domingo, 24 de março de 2013

"Kamasutra" não é manual sobre posições sexuais


Segundo Josélia Aguiar da Folha de S. Paulo, o "Kamasutra" que chega às livrarias pelo selo Tordesilhas é talvez o mais distinto de todos os que o leitor brasileiro já viu, mas é ao mesmo tempo aquele que pretende ser o mais próximo da obra milenar indiana.

A primeira diferença é que esta é a primeira versão integral traduzida diretamente do sânscrito. O que se buscou foi eliminar intervenções indevidas e distorções que o texto adquiriu em duzentos anos de traduções no Ocidente, desde a primeira versão para o inglês, feita por Richard Burton no século 19.

Capa dura, sobrecapa, papel e fontes usadas conferem aparência nobre ao livro, que é tantas vezes encontrado nas livrarias em formatos mais simples e até toscos.

O mais importante, dizem seu editor, Joaci Furtado, e os tradutores, Juliana Di Fiori e Daniel Miranda, é ressaltar para o leitor que se trata de um livro sobre desejos e prazeres, relacionados ao sexo, mas não só a ele. Apenas um dos capítulos, por exemplo, é dedicado a posições sexuais, ao contrário do que se costuma pensar da obra milenar.

Para além do desgaste da marca --que se encontra em manuais superilustrados e até em vídeos pornôs--, era preciso recuperar sua proposta original, a de servir como tratado de bem viver. "O `Kamasutra` se tornou objeto de incansáveis e descabidos apelos do marketing pornô", explica a ensaísta e tradutora Eliane Robert de Moraes, professora da USP e autora do posfácio. "Obviamente, os
produtos da pornografia comercial que atendem por esse nome nada têm em comum com o misterioso tratado indiano."

Pior ainda, acrescenta Eliane: "O problema não está apenas nessa diferença abissal, mas no fato de proliferação de falsos `Kamasutras` representar uma forma de censura ao tratado original", explica.

Juliana Di Fiori e Daniel Miranda contam que, para traduzir a obra, as primeiras dificuldades foram aquelas próprias da língua sânscrita, que possui um sistema sintático muito diferente do português. O vocabulário usado na época também era muito distinto. "Os dicionários não registram as variações segundo as épocas, tampouco os termos com conotações sexuais", explica Juliana.

A tradutora conta que o universo cultural e sexual que encontraram foi de certo modo inusitado. Um exemplo é saber que havia a preocupação com o papel e o prazer da mulher no sexo. "Nada machista, como pensávamos, para a cultura da época", diz. Outro é encontrar a denominação dada aos homossexuais na obra: as "pessoas do terceiro sexo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!

Abração

Dag Vulpi

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

Seguir No Facebook