quinta-feira, 1 de março de 2012

Rui Rodrigues - Argentina Kirchner


As coisas não vão muito bem pelo mundo, de modo geral, envolvido que está numa crise econômica que só encontra precedentes na de 1929 – Queda da bolsa de N. York, e nos templos bíblicos quando José teve que emigrar para o Egito.

A bela Cristina Argentina Kirchner ouviu dizer que um barco de guerra inglês tinha entrado nas ilhas Malvinas para operações de treinamento militar. Viu nessa oportunidade o grande momento para esvanecer os problemas internos. Poderia ter feito uma reclamação formal e ficar por isso mesmo, sem nem sequer dar importância para o resultado da reclamação, porque não iria mudar nada no equilíbrio político mundial nem nas Malvinas, nem na Argentina ou na Inglaterra, mas foi mais longe.

Pede boicote aos produtos ingleses. É a teoria do suicídio posta em prática. Critica o boicote americano a Cuba e propõe um boicote à Inglaterra, como se não percebesse como está dividido o poder no mundo e pior, não percebesse o quanto ela mesma se desvia do bom senso. Ademais, a Inglaterra e a União Européia são um dos maiores parceiros comerciais da Argentina... A teoria do suicídio posta em prática não pode ter apoio na sensatez pelo contrário, parece ato tresloucado, ato para por a culpa de tudo o que acontece de mal na Argentina, no mundo exterior e em particular, na Inglaterra.

A bela Cristina Argentina Kirchner passou a fase de deslumbramento no poder e chegou agora à fase de desespero no poder. A partir daqui é só descida em sua vida política, porque a base deste seu desespero está na constatação de que sua economia e os atos de seu governo não levarão a Argentina onde os argentinos pensam que seriam levados. Ela vai para o outro lado.


 Debate fórum facebook grupo Mea Cuba
Marco Lisboa Uma parte da esquerda brasileira sofre o que eu chamo de carência ideológica aguda. Com o desmoronamento do bloco socialista e a perda de conteúdo ideológico do PT e de vários outros partidos de esquerda, criaram o que eu chamo de Mancha Vermelha. Esta organizada tem coligadas no mundo todo. São vários os critérios para esta coligação. O primeiro é nominal - colocaram Comunista ou mesmo socialista no nome, é dos nossos. O pequeno Kim entra nesta cota. Tempos atrás uma diretora da Mancha caiu de pau na Veja porque chamou o Kimzinho de ditador. Eu perguntei como os milhões que passam fome e os 200.000 norte-coreanos presos em campos de concentração deveriam chamá-lo. Outro critério é o discurso antiamericano. Kadafi, Saddam, El-assad e outros entram nesta cota. Estes fanfarrões massacram o seu povo e usam como desculpa um imperialismo com o qual convivem perfeitamente. Kadafi chegou ao ponto de colaborar intimamente com a CIA, além de financiar as campanhas de Sarkozy e Berlusconi. Mas são dos nossos. Finalmente, qualquer caudilho com um discurso populista é coligado. Chavez é um exemplo clássico. A Kirchner também. O trágico, além da perda de credibilidade, é a perda da independência política. O PSUV de Chavez obrigou a todos os partidos de esquerda que apoiavam Chavez a se integrarem a ele. Não existe outro projeto político oficial além do Chavismo. No Brasil, em nome da governabilidade, tornou-se obrigação da Mancha defender todo corrupto da base aliada pego em flagrante pela grande imprensa. Que foi batizada de PIG. Em vez de repensar a sua política de alianças, a Mancha lançou uma campanha diversionista pedindo um marco regulatório. Eles fazem questão de confundir o tempo todo imprensa com concessões de rádio e televisão e obrigação de ter um conteúdo com valor social com censura política e ideológica. Eu não diria que os conceitos de esquerda e de direita estão ultrapassados. Mas com certeza, boa parte de nossa esquerda está ultrapassada.
Alvaro Luiz Magalhães Marques Esta análise do Marco Lisboa está perfeita e é provavelmente a mais incisiva dentre todas que as já foram feitas aqui, vindo ao encontro de praticamente tudo que penso da esquerda hoje. Faria apenas um acréscimo, que na verdade apenas consubstancia o que já está sugerido na construção do argumento, e que diz respeito às lacunas éticas características de todo discurso autojustificado, ferramenta essencial de que qualquer ditadura lança mão sem hesitar. Voltarei a isto mais tarde, mas acho que todos entendem o significado dessa fragilidade básica.
Já especificamente com relação aos conceitos de esquerda e direita, talvez precisássemos cotejar com mais acerácea nossos pontos de vista, o que, inobstante, não compromete o conjunto da argumentação. A princípio, contudo, vejo-os diluídos e sem muita razão de ser se quisermos falar em democracia, e numa tentativa de defini-la de forma mais ou menos universal. Não me parece possível sustentar, a partir de fundamentações filosóficas ou sócio-econômicas, que ou direita ou esquerda queiram um mal-definido "bem do povo" uma mais do que a outra. Os experimentos concretos de ambos os lados, por sua vez, tampouco me parecem autorizar qualquer distinção conclusiva. A esquerda, especialmente no Brasil, ficou muito associada à luta contra a ditadura militar, mas isto não é suficiente para credenciá-la a ser mais favorável ao povo, mais "progressista", e sua adesão à causa democrática é não só recente como difusa e por vezes ainda meramente utilitária. E aí é que eu não admito ditadura de pseudo-vanguardas "pelo bem do povo" - vai mandar em casa, na mulher e na filharada que já faz muito. Daí é que desponta a idéia de democracia e de participação (cada vez mais direta e menos mediada por ideologias) como algo que, quase por definição, já estabelece o que é bom para o povo sem a presença impertinente atravessadores ideológicos.
Marco Lisboa Uma das grandes cagadas do socialismo real foi a sua pretensão ao totalitarismo: ele reivindicava que o Estado sabia o que era melhor no terreno da arte, da moral, da religião, da opção sexual, etc. Outra cagada, conseqüência da primeira, foi a divisão entre revolução e os inimigos do povo. Se um caminho era melhor do que outro, quem optava pelo caminho errado estava indo na direção da contra-revolução, logo era um inimigo do povo. Como conseqüência, veio a repressão, já que um estado tão onipresente e tão onipotente não podia tolerar a ação do inimigo dentro de seu organismo. Isto pelo lado do estado. Acho que é isto que o Álvaro chama de discurso autojustificado.

Do lado do povo, cresce o oportunismo, a apatia, o carreirismo, já que num estado que está em toda a parte, não há como se esconder. É preciso mostrar com clareza que se é um revolucionário e não um inimigo do povo. Em Cuba, apesar de não terem se produzido os excessos soviéticos, os CDR (comitês de Defesa da Revolução) acabaram por se transformar num instrumento de fiscalização da vida alheia. No fim, todos se vigiam o tempo todo.
Uma outra questão que precisa ser repensada é a questão do partido e da vanguarda. Todo processo revolucionário necessita uma organização revolucionária ( ou uma frente). A primavera árabe não é um contra-exemplo válido, porque a derrubada de Mubarak acabou passando o poder para os militares e o vazio está sendo ocupado pela irmandade muçulmana e seus aliados.
O problema começa com o exercício do poder. Como separar Estado e Partido (ou Frente)? Como evitar que a vanguarda substituía o povo? A questão não é nem um pouco simples, porque um processo revolucionário não é limpinho, perfeito e arrumadinho. É turbulento, com ações violentas interna e externamente. Cuba, por mais que Fidel fizesse um discurso humanista, tinha que bater de frente com os americanos, porque o país vivia praticamente num neo-colonialismo, exportando açúcar para comprar caramelo, com disse o próprio. Com a máquina do estado desmantelada, são precisas ações emergenciais, não dá para submeter tudo a uma assembléia. Sem falar que o novo poder necessita de instrumentos de auto defesa, um exército, uma polícia e um corpo diplomático, que não se prestam a um exercício da democracia direta.
Nesse sentido, o governo cubano errou por demorar mais de 10 anos para se institucionalizar, errou por adotar uma liderança carismática e errou por impor um partido único, ainda por remontado de cima para baixo.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!

Abração

Dag Vulpi

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

Seguir No Facebook