MUDANÇAS NA ILHA
País perdeu 85% do comércio exterior e 70% das importações no período 1990-1993
O Malecón é o lugar mais frequentado da capital cubana, Havana. O nome, em espanhol, quer dizer dique ou murada. A avenida nasce no castelo de San Salvador de la Punta, na parte antiga da cidade, à direita de quem vê as águas do Atlântico. Estende-se por oito quilômetros, até a fortaleza de Torreón de la Chorrera, próximo ao túnel que passa sob o rio Almendares e liga o bairro de Vedado ao distrito de Miramar, outrora habitado pela aristocracia da ilha. O trecho que une as duas metades da região central, a nova e a velha, vale como cartão postal do pequeno país que desafia um império.
País perdeu 85% do comércio exterior e 70% das importações no período 1990-1993
O Malecón é o lugar mais frequentado da capital cubana, Havana. O nome, em espanhol, quer dizer dique ou murada. A avenida nasce no castelo de San Salvador de la Punta, na parte antiga da cidade, à direita de quem vê as águas do Atlântico. Estende-se por oito quilômetros, até a fortaleza de Torreón de la Chorrera, próximo ao túnel que passa sob o rio Almendares e liga o bairro de Vedado ao distrito de Miramar, outrora habitado pela aristocracia da ilha. O trecho que une as duas metades da região central, a nova e a velha, vale como cartão postal do pequeno país que desafia um império.
Na parte antiga da cidade, chamada Havana Velha, declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), as obras de restauração conduzidas pelo arquiteto Eusébio Leal con vivem com casarões caindo aos pedaços, que fazem lembrar cenários de pós-guerra. Não há sinais de bombardeio ou fuzilaria, mas rastros de destruição pontuam a paisagem urbana. Há indícios, no entanto, de que a reconstrução avança. Placas sinalizam a existência de reformas em vários dos edifícios perfilados no Malecón, construídos pelos colonizadores espanhóis entre os séculos XVII e XIX. Muitos já exibem a formosura da época de batismo.
Yenni Muñoa/Opera Mundi
Vista panorâmica do Malecón, avenida que une as duas metades da região central, a nova e a velha, da capital cubana
Milhares de cidadãos vivem nessas casas, beneficiados pelas leis urbanas posteriores à revolução de 1959. Nos piores tempos sequer luz elétrica havia. O drama da nação caribenha teve origem no início dos anos 1960. O governo dos Estados Unidos, contrariado com a política aplicada pelos guerrilheiros de Fidel Castro, decretou o bloqueio total às transações financeiras e comerciais com Cuba. O país, de uma hora para outra, perdeu seu maior parceiro. O estrangulamento econômico fazia parte de uma estratégia política cujo objetivo era a derrocada dos revolucionários.
Apostava-se em Washington, então, que a população não resistiria ao pesadelo da escassez e se levantaria contra o governo dos barbudos. A CIA (Agência Central de Inteligência), convencida de suas previsões, organizou um comando formado por seguidores do ex-ditador Fulgencio Batista, com a missão de invadir, no dia 17 de abril de 1961, através de Playa Girón, o território cubano. A sedição foi batida em 65 horas, acossada por tropas regulares e milícias civis. Um dia antes Fidel havia declarado o “caráter socialista da revolução” e informado a adesão ao campo internacional liderado pela União Soviética.
Durante 30 anos o país viveu a implantação e o aprofundamento do modelo econômico anunciado em praça pública. Seus fundamentos eram a propriedade estatal e a planificação central, mas a meta diferia do alvo traçado pelos novos aliados. “Os soviéticos precisavam demonstrar que o socialismo tinha um potencial de desenvolvimento maior do que o capitalismo”, explica o economista Lázaro Peña, pesquisador do Centro de Investigações de Economia Internacional, vinculado à Universidade de Havana. “Nosso problema era outro, próprio de um país pobre e atrasado. Queríamos gerar as condições econômicas que permitissem elevar o padrão social do povo cubano.”
O pacto com a URSS e demais nações integrantes do Came (Conselho de Ajuda Mútua Econômica, o mercado comum dos estados socialistas) permitia à ilha adquirir, por exemplo, petróleo e máquinas através de escambo por açúcar, cotado a um preço acima do mercado mundial. A geopolítica da Guerra Fria favorecia os planos cubanos. “Chegávamos a receber combustível além de nossas necessidades internas”, recorda Peña. “Exportávam os o excedente e fazíamos divisas com essa matéria-prima apesar de não produzirmos uma gota de óleo bruto ou refinado.”
Vista panorâmica do Malecón, avenida que une as duas metades da região central, a nova e a velha, da capital cubana
Milhares de cidadãos vivem nessas casas, beneficiados pelas leis urbanas posteriores à revolução de 1959. Nos piores tempos sequer luz elétrica havia. O drama da nação caribenha teve origem no início dos anos 1960. O governo dos Estados Unidos, contrariado com a política aplicada pelos guerrilheiros de Fidel Castro, decretou o bloqueio total às transações financeiras e comerciais com Cuba. O país, de uma hora para outra, perdeu seu maior parceiro. O estrangulamento econômico fazia parte de uma estratégia política cujo objetivo era a derrocada dos revolucionários.
Apostava-se em Washington, então, que a população não resistiria ao pesadelo da escassez e se levantaria contra o governo dos barbudos. A CIA (Agência Central de Inteligência), convencida de suas previsões, organizou um comando formado por seguidores do ex-ditador Fulgencio Batista, com a missão de invadir, no dia 17 de abril de 1961, através de Playa Girón, o território cubano. A sedição foi batida em 65 horas, acossada por tropas regulares e milícias civis. Um dia antes Fidel havia declarado o “caráter socialista da revolução” e informado a adesão ao campo internacional liderado pela União Soviética.
Durante 30 anos o país viveu a implantação e o aprofundamento do modelo econômico anunciado em praça pública. Seus fundamentos eram a propriedade estatal e a planificação central, mas a meta diferia do alvo traçado pelos novos aliados. “Os soviéticos precisavam demonstrar que o socialismo tinha um potencial de desenvolvimento maior do que o capitalismo”, explica o economista Lázaro Peña, pesquisador do Centro de Investigações de Economia Internacional, vinculado à Universidade de Havana. “Nosso problema era outro, próprio de um país pobre e atrasado. Queríamos gerar as condições econômicas que permitissem elevar o padrão social do povo cubano.”
O pacto com a URSS e demais nações integrantes do Came (Conselho de Ajuda Mútua Econômica, o mercado comum dos estados socialistas) permitia à ilha adquirir, por exemplo, petróleo e máquinas através de escambo por açúcar, cotado a um preço acima do mercado mundial. A geopolítica da Guerra Fria favorecia os planos cubanos. “Chegávamos a receber combustível além de nossas necessidades internas”, recorda Peña. “Exportávam os o excedente e fazíamos divisas com essa matéria-prima apesar de não produzirmos uma gota de óleo bruto ou refinado.”
Efe
A queda de União Soviética comprometeu o desenvolvimento de Cuba, mas o país voltou a respirar nos anos 1990
Fim da URSS
Um dia, porém, a casa caiu. O fracasso das reformas lideradas por Mikhail Gorbatchev, o último presidente da era soviética, empurrou o gigante vermelho ladeira abaixo, levando junto seus associados. As camadas dirigentes desses países, dilaceradas pela crise, tremularam a bandeira branca. Quando o pavilhão com a foice e o martelo foi baixado pela última vez, marcando a dissolução da primeira pátria bolchevique, Cuba estava largada à própria sorte.
Bastaram poucos anos para a tragédia econômica equivaler à de uma guerra. A perda repentina de 85% do comércio exterior e 70% das importações seccionou a jugular da produção nacional, que caiu 34% entre 1990 e 1993. Apenas na recessão de 1929 houve casos com perdas dessa magnitude. O agravante, na situação cubana, foi o isolamento comercial. A combinação entre o bloqueio norte-americano e o colapso soviético parecia uma condenação à morte.
Os problemas se espalhavam por todos os lados. Carros e ônibus não circulavam devido à falta de combustível. Nas áreas agrícolas, a tração animal substituiu os motores nas tarefas de aragem, plantio e colheita. O consumo diário de calorias caiu de três mil para 1,8 mil. Apenas os velhos, as crianças e os doentes receberam alguma proteção.
Os trabalhadores recebiam salário, mas não havia o que comprar. O excesso de dinheiro provocou uma pressão inflacionária. A cotação do dólar atingiu 120 pesos no mercado negro – uma desvalorização de 12.000% em relação ao câmbio oficial. Na prática, ocorreu um brutal encarecimento do custo de vida, uma vez que os cubanos recorriam permanentemente à economia paralela, cotada em moeda estrangeira, para abastecer suas casas. O país beijava a lona.
O presidente Fidel Castro declarou que a nação havia entrado em um “período especial”, por tempo indeterminado, no qual se jogava a sobrevivência da revolução em uma árdua guerra econômica. A situação só começou a melhorar quando o país se abriu para o turismo e os investimentos externos, ainda nos anos 1990. Deu um salto adiante depois da eleição de governos simpáticos a Cuba na Venezuela e no Brasil, ao se criar cenário comercial e creditício mais favorável.
Cuba, então, voltou a respirar e a reunir forças para encarar os graves problemas herdados do modelo que havia sido estabelecido na era soviética.
A queda de União Soviética comprometeu o desenvolvimento de Cuba, mas o país voltou a respirar nos anos 1990
Fim da URSS
Um dia, porém, a casa caiu. O fracasso das reformas lideradas por Mikhail Gorbatchev, o último presidente da era soviética, empurrou o gigante vermelho ladeira abaixo, levando junto seus associados. As camadas dirigentes desses países, dilaceradas pela crise, tremularam a bandeira branca. Quando o pavilhão com a foice e o martelo foi baixado pela última vez, marcando a dissolução da primeira pátria bolchevique, Cuba estava largada à própria sorte.
Bastaram poucos anos para a tragédia econômica equivaler à de uma guerra. A perda repentina de 85% do comércio exterior e 70% das importações seccionou a jugular da produção nacional, que caiu 34% entre 1990 e 1993. Apenas na recessão de 1929 houve casos com perdas dessa magnitude. O agravante, na situação cubana, foi o isolamento comercial. A combinação entre o bloqueio norte-americano e o colapso soviético parecia uma condenação à morte.
Os problemas se espalhavam por todos os lados. Carros e ônibus não circulavam devido à falta de combustível. Nas áreas agrícolas, a tração animal substituiu os motores nas tarefas de aragem, plantio e colheita. O consumo diário de calorias caiu de três mil para 1,8 mil. Apenas os velhos, as crianças e os doentes receberam alguma proteção.
Os trabalhadores recebiam salário, mas não havia o que comprar. O excesso de dinheiro provocou uma pressão inflacionária. A cotação do dólar atingiu 120 pesos no mercado negro – uma desvalorização de 12.000% em relação ao câmbio oficial. Na prática, ocorreu um brutal encarecimento do custo de vida, uma vez que os cubanos recorriam permanentemente à economia paralela, cotada em moeda estrangeira, para abastecer suas casas. O país beijava a lona.
O presidente Fidel Castro declarou que a nação havia entrado em um “período especial”, por tempo indeterminado, no qual se jogava a sobrevivência da revolução em uma árdua guerra econômica. A situação só começou a melhorar quando o país se abriu para o turismo e os investimentos externos, ainda nos anos 1990. Deu um salto adiante depois da eleição de governos simpáticos a Cuba na Venezuela e no Brasil, ao se criar cenário comercial e creditício mais favorável.
Cuba, então, voltou a respirar e a reunir forças para encarar os graves problemas herdados do modelo que havia sido estabelecido na era soviética.
Via operamundi
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