Entretanto, os custos de reação à crise poderão levar a mais inflação no médio prazo. O cenário está montado para tal.
Nos últimos dias, o governo tem anunciado uma intenção clara em manter o padrão de crescimento utilizando o que não pode usar ativamente em 2008: a taxa de juros.
Naquela crise, o Banco Central parecia mais blindado contra investidas do restante da equipe econômica, o que era respaldado pelo presidente Lula. Tanto foi que a política fiscal foi usada intensamente.
Dessa vez, não há amarras nem na política monetária nem na fiscal. Deveríamos, assim, imaginar que a reação dessa crise poderá demandar mais queda de juros do que seria o necessário.
Isso significa dizer que é muito provável esperarmos que a Selic caia em 2012. Não devemos esperar, contudo, que a política fiscal faça o contraponto contracionista. Pelo contrário, um ativismo do BNDES junto com a volta dos gastos de custeio e capital em 2012 é mais do que esperado.
O governo usará como argumento dessa nova política a crise externa. Mas salvo uma piora significativa, que leve a uma quebra de banco e uma paralisação do crédito como em 2008, é mais provável um cenário de recessão forte, mas não de ruptura.
Sendo assim, parece mais provável que as condições domésticas de crescimento permaneçam. É verdade que parece haver uma intenção dos bancos em controlar um pouco o crescimento do crédito.
Mas a expansão da renda e do emprego não parecem ceder ao mesmo tempo em que há sugestões de novos programas, como um Bolsa Família para a classe média, na forma de abono salarial explicito no contracheque. Momento mais oportuno do que uma crise seria absolutamente impossível.
Toda essa vontade de querer ajustar a economia não deve funcionar a contento.
Primeiro, baixar muito a Selic agora tem empecilhos como a taxa de juros da poupança. Politicamente difícil de mudar a legislação com um governo que já se mostra tão fraco no Congresso.
Segundo, o resultado disso poderá ser uma inflação inexoravelmente mais forte em 2013 e 2014, anos pré-eleição presidencial e Copa.
O importante disso tudo é que a ideia de baixar a taxa de juros ao mesmo tempo em que se faz um forte ajuste fiscal é a política dos sonhos de todo economista. Exemplos de que funcionou não faltam, como na Irlanda da década de 80 e o Canadá na década seguinte.
O problema é acreditar que esse ajuste fiscal de fato se manterá com toda a programação esperada de gastos para os próximos anos e um governo muito desejoso de baixar a Selic rapidamente.
Além disso, a pressão do crescimento econômico também ocorre no déficit em transações correntes. Teremos menos exportação de manufaturados nos próximos anos por conta da desaceleração estrutural dos países desenvolvidos; uma tendência da China focar países que estão crescendo para suas exportações, como o Brasil.
Com todo esse cenário pelo caminho, 2015 promete ser um ano de ajuste forte.
Fonte: Brasil Econômico, 15/08/2011
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