Presidente Michel Temer durante desembarque em Paulo
Afonso na Bahia - Beto Barata/Divulgação Presidência
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Por Jailton
de Carvalho no O Globo
BRASÍLIA — O
ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho
disse - na delação premiada que fez ao Ministério Público Federal e ainda
depende de homologação do Supremo Tribunal Federal (STF), divulgada ontem pelo
“Jornal Nacional”, da TV Globo - que entregou dinheiro em espécie no escritório
do advogado José Yunes, amigo e assessor especial do presidente Temer, durante
a campanha eleitoral de 2014. O pagamento faria parte de um repasse de R$ 10
milhões que, segundo narrou Claudio Melo na delação, Temer negociara “direta e
pessoalmente” com o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht, numa
reunião no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, dois meses depois do início da
Lava-Jato.
Em nota, Temer diz que repudia “com veemência as falsas acusações do senhor
Cláudio Melo Filho”. “As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB
foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa
dois, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente”, diz a nota.
Melo não se
limitou a apontar para o PMDB. Também denunciou como destinatários de
pagamentos da Odebrecht os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL); da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha; o
secretário executivo do PPI, Moreira Franco; o líder do governo no Senado,
Romero Jucá (PMDB-RR); o líder do PMDB no Senado Eunício Oliveira (PMDB-CE); o
ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner
(PT).
No caso do
ex-ministro dos governos Lula e Dilma, o delator afirmou em depoimento que
Marcelo Odebrecht se reuniu com Wagner, pela primeira vez, em 2006, quando o
petista pediu ajuda financeira para a campanha ao governo da Bahia. O pedido
teria ocorrido em jantar em Brasília. Teriam sido pagos R$ 3 milhões, de forma
oficial e também em caixa dois. Em troca, Wagner resolveria para a empreiteira
pendências relacionadas ao Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia.
Ainda de
acordo com o delator, na Campanha seguinte, de 2010, foram pagos R$ 7,5
milhões, em 10 parcelas, entre agosto 2010 e março 2011.
Em relação à
campanha de 2014, Melo afirmou que acredita que foram repassados R$ 10 milhões,
mas não participou das negociações.
O delator
ainda mencionou que deu ao ex-governador presentes caros, como um relógio,
avaliado em US$ 20 mil, no aniversário de 2012.
Também
aparecem na lista de Cláudio Melo o ex-ministro Geddel Vieira Lima, a senadora
Kátia Abreu (PMDB-TO), o deputado Marco Maia (PT-RS) e Antonio Palocci,
ex-ministro dos governos Lula e Dilma, entre outros. Segundo Melo, a Odebrecht
fazia pagamentos em troca de apoio dos políticos a interesses da empresa. Entre
os principais arrecadadores do partido estavam Padilha e Moreira Franco. O
delator sustenta que Temer, em pelo menos uma oportunidade, também pediu
dinheiro.
O pedido,
segundo ele, teria acontecido numa reunião entre Temer, o então presidente da
Odebrecht Marcelo Odebrecht e Padilha, no Palácio do Jaburu, residência oficial
do vice-presidente da República, em maio de 2014. A assessoria de Temer
confirma a reunião, mas nega qualquer pedido de caixa dois. O local da reunião,
um palácio do governo, teria sido escolhido para realçar a importância do
pedido de contribuição financeira à maior empreiteira do país. “Michel Temer
solicitou direta e pessoalmente a Marcelo Odebrecht apoio financeiro para as
campanhas de 2014”, disse Melo.
PADILHA TERIA
RECEBIDO R$ 4 MILHÕES
Na mesma
reunião, Marcelo Odebrecht teria concordado em atender ao pedido de Temer.
Segundo Melo, parte dos R$ 10 milhões foram entregues em espécie no escritório
de Yunes. O executivo disse ainda que, do total combinado entre Temer e Marcelo
Odebrecht, R$ 6 milhões seriam para a campanha de Paulo Skaf, presidente da
Fiesp e candidato do PMDB ao governo de São Paulo em 2014. Os R$ 4 milhões
restantes teriam como destinatário Padilha, responsável pela distribuição do
dinheiro entre outras campanhas do partido. Padilha nega ter cuidado de
recursos. “Não fui candidato em 2014. Nunca tratei de arrecadação para
deputados ou para quem quer que seja. A acusação é uma mentira. Tenho certeza
que no final isto restará comprovado”, afirma o ministro, via assessoria.
Esta não é a
primeira vez que o nome de Yunes aparece na Lava-Jato associado a supostas
movimentações financeiras de Temer. Em uma das perguntas endereçadas ao
presidente, o ex-deputado Eduardo Cunha levanta suspeita sobre a relação entre
os dois e um suposto caixa dois. “O sr. José Yunes recebeu alguma contribuição
de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB, de forma
oficial ou não declarada ?”, indagou Cunha.
O ex-deputado
fez a pergunta a Temer no processo em que é acusado de receber propina para
intermediar a venda de um campo seco de petróleo no Benin para a Petrobras.
Temer é uma das testemunhas arroladas pela defesa do ex-deputado, que está
preso em Curitiba. O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, vetou
esta e mais outras 20 perguntas do ex-deputado. A explicação foi que as
questões não estavam relacionadas diretamente com o processo contra o
ex-deputado. Se quisesse, o presidente poderia responder as perguntas fora dos
autos, mas até agora não o fez.
Na lista de
pagamentos, os destinatários do dinheiro eram tratados por apelidos. Renan
seria chamado de “Justiça”; Geddel, de “Babel”; Moreira Franco, de “Angorá”;
Cunha, de “Carangueijo” e Jaques Wagner de “Polo”.
O secretário
de Comunicação da Presidência, Márcio Freitas, negou que emissários da Odebrecht
tenham entregue dinheiro vivo no escritório de Yunes. Segundo ele, de fato
Temer pediu contribuição financeira para Marcelo Odebrecht, e o empresário
concordou em atender ao pleito, mas todos os recursos foram declarados.
— Esse
dinheiro jamais foi entregue no escritório de José Yunes. Ele não arrecadou
para aquela campanha. Os recursos solicitados (por Temer) foram doados e
declarados à Justiça Eleitoral — disse Freitas.
Amigo de Temer
há 40 anos, Yunes foi tesoureiro do PMDB em São Paulo. Hoje é assessor especial
de Temer no Palácio do Planalto. Procurada pelo GLOBO, a Odebrecht respondeu
que “não se manifesta sobre negociação com a Justiça”.
Mais de 80
procuradores da Repúblicas foram destacados para interrogar os 77 executivos da
Odebrecht que fizeram acordo de delação premiada. Também serão ouvidas
testemunhas, pessoas que tem conhecimento das fraudes, embora não tenham se
envolvido diretamente com os crimes. Ao todo, deverão ser ouvidas mais de cem
pessoas. Segundo fontes ligadas ao caso, as delações são amparadas em cópias de
e-mails, de troca de mensagens por celular e extratos bancários, entre outros
documentos.
O presidente
da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou, via assessoria, que “todas as doações
recebidas foram legais e devidamente declaradas ao TSE”.: “O deputado nega com
veemência a acusação de ter participado de qualquer tipo de negociação com a
Odebrecht para aprovação de medida provisória ou de outra proposta legislativa.
Ele afirma que as declarações veiculadas pela imprensa são “absurdas” e que
nunca recebeu nenhuma vantagem indevida para votar qualquer matéria na Casa”.
Moreira Franco também rebateu o conteúdo da delação. “É mentira. Reitero que
jamais falei de política ou de recursos para o PMDB com o senhor Cláudio Melo
Filho”, disse via assessoria. O mesmo fez Eunício Oliveira, líder do PMDB. “O
senador nunca autorizou o uso de seu nome por terceiros e jamais recebeu
recursos para aprovação de projetos ou apresentação de emendas legislativas”,
disse, por nota.
A senadora
Kátia Abreu refutou as acusações:
— Não existe a
menor possibilidade de haver uma menção negativa a meu respeito.
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