Imigrantes
africanos se queixam que, mesmo qualificados, têm dificuldade para conseguir
bons empregos no Brasil. “Essa busca por mão de obra qualificada é pensada
muitas vezes em relação ao europeu, principalmente ao branco. Não imaginam que
o africano tem essa qualificação, que o haitiano tem essa qualificação”,
ressalta a diretora do Instituto da Diáspora Africana no Brasil (IDAB), Carmen
Victor da Silva. A organização não governamental busca dar apoio a imigrantes
que chegam ao país.
A visão
estereotipada dos países africanos e o preconceito são, segundo Carmen, algumas
das razões para que as empresas não abram espaço em postos qualificados para
africanos. “Eu percebo que existe uma distinção. Quando se fala de imigrantes
de outras localidades, latinos ou africanos, se fala sempre como mão de obra
braçal, não intelectual”, enfatizou, em entrevista à Agência Brasil, antes
de participar de audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo.
O secretário
nacional de Justiça, Paulo Abrão, admitiu que o problema é presente e deverá
ser enfrentado na mudança da lei que regulamenta os direitos dos estrangeiros.
“É preciso reconhecer que o preconceito faz parte das relações humanas e é por
isso que todo o debate dessa questão migratória tem que ser calcado no
afastamento e enfrentamento da xenofobia”, disse. “Será constituído agora um
comitê de especialistas para dar a formatação jurídica de um anteprojeto que
poderá ser encaminhado ao Congresso”, acrescentou.
Procedente da
Guiné-Bissau, formada em teologia e pedagogia, Madalena Nanque conseguiu
emprego apenas em uma loja que vende chinelos. Mas, após problemas com a
burocracia para o pedido de residência permanente, perdeu até esse trabalho.
“Quero fazer concurso, não consigo. Quero fazer pós-graduação, minhas amigas já
acabaram, eu não consigo, porque não tenho documento”, reclama a africana, de
36 anos. “Eu acho que deve haver uma base aqui em São Paulo para ajudar gente
como eu, que não tem pai para dar nada, que tem que trabalhar”, diz, ao se
queixar dos gastos dos deslocamentos a Brasília para resolver a sua situação
legal.
O estudante
angolano Marseu de Carvalho também reclama da falta de atenção do governo aos
imigrantes com poucos recursos. “Nós sabemos que não há políticas públicas que
recaem sobre os estudantes imigrantes. E se há políticas públicas, elas não
chegam à minha camada, daqueles que não têm nenhuma representatividade
governamental ao sair de seus países por conta própria”, destacou durante o
encontro.
Além da falta
de apoio institucional, o estudante universitário Ademar Carvalho diz sofrer
com o racismo no Brasil. “O meu governo falava que os brasileiros e portugueses
são nossos irmãos porque falam a mesma língua. Hoje, já não penso mais assim”,
desabafou o jovem que se diz enganado por uma faculdade do interior paulista.
Um representante da instituição, segundo Carvalho, foi a Angola oferecer uma
série de vantagens que não se cumpriram na prática. Atualmente, o estudante
move uma ação, com a ajuda da Defensoria Pública da União (DPU), contra a
faculdade.
A parceria
entre o Ministério da Justiça e a defensoria é uma das ações do governo, de
acordo com Paulo Abrão, para solucionar os problemas que afligem os imigrantes.
“Para que ela [a DPU] passe a atuar na defesa jurídica de todo e qualquer
estrangeiro dentro do território nacional”. Abrão acrescentou que também
foi firmada uma parceria com a Organização Internacional de Migrações. “A
primeira etapa é a realização de diálogos públicos com representações e
lideranças dos imigrantes”, destacou.
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