A Associação
Brasileira de Ciência Política (ABCP), organização que reúne os principais
especialistas da área, divulgou nota nesta quinta (3) afirmando “perplexidade”
com abertura de processo de impeachment da presidenta Dilma Rouseeff.
Para a instituição, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), usa o mecanismo como "arma" em defesa dos próprios
interesses.
“Acuado por
gravíssimas denúncias de corrupção e ocultação de recursos no exterior, o
deputado Cunha utilizou-se do instrumento, talvez o mais importante na defesa
da ordem democrática, como arma na tentativa de resguardar seus interesses
privados”, diz a nota, de três parágrafos.
A associação
avalia que a aceitação do pedido de impeachment, por problemas fiscais,
está sendo usado sem razão, “de forma ilegítima e sem fundamentação jurídica”
por uma das mais altas autoridades” do país, acrescenta o documento, disponível
na internet. Os cientistas políticos cobram que os agentes públicos atuem com
responsabilidade, em defesa da estabilidade social e política do país.
“Acreditamos
que o grave momento por que passa a democracia no país tem de ser resolvido no
sentido do reforço da legalidade, da impessoalidade, do interesse público e do
equilíbrio entre os poderes que têm inspirado nossa construção democrática
desde 1988", afirmam.
O pedido
de impeachment contra a presidenta Dilma foi anunciado pelo presidente
da Câmara, Eduardo Cunha. No documento, Cunha argumenta que a presidenta Dilma cometeu crime de
responsabilidade ao editar decretos aumentando as despesas do governo federal
em 2015 sem o aval do Congresso Nacional e que o governo adotou a prática das
"pedaladas fiscais" também este ano. A presidenta, em pronunciamento
nacional, disse que são “inconsequentes e inconsistentes” as ações
contra ela.
Políticos
Políticos
também se posicionaram sobre o processo. Para o governador do Rio, Luiz
Fernando Pezão, a abertura do processo é um erro. “Essa é uma pauta que
não ajuda o país em nada. Não precisamos disso no momento. Ficamos um ano
desmontando uma ‘pauta bomba’ que foi a mudança da Previdência Social, que foi
quando a racionalidade não imperou dentro da Câmara. E somente nisso nós
perdemos um ano com o país sem crescer, as pessoas perdendo emprego e entrando
em crise. Por que não fazer uma pauta que discuta a reforma tributária, a
negociação da dívida, que seria algo mais útil? Isso [processo de impeachment]
é um erro. Temos assuntos mais importantes para tratar”.
Durante a
entrevista coletiva concedida aos jornalistas, o governador se ausentou por
alguns minutos para atender à uma ligação da presidenta Dilma Rousseff. Segundo
Pezão, ele havia ligado para a presidenta anteriormente. “Eu tinha ligado para
expor minha solidariedade, me colocar à disposição para articular governadores
para apoiá-la juntamente com toda a sua base neste momento de dificuldade”.
O ministro da
Defesa, Aldo Rebelo, classificou a abertura do processo é reflexo de uma
disputa política causada por dificuldades pontuais vividas pelos
país. "Esta tensão tem sua origem nas dificuldades econômicas do
país, nos resultados eleitorais, na operação policial que atinge lideranças
importantes da vida política e do Congresso Nacional e nas disputas próprias da
vida partidária", afirmou. "No entanto, deve prevalecer o interesse
nacional, o interesse público e o respeito à Constituição e à leis",
disse, ao participar de evento no Rio de Janeiro.
Para o
ministro, não há nada que justifique o impeachment da presidenta.
"Não há contra ela, nenhuma investigação, nenhum processo, nenhuma
acusação nem do Ministério Público nem da Polícia Federal, nem do Poder
Judiciário e essa é a base legal do seu trabalho de defesa".
O ministro
participou nesta manhã de uma simulação de desastre na área da vila militar em
Deodoro, zona oeste, que conclui o 1º Curso de Resposta Médica em Desastres
Naturais e Antropogênicos (causado por ações humanas). Segundo o
ministro, o curso não tem relação com os Jogos Olímpicos 2016, mas que os
39 profissionais da saúde que participaram do curso poderão atuar durante os
jogos em caso de algum incidente envolvendo vítimas.
Com custo de
R$ 300 mil, o curso teve duração de aproximadamente quatro meses e capacitou
médicos militares e civis para intervenção em situações de desastres e em
gestão de risco.