Agrava-se o ambiente de
suspeição quanto às ligações do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e seu ex-amigo Demóstenes
Torres, senador de Goiás, ex-líder do DEM hoje no centro da Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos da quadrilha de
Carlos Augusto Ramos, o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Escutas telefônicas
interceptadas pela Polícia Federal (PF), com autorização da Justiça, durante a Operação Monte Carlo, reveladas nesta segunda-feira,
questionam se o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF),Gilmar Mendes,
“pegou carona” em um jatinho fornecido por Cachoeira, no dia 25 de abril de
2011, quando teria retornado da Alemanha ao Brasil, na companhia do senador
Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
Uma ligação interceptada pela PF no dia 18/4/2011, às 18:08
horas, mostra Carlinhos Cachoeira informando ao ex-funcionário da Delta e
ex-vereador pelo PSDB, Wladimir Garcez, também preso durante a Operação Monte Carlo, que Demóstenes estava em Berlim.
Em nova ligação, no dia 23/4/2011, às 19:31 horas, Wladimir pede autorização à
Cachoeira para buscar o “Professor” (um dos codinomes de Demóstenes, segundo a
PF), em São Paulo, no jatinho de alguém chamado Ataíde. Diz que está ele e
Gilmar. Na degravação, a PF questiona entre parênteses (“?Mendes?”).
Mais tarde, às 20:24 horas, Wladimir liga novamente para
Cachoeira dizendo que não conseguiu falar com Ataíde e que mandaria o avião de
Rossini. Cachoeira pegunta qual é o avião de Rossini e Wladimir responde: um jatinho
King Air.
Cachoeira: ‘um pequeno, né?’
Wladimir: é… aí eu peguei falei com ele. Ele falou não, não
preocupa que eu organizo. Porque tá vindo ele e o GILMAR, né? Porque não vai
achar vôo, sabe?
Cachoeira se despede falando que ligaria para Demóstenes em
Berlim.
Às 20:38 horas, Cachoeira liga novamente para Wladimir. Tratam
de outros assuntos. Depois, voltam a discutir a “carona”. Wladimir diz que
Demóstenes chegará às seis da manhã do dia 25/4 e que deixará tudo organizado
para o piloto ir buscá-lo.
No dia 25/4, às 12:10 horas, Wladimir diz à Cachoeira que o
senador já chegou.
Gilmar Mendes foi à Europa participar de um congresso
internacional em homenagem ao jurista italiano Antônio D’Atena, promovido pelo
Fundação Peter Häberle e pela Universidade de Granada, da Espanha. O congresso
foi aberto no dia 13/4/2011, mas a participação de Mendes se deu na manhã do
dia seguinte, com a palestra “A integração na América Latina, a partir do
exemplo do Mercosul”.
Não há registro públicos do que Mendes teria feito no restante
do tempo em que permaneceu fora do Brasil. À revista Veja, ele teria dito que
se encontrou com Demóstenes em Berlim, na Alemanha. Ainda segundo a Veja, o
ministro teria uma filha residente em Berlim e, por isso, frequentaria a cidade
com regularidade.
Não há registros públicos de quais atividades Demóstenes teria
ido desenvolver na Europa, mas levantamento feito por Carta Maior demonstra que
ele não participou das votações realizadas no plenário do Senado entre 13 e
25/4/2011.
Em nota oficial, Lula manifesta
indignação
A assessoria de imprensa do Instituto Lula divulgou nota oficial
onde o ex-presidente manifesta indignação com o teor da matéria publicada pela
revista Veja. A nota
afirma:
“Sobre a reportagem da revista Veja publicada nesse final de
semana, que apresenta uma versão atribuída ao ministro do STF, Gilmar Mendes,
sobre um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 26 de
abril, no escritório e na presença do ex-ministro Nelson Jobim, informamos o
seguinte:
“1. No dia 26 de abril, o ex-presidente Lula visitou o
ex-ministro Nelson Jobim em seu escritório, onde também se encontrava o
ministro Gilmar Mendes. A reunião existiu, mas a versão da Veja sobre o teor da
conversa é inverídica. ‘Meu sentimento é de indignação’, disse o ex-presidente,
sobre a reportagem.
“2. Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou
interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em
relação a ação penal do chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada
do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da
República.
“3. “O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a
denúncia do chamado Mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu
indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer
pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja”, afirmou Lula.
“4. A autonomia e independência do Judiciário e do Ministério
Público sempre foram rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos. O comportamento
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa
nenhum cargo público”.
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