Nasce
o líder
Lula
entrou na vida sindical pelas mãos do irmão mais velho, José Ferreira da Silva,
conhecido como Frei Chico, quando trabalhava nas Indústrias Villares em 1966.
Com
15 anos, ele começou a trabalhar como aprendiz de torneiro mecânico e aos 18
perdeu o dedo mínimo da mão esquerda, por descuido de um colega. Entre 1975 e
1978 foi eleito duas vezes presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo e liderou as greves do ABC, após dez anos sem paralisações no
País. O movimento iniciado em 12 de maio de 1978 se espalhou rapidamente por
outras empresas. Cerca de 150 mil metalúrgicos cruzaram os braços, causando a
irritação do presidente da Volkswagen na época, Wolfgang Sauer. “Era uma
desordem total. Não havia base legal para fazer greve”, diz hoje o alemão
naturalizado brasileiro. Desavenças passadas, atualmente, quando se encontram,
os antigos rivais se abraçam. “Concordamos que aprendemos muito com tudo
aquilo”, conclui o empresário.
O PT foi fundado em fevereiro de 1980 com a participação de trabalhadores e intelectuais. Fernando Henrique queria que os petistas se juntassem ao MDB |
Lula
começa a dar as cartas
O
dia 10 de fevereiro de 1980 já está na história. Naquela data, 128 pessoas – o
mínimo era de 101 – assinaram a ata da fundação do Partido dos Trabalhadores.
Entre elas, ilustres intelectuais como Sérgio Buarque de Hollanda, Mario
Pedrosa e Apolônio de Carvalho. A fundação do partido era consequência do
movimento sindical que chacoalhou o ABC em 1978 e 1979 com greves históricas.
Luiz Inácio da Silva começava a alçar vôos mais altos e aumentar sua
participação política no cenário nacional. O escritório do advogado Luiz Carlos
Greenhalgh, deputado federal pelo PT, foi um dos primeiros lugares onde Lula se
reuniu com seus militantes. Greenhalgh advogava no andar de baixo de um sobrado
no centro de São Paulo. Os encontros de cerca de 30 pessoas aconteciam no andar
de cima. “A decisão de criar o PT foi num hotel em São Bernardo. Fernando
Henrique estava lá e pediu para nos juntarmos ao MDB. Dissemos não”, conta o
deputado. São Bernardo é o coração do PT. Laerte Demarchi, 57, dono do
tradicional restaurante Demarchi, testemunhou o nascimento do partido. “Eles
varavam a noite discutindo o partido e comendo frango à passarinho com
polenta”, conta Laerte, velho amigo de Lula.
No ano seguinte, Lula discursa
na
porta da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, quando era presidente cassado do Sindicato dos Metalúrgicos |
À
frente das greves históricas do ABC
No
dia 1º de abril de 1980, Lula convocou os trabalhadores a outra paralisação.
Cento e quarenta mil metalúrgicos cruzaram os braços e o ato foi considerado
ilegal. O ministro do Trabalho do governo Figueiredo, Murillo Macêdo, chamou
Lula em sua casa, pediu-lhe para moderar o discurso e julgou tê-lo convencido.
“Dias depois, pressionado pelos companheiros, ele voltou atrás”, diz o
ex-ministro. No dia 17 de abril, sob pressão militar, Murillo decretou
intervenção no Sindicato. “Não queria fazer isso”, recorda-se o ex-ministro,
que tem na parede de seu sítio uma foto com Lula jogando bilhar. “Disse aos
militares que se Lula fosse preso tornar-se-ia um herói popular. Não me
escutaram.” Dois dias após a intervenção, Lula foi preso com base na Lei de
Segurança Nacional. Para o coronel Erasmo Dias, vereador em São Paulo e que na
época da prisão trabalhava no SNI, o objetivo do governo militar era esse
mesmo: tornar Lula um messias. Certos da decadência do regime, os militares,
assegura Dias, conspiraram na intenção de ser fiadores da nova força política
do País, para tirar algum proveito dela. “Seu nome era visto com beneplácito e
o Dops acompanhou com bons olhos a fundação do PT”, garante hoje o coronel.
Lula depõe na Justiça Militar em 18 de agosto de 1980. No ano seguinte o STM anulou a sentença de três anos e meio de prisão |
Enfrentamento
com os militares
Após
comandar as greves históricas no ABC e ser preso por 31 dias com base na Lei de
Segurança Nacional, Lula foi julgado pelo Tribunal de Justiça Militar. Um dia
antes do julgamento de Lula e dos outros líderes sindicais, o advogado Luiz
Eduardo Greenhalgh foi ao local buscar as credenciais, quando viu uma cena
absurda. “Um soldado já estava datilografando a sentença antes mesmo de o
julgamento acontecer. Então pedi que me contasse de quanto tempo seria a
condenação de Lula”, relata. “Três anos e meio”, disse-lhe o soldado. Na mesma
noite, na reunião da diretoria do sindicato, Lula, ao saber do fato, bradou:
“Não vamos a uma farsa!”. E aproveitou para convidar todos os advogados e réus
para um café da manhã na casa dele, às 9h, horário do julgamento, que foi
anulado. Eles compareceram ao julgamento seguinte, mas a sentença ainda foi a
mesma: três anos e meio. No dia 2 de setembro de 1981, o Superior Tribunal
Militar anulou a sentença contra Lula e pediu novo julgamento. No ano
seguinte, o STM julgou-se incompetente e os processos foram prescritos.
Na campanha das Diretas Já com Fernando Henrique
Cardoso (à esq. no alto), entre Tancredo Neves e
Ulysses Guimarães (abaixo) e discursando durante a
Assembléia Nacional Constituinte em 1989
|
Nas
Diretas e no Congresso
A
primeira nota que Lula recebeu na política foi 10. A avaliação foi do Diap –
Departamento Intersindical de Atividade Parlamentar. Eleito o deputado federal
mais votado no Brasil, 650 mil votos, em 1986, Lula participou da Assembleia
Nacional Constituinte e levou para a bancada do partido discussões sobre os
direitos sociais dos trabalhadores. “Se
não tem trabalhador no Congresso, como é que os trabalhadores querem defender
seus direitos?”, comentava na época.
Foi
a única função pública que ocupou antes de chegar à Presidência do País. Dois
anos antes, em 1984, Lula foi um dos expoentes da campanha das Diretas Já, que
varreu o Brasil exigindo eleições democráticas para presidente da República.
Representando o PT – era o presidente do partido –, esteve nos comícios ao lado
do senador Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo Franco
Montoro, do prefeito de São Paulo Mário Covas e de Roberto Freire, então
deputado pelo PMDB. “Era um Lula atuante, vibrante. Ele já era uma liderança
importante, presidia o PT, que era um partido emergente, e nos ajudou a
mobilizar a população”, lembra Freire, hoje senador do PPS.
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