domingo, 12 de fevereiro de 2012

Lula, uma trajetória de muitas lutas e algumas glórias.


Em abril de 1985 posa para foto com a “vaca brava”
durante greve dos metalúrgicos pela jornada de 40
horas semanais. A tática da “vaca brava” consistia
em empregar vários tipos de greve simultaneamente
 Nasce o líder

Lula entrou na vida sindical pelas mãos do irmão mais velho, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, quando trabalhava nas Indústrias Villares em 1966.

Com 15 anos, ele começou a trabalhar como aprendiz de torneiro mecânico e aos 18 perdeu o dedo mínimo da mão esquerda, por descuido de um colega. Entre 1975 e 1978 foi eleito duas vezes presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e liderou as greves do ABC, após dez anos sem paralisações no País. O movimento iniciado em 12 de maio de 1978 se espalhou rapidamente por outras empresas. Cerca de 150 mil metalúrgicos cruzaram os braços, causando a irritação do presidente da Volkswagen na época, Wolfgang Sauer. “Era uma desordem total. Não havia base legal para fazer greve”, diz hoje o alemão naturalizado brasileiro. Desavenças passadas, atualmente, quando se encontram, os antigos rivais se abraçam. “Concordamos que aprendemos muito com tudo aquilo”, conclui o empresário.

O PT foi fundado em fevereiro de 1980 com a 
participação de trabalhadores e intelectuais. 
Fernando Henrique queria que os petistas se 
juntassem ao MDB
Lula começa a dar as cartas


O dia 10 de fevereiro de 1980 já está na história. Naquela data, 128 pessoas – o mínimo era de 101 – assinaram a ata da fundação do Partido dos Trabalhadores. Entre elas, ilustres intelectuais como Sérgio Buarque de Hollanda, Mario Pedrosa e Apolônio de Carvalho. A fundação do partido era consequência do movimento sindical que chacoalhou o ABC em 1978 e 1979 com greves históricas. Luiz Inácio da Silva começava a alçar vôos mais altos e aumentar sua participação política no cenário nacional. O escritório do advogado Luiz Carlos Greenhalgh, deputado federal pelo PT, foi um dos primeiros lugares onde Lula se reuniu com seus militantes. Greenhalgh advogava no andar de baixo de um sobrado no centro de São Paulo. Os encontros de cerca de 30 pessoas aconteciam no andar de cima. “A decisão de criar o PT foi num hotel em São Bernardo. Fernando Henrique estava lá e pediu para nos juntarmos ao MDB. Dissemos não”, conta o deputado. São Bernardo é o coração do PT. Laerte Demarchi, 57, dono do tradicional restaurante Demarchi, testemunhou o nascimento do partido. “Eles varavam a noite discutindo o partido e comendo frango à passarinho com polenta”, conta Laerte, velho amigo de Lula.
No ano seguinte, Lula discursa na 
porta da Volkswagen, em São 
Bernardo do Campo, quando era 
presidente cassado do Sindicato dos 
Metalúrgicos
À frente das greves históricas do ABC


No dia 1º de abril de 1980, Lula convocou os trabalhadores a outra paralisação. Cento e quarenta mil metalúrgicos cruzaram os braços e o ato foi considerado ilegal. O ministro do Trabalho do governo Figueiredo, Murillo Macêdo, chamou Lula em sua casa, pediu-lhe para moderar o discurso e julgou tê-lo convencido. “Dias depois, pressionado pelos companheiros, ele voltou atrás”, diz o ex-ministro. No dia 17 de abril, sob pressão militar, Murillo decretou intervenção no Sindicato. “Não queria fazer isso”, recorda-se o ex-ministro, que tem na parede de seu sítio uma foto com Lula jogando bilhar. “Disse aos militares que se Lula fosse preso tornar-se-ia um herói popular. Não me escutaram.” Dois dias após a intervenção, Lula foi preso com base na Lei de Segurança Nacional. Para o coronel Erasmo Dias, vereador em São Paulo e que na época da prisão trabalhava no SNI, o objetivo do governo militar era esse mesmo: tornar Lula um messias. Certos da decadência do regime, os militares, assegura Dias, conspiraram na intenção de ser fiadores da nova força política do País, para tirar algum proveito dela. “Seu nome era visto com beneplácito e o Dops acompanhou com bons olhos a fundação do PT”, garante hoje o coronel.

Lula depõe na Justiça Militar em 18 de agosto de 1980. No ano
seguinte o STM anulou a sentença de três anos e meio de prisão
Enfrentamento com os militares 


Após comandar as greves históricas no ABC e ser preso por 31 dias com base na Lei de Segurança Nacional, Lula foi julgado pelo Tribunal de Justiça Militar. Um dia antes do julgamento de Lula e dos outros líderes sindicais, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh foi ao local buscar as credenciais, quando viu uma cena absurda. “Um soldado já estava datilografando a sentença antes mesmo de o julgamento acontecer. Então pedi que me contasse de quanto tempo seria a condenação de Lula”, relata. “Três anos e meio”, disse-lhe o soldado. Na mesma noite, na reunião da diretoria do sindicato, Lula, ao saber do fato, bradou: “Não vamos a uma farsa!”. E aproveitou para convidar todos os advogados e réus para um café da manhã na casa dele, às 9h, horário do julgamento, que foi anulado. Eles compareceram ao julgamento seguinte, mas a sentença ainda foi a mesma: três anos e meio. No dia 2 de setembro de 1981, o Superior Tribunal Militar anulou a sentença contra Lula e pediu novo julgamento. No ano seguinte, o STM julgou-se incompetente e os processos foram prescritos.

Na campanha das Diretas Já com Fernando Henrique
Cardoso (à esq. no alto), entre Tancredo Neves e
Ulysses Guimarães (abaixo) e discursando durante a
Assembléia Nacional Constituinte em 1989
Nas Diretas e no Congresso


A primeira nota que Lula recebeu na política foi 10. A avaliação foi do Diap – Departamento Intersindical de Atividade Parlamentar. Eleito o deputado federal mais votado no Brasil, 650 mil votos, em 1986, Lula participou da Assembleia Nacional Constituinte e levou para a bancada do partido discussões sobre os direitos sociais dos trabalhadores. “Se não tem trabalhador no Congresso, como é que os trabalhadores querem defender seus direitos?”, comentava na época. 
 


Foi a única função pública que ocupou antes de chegar à Presidência do País. Dois anos antes, em 1984, Lula foi um dos expoentes da campanha das Diretas Já, que varreu o Brasil exigindo eleições democráticas para presidente da República. Representando o PT – era o presidente do partido –, esteve nos comícios ao lado do senador Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo Franco Montoro, do prefeito de São Paulo Mário Covas e de Roberto Freire, então deputado pelo PMDB. “Era um Lula atuante, vibrante. Ele já era uma liderança importante, presidia o PT, que era um partido emergente, e nos ajudou a mobilizar a população”, lembra Freire, hoje senador do PPS.

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