A diretoria nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou,
no início da madrugada de hoje (17), nota à imprensa em que afirma que
as conversas gravadas entre o ex-presidente da República Luiz Inácio
Lula da Silva, a presidenta Dilma Rousseff e outras autoridades revelam
“um quadro gravíssimo que se abate sobre o país”. Os áudios foram
tornados públicos após o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela
Operação Lava Jato, suspender o sigilo do inquérito que investiga Lula,
poucas horas depois de o Palácio do Planalto confirmar que o
ex-presidente ocupará a Casa Civil.
Na nota, a entidade não
comenta a divulgação de conversas de Lula com um de seus advogados,
Roberto Teixeira, fato que, para muitos especialistas, fere a legislação
brasileira, que estabelece a inviolabilidade da comunicação entre
advogado e cliente. O Artigo 7º do Estatuto da Advocacia determina a
“inviolabilidade do escritório ou local de trabalho dos advogados, bem
como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita,
eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da
advocacia”, salvo quando estiverem presentes indícios de autoria e
materialidade da prática de crime por parte do profissional. Em sua
decisão, Moro justifica a divulgação das conversas entre Lula e
Teixeira, alegando não ter identificado “com clareza a relação
cliente/advogado a ser preservada entre o ex-presidente e referida
pessoa [Teixeira]”.
Sobre o teor das conversas entre Lula e
autoridades, a direção nacional da OAB afirma que “a Nação está
perplexa” diante da constatação do “quadro gravíssimo que se abate sobre
o país”. A entidade também critica as “referências desairosas,
deselegantes e desrespeitosas à Ordem dos Advogados do Brasil, ao
Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional, com a utilização de
termos impronunciáveis, emitidos por pessoa proeminente da República”. A
entidade afirma que a advocacia está particularmente indignada com a “a
grave ofensa dirigida à OAB pelo ministro-chefe da Casa Civil, Jaques
Wagner”.
“As gravações, que exibem a forma enviesada com que
quadros políticos tratam a República, possuem conteúdo que não pode ser
desprezado. Também é necessário avaliar as circunstâncias em que tais
gravações foram obtidas, quando envolvem o sigilo que deve nortear a
relação entre o advogado e seu constituinte”. A entidade convocou para
amanhã (18) reunião extraordinária do colégio de presidentes de
secionais e sessão extraordinária do Conselho Federal da OAB, em
Brasília. Além de discutir a conjuntura política e a propositura das
medidas, é esperado que os presentes discutam um posicionamento geral
quanto à divulgação das conversas do advogado Roberto Teixeira.
Ao
contrário da diretoria nacional, a seccional da OAB do Rio de Janeiro
criticou a divulgação da conversa telefônica entre Lula e Dilma
Rousseff. Na nota, a seccional diz estar preocupada com a preservação da
legalidade e dos pressupostos do Estado Democrático de Direito.
“O
procedimento do magistrado [Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de
Curitiba, no Paraná] típico dos estados policiais, coloca em risco a
soberania nacional e deve ser repudiado, como seria em qualquer
República democrática do mundo”, diz a seccional, alegando que Moro fez
uma divulgação seletiva para órgãos de imprensa. “É fundamental que o
Poder Judiciário, sobretudo no atual cenário de forte acirramento de
ânimos, aja estritamente de acordo com a Constituição e não se deixe
contaminar por paixões ideológicas. A serenidade deve prevalecer sobre a
paixão política, de modo que as instituições sejam preservadas. A
democracia foi reconquistada no país após muita luta e não pode ser
colocada em risco por ações voluntaristas de quem quer que seja. Os fins
não justificam os meios”.
Já a seccional da OAB da Bahia
convocou às pressas uma reunião extraordinária de seu Conselho Pleno
estadual para hoje à noite. Convocada pelo presidente da OAB-Bahia, Luiz
Viana, a reunião vai tratar da "ilegalidade do vazamento judicial do
grampo que envolve a presidenta da República", além da divulgação de um
"desagravo ao presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, e assuntos
referentes ao impeachment da presidenta Dilma.
A OAB do Distrito
Federal considerou inaceitável o conteúdo dos diálogos entre Lula e
Dilma e repudiou os ataques do ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner a
Cláudio Lamachia. Segundo o presidente da seccional, Juliano Costa
Couto, “as conversas mantidas pelo ex-presidente da República e atual
ministro da Casa Civil, Luiz Inácio Lula da Silva, com diversas
autoridades, inclusive com a presidenta Dilma Rousseff revelam
tratativas nada republicanas, as quais não têm mais lugar na moderna
sociedade brasileira”. Segundo nota divulgada pela seccional, Couto
considera que a “democracia é colocada em xeque quando há a utilização
do poder do Estado para a defesa de interesses privados”.
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