terça-feira, 30 de outubro de 2012

Exonerado diz que participou de agressão a cinegrafista do ES


Neilson Castelo de Oliveira disse que está arrependido pelo que fez.
Equipe de reportagem foi agredida por militantes no comitê do PR.

Cinegrafista recebe primeiros atendimentos (Foto: Carlos Alberto Silva/ Jornal A Gazeta)Cinegrafista recebe primeiros atendimentos
(Foto: Carlos Alberto Silva/ Jornal A Gazeta)
O professor de educação física, Neilson Castelo de Oliveira, que foi exonerado na manhã desta terça-feira (30), pela prefeitura de Vila Velha, na Grande Vitória, confessou que tentou agredir o cinegrafista duas vezes, mas que não chegou a machucá-lo. Após ser dispensado de um cargo na Secretaria de Saúde do município, o professor conversou com o G1 por telefone e se mostrou arrependido pela atitude. O funcionário foi identificado pela polícia, vestindo camisa vermelha, através de imagens gravadas por emissoras de TV que estavam no momento da agressão e por câmeras da prefeitura. A Polícia Civil informou que outras duas pessoas também foram identificadas e serão ouvidas nos próximos dias.

"As imagens são claras. Da minha parte, mostra duas tentativas de agressão. Foi um impulso, a adrenalina do momento me levou a isso. Perdi meu controle emocional naquele momento. Quero deixar claro que as agressões não começaram por mim e também não sei o motivo de tanto ódio daquelas pessoas com a imprensa", defendeu-se Neilson Castelo.

A violência aconteceu neste domingo (28), no comitê do Partido da República (PR), em Vila Velha, após a derrota de Neucimar Fraga (PR). O cinegrafista e o repórter André Falcão foram agredidos por simpatizantes do atual prefeito com chutes e socos. Martins caiu desmaiado e foi ferido em uma perna. Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e hospitalizado.

Após o ocorrido, o professor contou que pretende procurar o cinegrafista Wagner Martins para se desculpar pelo ocorrido. "Sou um homem de bem, trabalhador, inclusive apóio o trabalho da imprensa. Minha equipe de trabalho sabe como eu sou. Sobre tudo isso, peço desculpas aos meus familiares, alunos, amigos, e ainda quero procurar o cinegrafista para me redimir", disse.

Neilson também confessou estar envergonhado com a exposição das imagens na imprensa capixaba. "Estou saindo de um cargo que o contrato terminaria em dezembro, mas lamento essa exoneração. Entrei nesse cargo através de processo seletivo, não era comissionado, mas acho que a prefeitura tomou essa atitude para optar por um lado nessa história", alegou o professor.

Cinegrafista passou por exames de corpo de delito nesta segunda-feira (29) (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Investigações
O delegado Alexandre Passos, da Delegacia Patrimonial, responsável pelo caso, informou que os agressores podem responder por crime de lesão corporal ou por lesão corporal de natureza grave. A pena para esses crimes pode variar de dois a oito anos de prisão. Os suspeitos serão intimados ao longo da semana para prestar esclarecimentos. Já as vítimas devem comparecer à delegacia para prestar depoimentos nesta quarta-feira (31).

As investigações já se iniciaram. No momento, nós estamos aguardando o encaminhamento, pelo Departamento Médico Legal (DML) da Polícia Civil, dos laudos para comprovar a materialidade da lesão corporal sofrida. Ao mesmo passo, também aguardamos os laudos policiais referentes ao dano aos equipamentos do cinegrafista. Temos a identificação dos suspeitos, mas falta, ainda, a qualificação”, disse o delegado.

Segundo o atual prefeito Neucimar Fraga, um outro agressor, que está de camisa preta e tem cabelos longos, é um militante do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e não tem ligação direta com sua gestão. Ele identificou também o jovem que empurrou o cinegrafista pelas costas. O rapaz, segundo o prefeito, é filho de uma ambulante que trabalhava vendendo pipoca na frente do comitê ao longo da campanha eleitoral.

Isenção jornalística
Os profissionais da Rede Gazeta seguem um guia, entregue pela empresa antes do início da cobertura eleitoral, em que estão os princípios básicos para um trabalho de qualidade: isenção e imparcialidade. Neste guia, a Rede Gazeta deixa claro que não possui candidatos e a cobertura eleitoral feita pela empresa foi regida por estes princípios.

Os veículos da Rede Gazeta, sendo o portal G1, o telejornal ESTV, a rádio CBN e o jornal A Gazeta, entrevistaram os candidados do segundo turno Rodney Miranda e Neucimar Fraga com espaços iguais na cobertura de campanha, inclusive durante o primeiro turno.

Dentre as pesquisas de intenção de votos divulgadas pelo jornal, uma era liderada por Rodney Miranda, e diversas outras por Neucimar Fraga. O portal G1 e o telejornal ESTV também divulgaram as agendas dos candidatos, enviadas pelas assessorias de imprensa.

Cabos eleitorais de Neucimar Fraga agridem cinegrafista da TV Gazeta (Foto: Carlos Alberto Silva/ Jornal A Gazeta)
Notas de repúdio
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Espírito Santo (Sindijornalistas/ES) se manifestou sobre o caso através de uma nota de repúdio, afirmando que "por se tratar de uma atitude antidemocrática e violenta por parte dos correligionários do partido do atual prefeito, durante o trabalho da imprensa que apenas visava levar informações de interesse público para a população". O Sindicato ainda disse que "trata-se de um caso de polícia e que todas as providências serão tomadas para que os responsáveis sejam punidos".

O Sindicado dos Radialistas do Espírito Santo divulgou nota dizendo que "o estado democrático de direito não comporta esse tipo de atitude". A nota diz: "Já vai longe o tempo em que os coronéis de plantão comandavam suas tropas contra os profissionais da imprensa". O sindicato prometeu processar criminalmente os envolvidos nas agressões.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) também se manifestou por meio de nota e "condenou com veemência a agressão ao cinegrafista e considera gravíssimo o episódio, por se tratar de um atentado contra um princípio fundamental do Estado democrático de direito, que é garantia a liberdade de imprensa. A Abert espera apuração rigorosa pelas autoridades do Estado".

A Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES) classificou a agressão como "lastimável e vergonhosa". "É importante que esse fato não caia no esquecimento. Você começa agredindo um jornalista e depois passa a impedir a livre circulação de ideias. Isso é um atentado à democracia", destacou o presidente da OAB-ES, Homero Mafra.

A ONG Transparência Capixaba também se manifestou. Em nota, classificou a agressão como "um ato irracional, injusto, absurdo e que agride a democracia. A transparência capixaba pede punição e cobra o acompanhamento da polícia, do Ministério Público e da Justiça". (Do G1 ES)






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