O tombo das bolsas na semana passada pode ter parecido um relâmpago em céu azul, mas só para os desatentos e os mais influenciáveis pelo pensamento chapa-branca dos governantes tentando mostrar otimismo. Ainda na semana anterior ao desmanche dos mercados, no dia do anúncio do segundo pacote europeu de ajuda à Grécia, fui convidado por um canal de notícias a comentar. Provocado, disparei, com aparente irreverência: “Mais uma rodada das mentiras oficiais!”.
Não me referia ao esforço das autoridades europeias. A “mentira” estava no evidente exagero de quererem passar ao mercado a ideia de que ali se poderia comemorar o ponto final da crise de financiamento do país mais quebrado da Europa. O afã dos líderes europeus em sair de férias, coisa que lá acontece em agosto, deve ter contribuído para o atropelo de mais um pacote mal explicado e claramente insuficiente. Os mercados não gostaram e passaram a especular também contra Espanha e Itália, ampliando o arco da crise de confiança.
Do outro lado do Atlântico, os congressistas em Washington acrescentavam uma notável contribuição à crise de dúvidas, ao deixar claro que não existe mais, no legislativo americano, um “centrão” político para dar estabilidade ao processo de negociação entre democratas e republicanos. Isso é constatação muito séria. Tão séria quanto os números do enorme e persistente desequilíbrio fiscal, herança legada a Obama pela enlouquecida era Bush.
Tinha razão Uwe Bott, nosso economista colaborador em Nova York, quando apontou, ainda em 2009, para a importância do impasse político no Congresso dos Estados Unidos como um fator decisivo para justificar nossa decisão, na SR Rating, de rebaixar a dívida federal dos Estados Unidos da nota máxima “AAA” para uma inferior, “AA”. ÉPOCA registrou essa mudança. Hoje, o desafio político dos EUA permanece: as eleições de 2012 testarão se eles voltarão logo, ou não, à condição de país “AAA”. Só a partir de 2013 será possível reavaliar o grau de compromisso do novo governo em adotar um reforço para a debilitada arrecadação fiscal e, principalmente, cortar fundo nas despesas militares. É tudo que os republicanos não querem, mas terão de fazer ou apoiar, para mudar a trajetória explosiva da dívida e colocá-la de volta nos trilhos.
Os mercados de ativos, inclusive a Bolsa, aqui como lá, pareciam não estar enxergando esses profundos desequilíbrios nem calculando o tempo e os riscos envolvidos na viagem de volta ao equilíbrio fiscal, tanto nos EUA quanto na Europa. Um desses riscos é a competição comercial predatória, especialmente na indústria, que já põe o Brasil como perdedor atual e potencial.
A inserção de centenas de milhões de novos produtores industriais na Ásia, especialmente da China e, agora, em outros emergentes, deslocou o eixo produtivo para fora dos EUA e de parte da Europa (atenção às notáveis exceções como Suécia, Alemanha e Finlândia). Os EUA trocaram produção física por produção de papéis de dívida e saíram gastando. Tal desequilíbrio competitivo está na raiz desta crise. Essa é a razão de não funcionarem bem os remédios keynesianos de tentar acelerar o consumo doméstico com déficits fiscais brutais e juro zero. O Fed, banco central americano, acaba de reconhecer que está sem munição nova, após os custosos afrouxamentos já praticados.
Agora os mercados percebem que os remédios para a crise apenas pedalaram a doença para o futuro. A constatação de que nada estava melhorando motivou o rebaixamento americano. É um reconhecimento até tardio por outras agências de risco de que o quadro de desalento americano é grave e vai demorar a passar, até porque depende de países como a China assimilarem seu novo papel como consumidores mundiais, abrindo espaços para mais empregos a serem criados nos países de dívidas elevadas. O Brasil, que é um país de endividamento intermediário e modesto dinamismo, deve aprender a fazer muito mais para proteger melhor seus próprios empregos.
Não me referia ao esforço das autoridades europeias. A “mentira” estava no evidente exagero de quererem passar ao mercado a ideia de que ali se poderia comemorar o ponto final da crise de financiamento do país mais quebrado da Europa. O afã dos líderes europeus em sair de férias, coisa que lá acontece em agosto, deve ter contribuído para o atropelo de mais um pacote mal explicado e claramente insuficiente. Os mercados não gostaram e passaram a especular também contra Espanha e Itália, ampliando o arco da crise de confiança.
Do outro lado do Atlântico, os congressistas em Washington acrescentavam uma notável contribuição à crise de dúvidas, ao deixar claro que não existe mais, no legislativo americano, um “centrão” político para dar estabilidade ao processo de negociação entre democratas e republicanos. Isso é constatação muito séria. Tão séria quanto os números do enorme e persistente desequilíbrio fiscal, herança legada a Obama pela enlouquecida era Bush.
Tinha razão Uwe Bott, nosso economista colaborador em Nova York, quando apontou, ainda em 2009, para a importância do impasse político no Congresso dos Estados Unidos como um fator decisivo para justificar nossa decisão, na SR Rating, de rebaixar a dívida federal dos Estados Unidos da nota máxima “AAA” para uma inferior, “AA”. ÉPOCA registrou essa mudança. Hoje, o desafio político dos EUA permanece: as eleições de 2012 testarão se eles voltarão logo, ou não, à condição de país “AAA”. Só a partir de 2013 será possível reavaliar o grau de compromisso do novo governo em adotar um reforço para a debilitada arrecadação fiscal e, principalmente, cortar fundo nas despesas militares. É tudo que os republicanos não querem, mas terão de fazer ou apoiar, para mudar a trajetória explosiva da dívida e colocá-la de volta nos trilhos.
Os mercados de ativos, inclusive a Bolsa, aqui como lá, pareciam não estar enxergando esses profundos desequilíbrios nem calculando o tempo e os riscos envolvidos na viagem de volta ao equilíbrio fiscal, tanto nos EUA quanto na Europa. Um desses riscos é a competição comercial predatória, especialmente na indústria, que já põe o Brasil como perdedor atual e potencial.
A inserção de centenas de milhões de novos produtores industriais na Ásia, especialmente da China e, agora, em outros emergentes, deslocou o eixo produtivo para fora dos EUA e de parte da Europa (atenção às notáveis exceções como Suécia, Alemanha e Finlândia). Os EUA trocaram produção física por produção de papéis de dívida e saíram gastando. Tal desequilíbrio competitivo está na raiz desta crise. Essa é a razão de não funcionarem bem os remédios keynesianos de tentar acelerar o consumo doméstico com déficits fiscais brutais e juro zero. O Fed, banco central americano, acaba de reconhecer que está sem munição nova, após os custosos afrouxamentos já praticados.
Agora os mercados percebem que os remédios para a crise apenas pedalaram a doença para o futuro. A constatação de que nada estava melhorando motivou o rebaixamento americano. É um reconhecimento até tardio por outras agências de risco de que o quadro de desalento americano é grave e vai demorar a passar, até porque depende de países como a China assimilarem seu novo papel como consumidores mundiais, abrindo espaços para mais empregos a serem criados nos países de dívidas elevadas. O Brasil, que é um país de endividamento intermediário e modesto dinamismo, deve aprender a fazer muito mais para proteger melhor seus próprios empregos.
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Dag Vulpi