terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Em 20 anos, Brasil deve ter segundo maior crescimento em petróleo no mundo


Coordenador do relatório da Agência Internacional de Energia diz, que vantagem competitiva do País no mercado de energia global começa a ganhar corpo.

O Brasil deve se tornar o segundo país do mundo com o mais rápido crescimento na produção de petróleo, atrás apenas do Iraque, segundo o relatório da Agência Internacional de Energia (AIE).  A expectativa é que o volume diário de 2,2 milhões de barris, registrado em 2011, continue a trajetória de expansão e alcance o patamar de 5,7 milhões de barris em 2035. No mesmo período, a produção diária de petróleo no país do Oriente Médio deve passar de 2,7 milhões de barris para 8,3 milhões de barris.

Denominado Perspectivas da Energia Mundial 2012, o estudo mostra que a perspectiva de aumento na produção brasileira de petróleo deve acontecer, sobretudo, a partir da segunda metade desta década. Em um quadro intitulado “Boom de Petróleo no Brasil Ganha Ritmo”, o relatório atribui o cenário positivo à exploração das jazidas de petróleo da camada pré-sal, localizadas, principalmente, ao longo da Região Sudeste.

“O Brasil é o único país que descobriu uma reserva gigante de petróleo, com potencial equivalente a mais de 5 bilhões de barris, nos últimos 10 anos” explica Alessandro Blasi, analista de política energética da AIE e um dos coordenadores do estudo. “Isso dá ao Brasil uma enorme vantagem no novo mercado global de energia que começa a ganhar corpo”, acrescenta.

A AIE é uma organização patrocinada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que elabora diagnósticos sobre a produção de petróleo do mundo e a energia em geral. O otimismo do relatório contrasta com diversas previsões negativas de analistas, por conta no atraso da aprovação do marco regulatório e em licitações para a exploração de novos blocos . A agência contou dois membros do Ministério de Minas e Energia e um professor da USP para ajudar a traçar o panorama brasileiro 

De acordo com a pesquisa, o mercado energético global deve passar por importantes alterações nos próximos anos. A principal delas é a ascensão dos Estados Unidos como maior produtor mundial de petróleo em 2017 , desbancando a Arábia Saudita. A receita para o sucesso norte-americano pode ser explicado pelo desenvolvimento de novas tecnologias, que possibilitam a extração de petróleo do tipo leve (light tight oil) e gás não convencional de xisto (shale gas) com custos mais competitivos.

“O crescimento da produção de petróleo nos Estados Unidos, combinado com o uso mais eficiente de energia, vai dar maior independência à Washington e reduzir suas importações do óleo. Os efeitos desta mudança vão ser sentidos não apenas no comércio global de energia, mas também nas relações deles (Estados Unidos) com o Oriente Médio” comenta Blasi.

A produção de petróleo norte-americana deve alcançar o ápice no início de 2020, quando atinge a marca de 11,1 milhões de barris diários. Após a vigorosa expansão, a produção começa a cair e volta a ser superada pela da Arábia Saudita. Em 2035, os Estados Unidos devem produzir 9,2 milhões de barris por dia – 3,5 milhões de barris a mais que o Brasil.

Outra mudança relevante para o mercado energético mundial é o crescimento da demanda por petróleo em países da Ásia, principalmente China e Índia. A região deve liderar a expansão do consumo do óleo nas próximas duas décadas. Segundo a AIE, a demanda mundial de petróleo de 87,4 milhões de barris diários, registrado em 2011, deve atingir 99,7 milhões de barris por dia em 2035 – uma expansão de 14%. O setor de transportes deve representar mais da metade do consumo total.

 “O desenvolvimento do setor de transportes em países como China e Índia, aliado a políticas de promoção de combustíveis alternativos em algumas nações da Europa vai gerar ótimas oportunidades para o mercado de etanol brasileiro” sugere Blasi. A AIE prevê que o Brasil se torne o maior produtor mundial de biocombustível em 2035, com um volume equivalente a 0,2 mil barris de petróleo por dia (mboe/d) – quase um quarto da produção mundial.

O estudo destaca a vantagem competitiva do etanol brasileiro, gerado à base de cana-de-açucar, em relação ao biocombustível à base de milho ou beterraba produzido, respectivamente, nos Estados Unidos e Europa. O relatório aponta que o custo para a produção de etanol no Brasil é inferior aos gastos para a produção de gasolina, devido as condições climáticas favoráveis e a disponibilidade de terra.

“Apesar do boom na produção de petróleo nos próximos anos, a grande maioria dos países está ciente da necessidade de desenvolver novas formas de energia para garantir segurança energética e respeitar o meio-ambiente. O Brasil tem a sorte de contar com o pré-sal, mas deve seguir investindo em tecnologia para a produção de biocombustíveis” conclui Blasi.

(IG)

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