Em seus
estudos sobre o inconsciente, Freud traça um paralelo entre a estória de
Édipo Rei, da antiga Grécia, e a formação do psiquê humano; lançando as
bases do que viria a ser denominado Complexo de Édipo.
Desde a sua
formulação pelo velho Freud, estudiosos vem se debruçando sobre o tema,
aprofundando as reflexões de mestre.
O complexo de
Édipo se desenvolve ao longo da vida do indivíduo.
Caracterizado
pelo escolha que o indivíduo deve fazer, perante o conflito entre as
exigências impostas por forças exógenas (Família, sociedade, religião, leis, etc...),
de continência ao prazer individual, e o desejo do indivíduo
pelo prazer sem limites; o Édipo mal resolvido pode ser fonte de
angustias, neuroses, perversões e outras formas de distúrbios psíquicos e de
comportamento.
No seu
processo de amadurecimento, Paradoxalmente, o indivíduo opta
em limitar o seu prazer pela garantia de manutenção do próprio prazer, ou,
pelo menos, de parte do prazer que lhe é permitido por essas mesmas forças
exógenas (Do convívio social, da aceitação, integração no grupo a que pertence,
etc....) passa a ser garantido quando o indivíduo limita-se a obter esse prazer
dentro das limitantes que lhe são impostas. Essa submissão é uma das possíveis
saídas do Édipo e se dá na infância; sendo chamada de latência.
Através da
abstinência, ou a da continência dos prazeres (Ou de situações prazerosas),
abstendo-se de obter prazer de modos e em condições que não lhe são permitidos,
o indivíduo mantém a possibilidade de obter prazeres que não lhe são negados;
ou até mesmo oferecidos em contrapartida aqueles que ele se abstém de
obter voluntariamente.
No modelo de
Édipo criado por Freud, a busca do prazer é representada pelo desejo para com a
mãe; e a sua negação pelas forças exógenas é representada pela figura paterna;
que, detentora do poder, afasta a criança da mãe (Sua fonte de prazer); havendo
a disputa entre os dois pelo tempo dispensado pela mesma.
Dessa forma,
as situações de negação de prazer por forças externas, é remetido à situações
vivenciadas na infância de disputa da criança com o pai pelo tempo e atenção
que lhe é dada pela mãe.
No clássico
grego, a saída do Édipo se dá quando o filho (Édipo) mata o próprio pai
(Lion) e toma a própria mãe (Jocasta). Esse ato tem como consequência o
condenar de Édipo a vagar sozinho sem rumo após ele mesmo ter furado os
seus próprios olhos em castigo.
Assim, o
clássico de Édipo Rei, nos remete ao aviso de que, a procura do prazer sem
restrições, sem considerar o outro (Nos tornando cegos para o mundo à nossa
volta) nos leva inexoravelmente à solidão pela exclusão do convívio social, o
qual deixamos de respeitar na nossa procura por esse mesmo prazer.
Creio que a
saída saudável para o Édipo é o indivíduo, ao se tornar adulto,
entender que as regras (Forças exógenas) não tem caráter onipotente; ou seja:
As regras são referenciais feitas pelas Homens (Seres humanos ADULTOS) para a
manutenção do convívio social e podem (E devem) ser negociadas entre os membros
de uma mesma sociedade. Ao tomar o seu lugar na sociedade, como ser humano
adulto, a ex-criança, agora adulta, se torna também PAI (Inclusive no sentido
biológico), emanador das regras negociadas com seus iguais.
Entendido tudo
isso, gostaria de analisar uma situação especial de Édipo que é o PAI AUSENTE.
Não raro,
dentro da nossa sociedade, a figura do PAI AUSENTE se dá ou por separação ou
por morte do mesmo. O PAI AUSENTE, dependendo da família, pode se tornar MAIS
PRESENTE do que se fisicamente estivesse convivendo com a família em sua
normalidade.
O que
apelidarei aqui de "SINDROME DO PAI AUSENTE" se dá quando, ao
sentir-se impotente para a manutenção da disciplina da prole, a mãe evoca a
presença de um PAI VIRTUAL, que passa a existir dentro da família. Frases como:
SE O SEU PAI ESTIVESSE AQUI... ou O SEU PAI MANDOU..... ou NEM PARECE QUE É
FILHO DE FULANO.... E assim por diante incutem na criança um PAI VIRTUAL sempre
presente e muito mais "castrador" do que um pai físico, com o qual
ele possa se confrontar na procura de seus limites e identidade.
Dessa forma, o
PAI AUSENTE se torna na verdade um PAI UNIPRESENTE; existente em todo o lugar; virtuoso
e sem defeitos, incansável e imbatível; que o filho, por nunca poder derrotar
ou superar, se rende e se submete. Esse "super pai" acompanha o seu
filho por toda a vida; que procurando "agradá-lo", para obter a sua
aprovação (Que nunca conseguirá), se torna o exemplo de "bom filho";
sempre obediente às regras, as leis, aos horários; se submetendo à imposição
das forças exógenas; gerando o que se pode chamar da "SINDROME DO ETERNO
FILHO".
A "Síndrome
do Eterno Filho", na vida adulta, é reforçada com elogios tais como
"Seu pai ficaria orgulhos de você". "Você é um modelo para os
seus irmãos e colegas". "Queria ter um filho assim". "Você
é o filho que eu nunca tive"; e assim por diante. Além de reforços externos,
o indivíduo se vê compelido a continuar como ETERNO FILHO pelas vantagens que
isso lhe trás; tais como:
1) Ele não tem
que assumir uma posição de adulto; fazendo escolhas (Uma escolha sempre implica
em não realizar uma das possibilidades- Aquela preterida- E por isso gera um
sentimento de perda).
2) O indivíduo
NUNCA É CULPADO; pois se sempre faz o que lhe pedem, ele não pode ser culpado
pelas consequências do que advém de errado na sua vida. Assim o culpado é
SEMPRE O OUTRO.
3) O indivíduo
não necessita pensar; somente obedecer. Alguém sempre lhe dirá o que fazer.
4) Sentimento
de impotência para resolver os problemas sociais e institucionais (Afinal a
sociedade e as instituição são o grande "pai" , e não se deve
desafiar o pai).
Dessa feita;
deve-se lembrar que, nos dias de hoje, o pai está AUSENTE não somente por
condições de morte ou separação. Em muitas famílias, hoje temos pais que, mesmo
vivos e casados, se encontram ausentes; não participando da vida familiar;
repassando esse modelo para os seus filhos. O pai ausente é uma das poucas
condições que não permitem a saída completa do Édipo; podendo desencadear esses
e outros problemas da "sindrome" acima; fazendo com que a pessoa se
torne o "eterno filho"; sem assumir a sua posição de adulto
responsável e SUJEITO do próprio DESTINO. É o sentenciar do sujeito á eterna
posição de vítima; de objeto e força de manobra das instituições, que em nossa
sociedade se encontra tomada por forças inenarráveis.
Assim, por ser
potencialmente benéfico aos sistemas (Que são PAIS SEMPRE PRESENTES), a
"sindrome do pai ausente" pode estar sendo introjetada dentro da
nossa sociedade por grupos que tem muito a ganhar com isso (Creio que mesmo que
inconscientemente, todos nós procuramos aquilo que nos traz prazer e
felicidade). Fica aqui um ponto de alerta e reflexão para os psicólogos e pais:
Estamos formando uma sociedade de "ETERNOS FILHOS".....
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi