.
Forrei
a toalha naquela confortável areia, e sentia que todos os homens me olhavam,
não sei se estavam admirados, ou qualquer outra coisa, mas não quis nem saber,
o sol estava me dando uma bela dose de alegria, acho que eram as vitaminas “D”.
Vou pra casa, já são quase 15:00 horas, tenho que escolher uma boa roupa para
hoje a noite.
Ah! Lar doce lar – Me parece tão fraco, tão sem sustança, tão morto, do que essa casa precisa? – Vou mudar esse sofá de lugar, acho que vai ficar mais bonito atrás dessa mesinha, é, vou fazer isso. Aquela estante ali ficaria melhor naquele lugar! – Mas logo me lembrei de que não conseguiria arrastar aqueles móveis pesados sem ele, ainda preciso dele? Não! Por que ainda penso nisso? Já faz três dias que dei um pé na bunda dele, não o quero mais. – Com o olhar distante fui escolher a roupa pra ir à festinha, mas ainda estava cedo, vou ver o que tem na TV. Faustão? Esse cara ainda existe é? Parece-me que os anos dourados da TV já se passaram.
Vou
pra o Facebook sempre tem coisa boa lá. Puxa! Todas essas pessoas em
relacionamentos sérios? Que povo feliz, será que eles agarraram forte mesmo a
felicidade – Mas parece que com a tristeza tudo fica entediante, até mesmo o
bom e velho facebook – Vou ouvir o disco que o Jorge Maravilha me indicou, vou
fazer o download, como era mesmo o nome? Meu Caro Amigo do Chico Buarque, vamos
ouvir.
Mulheres
de Atenas, Olhos nos Olhos? Que duas músicas mais machistas – Elas não têm
sonhos só tem presságios, o que isso quer dizer? Que louco. – A mulher da música
Olhos nos Olhos deve ser bem fraca, mulher fraca! Mas, gostei do Chico Buarque
vou ouvir mais CDs dele depois... Como um homem entende tão bem as mulheres? –
Não se deu conta que acabara de chamá-lo de machista – Depois ouço mais.
Que horas são? Meu Deus! Tudo isso? Vou me aprontar. No banho cantarolando aquelas músicas e pensando naquele vagabundo o pecado no banheiro era inevitável, mas consegui me segurar. Com qual roupa vou? Com essa aqui! Sim, está perfeita.
Será que tem gasolina? Tem. Bom, estou perfumada e linda, possa ser que o amor esbarre em mim hoje. Cheguei – cruza os dedos – Que de tudo certo hoje.
- Oi Bety, já começou a festinha?
-
Nada, só começa quando você chega.
Dancei,
pulei, brinquei, mas não amei. Acabou a festa, me despedi, estava quebrada, só
quero a minha caminha, estou morrendo de sono.
Ah!
Finalmente cheguei. Cadê essas chaves? Estão aqui. Abri a porta, não, não,
como? Ele estava ali sentado vendo TV, tinha mudado o sofá e a estante como eu
queria...
- Oi amor já chegou?
-
Que amor que nada, como você entrou? Isso é invasão de domicilio, já esqueceu
que não te amo mais?
-
Eu tinha uma chave extra, e não esqueci, por isso vim aqui, quero que você me
ame novamente, não vivo sem o seu amor sem me afagar.
Naquele
momento não sabia o que fazer aqueles olhinhos infantis me deixavam tonta...
- Saia daqui. (com voz chorosa)
- Saia daqui. (com voz chorosa)
-
Angélica! Eu te amo, não vivo sem você, por favor, me ensine a te amar mais
fortemente, quero estar com você, quero ser seu, quero ser com você!
Não pensei muito, apenas pulei em seus braços e o beijei, o amei, amei mais,
mesmo sabendo que no próximo domingo ele voltaria a fazer as mesmas coisas que
sempre fazia... Mas... Será que eu sou também uma daquelas mulheres fracas das
canções daquele homem? Não importa, contanto que eu seja feliz. Entreguei-me
nos braços dele, eu o amo... Apesar de tudo o amo... Ele me faz feliz, será
isso a felicidade?
*Henrique Gomes - Tem 14 anos, mora em Paulista, Pernambuco, Brasil e acredita que no Socialismo os seres humanos podem viver felizes compartilhando o mundo com igualdade, sem utopia.
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