O direito à reeleição
no sistema eleitoral brasileiro, introduzido no primeiro governo de Fernando
Henrique Cardoso a um custo até hoje desconhecido, tornou-se um problema pela
vantagem que proporciona aos mandatários da vez e pela personificação da
política. Agora, que mais um pleito se aproxima, proliferam as queixas aos
tribunais eleitorais relativas a abuso de poder político e uso da máquina
pública.
No caso do Rio de
Janeiro, o atual prefeito Eduardo Paes tem sido acionado com frequência, não só
pelos candidatos adversários, mas pela própria Procuradoria Regional Eleitoral.
Paes se vale - e ele não é o único - do limite tênue entre o exercício da
função e a condição de candidato à reeleição. É aí, neste espaço, que a
vantagem de um candidato que já exerce o cargo se manifesta.
Agora mesmo, após um
evento de campanha no Complexo do Alemão, uma das áreas particularmente
sensíveis da cidade e onde uma policial foi morta recentemente pelo tráfico de
drogas, Paes disse a jornalistas que irá pagar uma gratificação de R$ 250 aos
policiais militares que trabalham nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)
do Rio. O anúncio contraria a legislação eleitoral, que proíbe reajuste de
salários durante o período de campanha até a posse do prefeito eleito. O caso
seguiu para exame do Ministério Público Eleitoral.
Paes, espertamente,
disse que se a lei eleitoral permitisse ( o que ele sabe que não) o pagamento
seria feito imediatamente. Caso contrário, ele o faria após as eleições, quando
continuaria prefeito até o fim do ano, mesmo que não saísse vencedor. Afinal,
Paes agiu como candidato ou como prefeito? As interpretações são variadas. Para
a Procuradoria Regional Eleitoral, Paes fez campanha descarada e ainda enganou
o eleitor, pois tal aumento só poderá ser dado em 2013 pelo prefeito eleito ou
reeleito.
Paes, por sua vez,
alega que a promessa foi feita na condição de prefeito, não de candidato. Foi
assim, também em tese, que teria agido na recepção ao jogador de futebol
holandês Seedorf, contratado pelo Botafogo, e recebido em cerimônia pública, no
Palácio da Cidade. O ato também levou o Ministério Público Eleitoral a pedir a
cassação do registro de Paes, mas o Tribunal Regional Eleitoral o inocentou.
Interpretações legais à parte, o problema está, essencialmente, no instituto da
reeleição.
Defensores do direito
dos governantes disputarem o cargo por ao menos mais um mandato ignoram outra
grave questão, que é a da personificação política. Por que um mesmo governante
é necessário para levar adiante políticas bem sucedidas? A política não é feita
em torno de ideias e de partidos? Por que só um homem ou mulher seria capaz de
dar prosseguimento ao que está dando certo?
Essas questões foram
respondidas na última eleição presidencial, quando Dilma Rousseff chegou ao
Palácio do Planalto. Dizia-se que a candidata era um poste, que jamais exercera
cargo eletivo e que não estaria preparada. Mas ela foi a escolhida da maioria
dos brasileiros por um motivo muito simples: o governo que a antecedeu tinha
ampla aprovação da população, que sabia que ela era quem iria manter as
políticas públicas em curso e realizar o que ficou por fazer. Ou seja, isso
mostrou ao próprio Lula, que também se beneficiou de uma reeleição, que já
poderia ter passado o bastão ao fim do primeiro mandato, e voltado a se
candidatar posteriormente.
A reforma política, a
cada dia mais urgente no Brasil, precisa dar fim à reeleição para eliminar
vícios, aumentar o equilíbrio dos pleitos e aprimorar as instituições. Um
mandato de cinco anos, sem direito à reeleição, seria tempo suficiente para um
político mostrar ao que veio. Se for bom, provavelmente fará o sucessor e
poderá voltar se candidatar cinco anos depois.
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Dag Vulpi