Ao dar posse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como
ministro-chefe da Casa Civil, a presidenta Dilma Rousseff criticou hoje
(17) as interceptações de conversas telefônicas entre os dois,
divulgadas ontem (16), e disse que pedirá a apuração dos fatos.
“Convulsionar a sociedade brasileira em cima de inverdades, de métodos
escusos, de práticas criticáveis viola princípios e garantias
constitucionais, viola direitos dos cidadãos e abre precedentes
gravíssimos: os golpes começam assim.”
Dilma repudiou as versões
divulgadas das escutas telefônicas com conversas entre ela e Lula.
“Estaremos avaliando as condições deste grampo que envolve a Presidência
da República. Queremos saber quem autorizou e por que o autorizou, e
por que foi divulgado porque não continha nada que possa levantar
qualquer suspeita sobre seu caráter republicano. Investigações baseadas
em grampos ilegais não favorecem a democracia.
Quando isso acontece,
fica nítida a tentativa de ultrapassar o limite do Estado Democrático de
Direito, de cruzar a fronteira que é tão cara para nós que a
construímos: a fronteira com o estado de exceção. Estamos diante de um
fato grave: uma agressão não à minha pessoa, mas uma agressão à
cidadania, à democracia e à nossa Constituição.”
O juiz federal
Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato, divulgou
ontem à tarde o teor desta e de outras conversas do ex-presidente, que
teve suas ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal. Às
13h32, Dilma ligou para Lula a fim de avisá-lo de que um funcionário do
Planalto estava levando até ele o documento com o termo de posse, para
ser utilizado "em caso de necessidade".
Conforme as
interceptações, a presidenta diz ao novo ministro da Casa Civil: "Eu tô
mandando o "bessias" junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em
caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!".
O Palácio do
Planalto negou que a assinatura do termo de posse do ex-presidente Lula
como ministro-chefe da Casa Civil tenha sido antecipada para garantir a
ele foro privilegiado de modo imediato.
De acordo com a Secom,
Lula poderia não comparecer à cerimônia de posse marcada para esta
quinta-feira. Por este motivo, explicou, o termo de posse foi enviado
para que Lula assinasse e fosse devolvido à Casa Civil. O Planalto, no
comunicado, esclarece então que a expressão "pra gente ter ele",
utilizada por Dilma, se refere à necessidade que havia de o governo ter o
documento caso Lula não comparecesse à posse. Informa ainda que o
trecho "só usa em caso de necessidade" faz referência à possibilidade de
"o governo usar" o termo de posse.
Segundo a Secom, a divulgação do telefonema foi feita "ilegalmente" por decisão da Justiça Federal do Paraná.
“Em
que pese o teor absolutamente republicano do diálogo que tive com o
ex-presidente Lula, ele foi publicizado com uma interpretação
desvirtuada. Mudaram tempos de verbo, mudaram 'a gente' para 'ele',
ocultaram que o que fomos buscar no aeroporto era a assinatura do
presidente Lula, mas não tem a minha assinatura. Portanto, isto não é
posse. A posse ocorreria aqui”, afirmou Dilma durante o discurso da
cerimônia de posse de Lula.
Vazamentos
Dilma
voltou a criticar o vazamento seletivo de informações. “Não há justiça
quando delações são tornadas públicas de forma seletiva para execração
de alguns investigados e quando depoimentos são transformados em fatos
espetaculares. Não há justiça para os cidadãos quando as garantias
constitucionais da própria Presidência da República são violadas. Se se
fere prerrogativas da Presidência da República, o que farão com as
prerrogativas dos cidadãos?”, questionou.
Oposição
A
presidenta também criticou a oposição, que, segundo ela, desde a
eleição em 2014, tenta paralisar o governo. "[A oposição] tenta me
impedir de governar ou me tirar o mandato de forma golpista”. “Nós temos
de superar os ódios e a atuação daqueles que não estão do lado da
verdade e não terão força política para provocar o caos e a convulsão
social. A gritaria dos golpistas não vai me tirar do rumo e não vai
colocar o nosso povo de joelhos”.
Após a cerimônia, o juiz
federal Itagiba Catta Preta Neto, da Seção Judiciária Federal do
Distrito Federal, atendeu a uma ação popular e suspendeu,
em caráter liminar, ou seja, temporário, a posse do ex-presidente Lula
no cargo de ministro-chefe da Casa Civil ou em “qualquer outro que lhe
outorgue prerrogativa de foro”. A Advocacia-Geral da União (AGU) vai
recorrer da decisão.
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