domingo, 22 de fevereiro de 2015

Carta de um escritor da Guiné Equatorial aos cariocas




Queridos cariocas:
Lemos através de certo meio de informação do Sudão do Sul que o ditador-presidente da Guiné Equatorial fez uma doação de USD 3,5 milhões a uma associação carnavalesca da vossa cidade, em concreto, à da Beija-Flor. Uma doação tão oportuna que a afortunada associação carnavalesca arrecadou o primeiro prémio.

Como engenheiro em letras que somos, os números representados não davam muita informação e resolvemos traduzi-los a francos CFA, a unidade monetária vigente no país que o mencionado ditador controla totalmente desde 3 de Agosto de 1979. Num câmbio rápido, USD 3.500.000×575=2.012.500.000 Francos CFA. Uma quantidade que, por agora, e como mostra do escândalo, superior ao que gastou o mesmo nos últimos dez anos no ensino médio e superior do seu país, que por coincidência é o mesmo dos equato-guineenses.

Como sabemos que em dez longos anos o sátrapa guineense não gastou essa quantidade no ensino médio e superior do seu país se não temos dados?

Porque no seu país apesar do medo aos números, para este caso não são precisos dados. Conhecemos o estado das escolas do país, sabemos que as bibliotecas da sua única universidade carecem de fundos bibliográficos e vimos como todas têm até falta de lâmpadas, que no seu país custam um dólar cada, tão somente um, e não cremos que seja barato, apenas acessível.
Das escolas primárias da Guiné Equatorial não falaremos porque, sinceramente, o aluvião de lágrimas que inundariam os nossos olhos nos impediriam de continuar a escrever.

Para que percebam que este lamento não é novo, vejam este link.

E que coincidência impressionante que o clamor tenha aparecido, há bastantes meses, em torno do nome de um filho predilecto do Brasil.

Se nesse artigo mencionamos o gosto doentio que todos os membros da família Obiang têm por rabos, entenderão os cariocas que há um intento escondido de debilitar a vossa muito colorida cultura, reduzindo-a a uma mostra de nalgas que põe em pé os abastados do mundo inteiro e aviva as paixões apagadas do mundo puritano. Não vamos fazê-lo.

Porém, temos de dizer duas coisas para que tenham ideia do furor que causa este acontecimento no corpo político do país: se o ditador-em-chefe tivesse dado uma quinta parte desse dinheiro a qualquer associação já teria sido um desperdício enorme. Saibam que aos jogos carnavalescos robustecidos pelo dinheiro guineense acudiu uma delegação de 30 membros, todos eles altos funcionários que não estavam de férias, encabeçada pelo segundo vice-presidente, a pessoa que, hoje, e por ser o filho mimado do casal governante, tem mais papéis para lhe suceder e assim perpetuar as desgraças que nos assaltam, sendo nós apenas uns 900 mil habitantes.

Então, não é a obsessão doentia que faz mover o ditador guineense, o que o faz mover é o espírito do mecenato de que fica possuído cada vez que vislumbra a possibilidade de ajudar os negros espalhados pelo mundo, esses negros que sofrem a pobreza e a opressão do mundo colonial, branco, racista e xenófobo. Houve aqui algum interesse em destacar o país onde lemos a notícia? Porque qualquer alma mais ingénua acreditaria que a entrega de um décimo do que a Guiné Equatorial gastou em danças seria suficiente para salvar centenas de vidas no maltratado Sudão do Sul, um país que também é de negros.

Francamente, cariocas, são as múltiplas necessidades das pessoas mais próximas de Obiang que fazem com que o facto de terem aceitado este patrocínio implica que para sempre tenham o vosso nome ligado a esta demência.

México DF, 19 de Fevereiro de 2015.

(Tradução de António Rodrigues)
Juan Tomás Ávila vive actualmente exilado no México, depois de ter vivido em Espanha. Por delito de pensamento não pode viver livremente no seu país, a Guiné Equatorial, onde o presidente Teodor Obiang é ditador desde 1979. A Guiné Equatorial é uma antiga colónia espanhola na África Ocidental que se tornou independente em 1968 e desde então só conheceu dois presidentes: Francisco Nguema, um ditador que mandou matar milhares de opositores, e Teodor Obiang Nguema, o seu sobrinho, que o derrubou e matou.

Blogueira do Globo que ridicularizou pobres explica fim do blog

Da blogueira Silvia Pilz:
Sobre o fim do blog Zona de Desconforto. A proposta era trazer ao jornal alguns assuntos que não são naturalmente abordados em jornais e discuti-los aberta e francamente. Dizer o que ninguém tem coragem de dizer. Fazer com que as pessoas reavaliassem hábitos e costumes. O blog foi concebido para tratar de hipocrisia, questionar valores e comportamento.

A proposta funcionou enquanto o debate girava em torno de questões sexuais ou temas da família. Mas desandou quando resolvi abordar com a mesma franqueza temas que envolvem minorias, incapazes, desvalidos e desfavorecidos. O post “O plano cobre”, em que satirizo o deslumbramento e o comportamento do pobre – nova classe média – diante das oportunidades oferecidas pelos planos de saúde, desencadeou uma onda de reprovação inesperada. A situação tornou-se tragicômica e insustentável para a imagem do jornal O Globo.

Depois desse post, que gerou um terremoto nas redes sociais, leitores revoltados foram buscar outros textos no acervo do Blog. A onda de reprovação cresceu e tomou proporções insuportáveis quando começaram as ofensas pessoais. Fui chamada de nazista e fascista por dizer – em um desses posts – que os adultos escondem o desconforto que sentem – por exemplo – quando se deparam com crianças com síndrome de Down ou anões. Enfim, preconceitos velados e disfarçados, de um modo geral, não foram bem aceitos pelos leitores politicamente corretos. 

Leia abaixo o texto na íntegra:

Beija Flor é vaiada no desfile das campeãs




Campeã do Carnaval carioca deste ano com um enredo sobre a Guiné Equatorial, que recebeu um polêmico patrocínio da ditadura que governa o país, a escola de samba Beija Flor foi vaiada por boa parte do público presente no sambódromo na noite deste sábado (21), para o desfile das campeãs.

A vaia aconteceu pouco antes do início dos desfiles, quando o locutor oficial da festa nomeou todas as escolas que se apresentariam, pela ordem: Imperatriz Leopoldinense, Portela, Unidos da Tijuca, Grande Rio, Salgueiro e Beija Flor.

Ao citar a escola de Nilópolis, os torcedores da campeã a saudaram, mas foram rapidamente superados pelas vaias vindas da maioria da plateia.

O patrocínio da Guiné Equatorial, estimado entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, teria vindo por meio de empresas brasileiras que atuam no país, segundo o próprio governo.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Justiça determina redução de preços da gasolina em postos do Maranhão




Por Marcelo Brandão - Agência Brasil 
O juiz titular da Vara de Interesses Difusos e Coletivos de São Luís, Douglas de Melo Martins, determinou que postos de gasolina da capital maranhense reduzam os preços dos combustíveis. A Rede Estadual em Defesa do Consumidor (RedCon) entrou com uma ação civil pública contra 244 postos da cidade, que aumentaram os preços dos combustíveis acima do reajuste autorizado pelo governo federal.

O aumento esperado era, no máximo, de R$ 0,22 para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel. Foram constatados, porém, aumentos acima de R$ 0,50. A determinação judicial menciona, ainda, o restabelecimento do preço do etanol e uma multa de R$ 20 mil por dia de descumprimento.

A RedCon, formada pelo Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Estado, o Ministério Público do Estado e a Delegacia de Proteção do Consumidor, dentre outros órgãos, obteve informações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) de que o repasse não justificaria um aumento tão grande na bomba. Com isso, a entidade entrou com a ação, cuja decisão foi publicada no último dia 13.

“A decisão é uma grande vitória da população maranhense e demonstra que, a partir de agora, em nosso estado as leis serão respeitadas”, disse o diretor do Procon-MA, Duarte Júnior. Na opinião do defensor público Luís Otávio, a decisão mostra que os órgãos de defesa do consumidor, juntos, podem trabalhar pela garantia dos direitos da população.

Swiss Leaks: entenda a fraude fiscal no HSBC

Por Luiz Claudio Ferreira Edição:Portal EBC
Um escândalo financeiro de repercussão em todo o mundo, que envolve a filial suíça do banco HSBC, tem chamado a atenção tanto pelos valores envolvidos quanto pela relevância das descobertas e do possível desenrolar do caso. Documentos secretos revelaram que a instituição financeira atraiu 106 mil clientes, entre suspeitos de sonegação e de diversos crimes (incluindo traficantes e terroristas) em 203 países entre os anos de 1988 e 2007.  A quantia somada chegou a US$ 100 bilhões. Nomes de 8.667 brasileiros estão na lista. Os dados vieram à tona a partir de uma apuração do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ na sigla em inglês), que não divulgou a lista total dos correntistas suspeitos. O caso, chamado de “Swiss Leaks” (que significa vazamentos suíços, em alusão ao projeto Wiki Leaks, de Julian Assange), chamou a atenção de autoridades e organismos de controle em todo o mundo.

A entidade de jornalistas recebeu o material vazado por um ex-funcionário do HSBC, Herve Falciani, para autoridades francesas em 2008. O consórcio e o jornal francês Le Monde enviaram o conteúdo para 140 jornalistas de 45 países.  A apuração dos jornalistas aponta que a filial suíça aproveitou-se das falhas nas regras fiscais do país para ajudar quem estivesse disposto a sonegar ou esconder dinheiro. A lista, segundo o ICIJ, inclui artistas, celebridades e esportistas. Apenas 65 nomes foram revelados. Estão entre os suspeitos antigos e atuais políticos da Grã-Bretanha, Rússia, Ucrânia, Geórgia, Quênia, Romênia, Índia, Liechtenstein, México, Líbano, Tunísia, República Democrática do Congo, Zimbábue, Ruanda, Paraguai, Djibouti, Senegal, Filipinas e Argélia. Sobre a divulgação parcial dos dados, o consórcio justifica que apenas nomes de “interesse público” serão revelados.

Confira reportagem do Repórter Brasil sobre o caso HSBC

 

Quem são os brasileiros envolvidos no escândalo?

De acordo com o dossiê do ICIJ , o Brasil foi colocado em 9° lugar entre os países com a maior movimentação de dinheiro (7 bilhões de euros, o equivalente a cerca de R$ 20 bilhões) e em 4º em número de correntistas com operações investigadas: 8.667 correntistas ligadas a 6.606 contas. As informações disponibilizadas pelo consórcio indicam que houve uma evolução no número de contas abertas ao longo dos anos. Em 1.989 eram 427, saltou para 1379 dois anos depois, chegou a 1899 em 2.002 e, passados cinco anos, o número ficou em 1896. Entre os correntistas, estariam, segundo os dados disponibilizados, o banqueiro Edmond Safra (morto em 1999) e da família Steinbruch (que controla o grupo têxtil Vicunha).



Pós-doutor em direito tributário, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Valcir Gassen explica que as autoridades brasileiras devem aproveitar a denúncia para investigar com mais agilidade as suspeitas. “É preciso, em primeiro lugar, separar o joio do trigo. Podem haver contas legais que, por causa da morosidade da investigação, ficam sob suspeita. Para isso, a Receita Federal pode rapidamente cruzar os dados com os CPFs desses brasileiros”, explica o professor.

Gassen acredita que os dados não chegam a surpreender. Ele contextualiza que, em 1985, no processo de redemocratização do país após o regime ditatorial, o Brasil tinha se tornado a quarta pior concentração de renda do mundo. “Isso é explicado pelo fato de que a renda sempre esteve no país ligada a uma pequena parcela da população. Uma das razões disso é, sem dúvida, a sonegação tributária. A maioria ganha pouco e paga muito, enquanto que a minoria ganha muito e consegue encontrar alternativas para não pagar. Desde a redemocratização, o país aperfeiçoou a vigilância e o rigor, mas ainda está muito longe do ideal. As instituições precisam ter uma atuação mais cidadã”.

Também especialista na área, o advogado Eduardo Diamantino ratifica que as autoridades brasileiras têm uma “agenda longa a percorrer” para tornar a fiscalização mais atuante. Ele cita que o Brasil precisa ter um eficaz tratado de troca de informações com a Suíça para diminuir as chances de evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Para ele, autoridades admitem a possibilidade de encontrar formas de repatriar esse dinheiro e uma das formas seria com algum tipo de anistia a quem mandou dinheiro para fora sem pagar os impostos devidos. “Existem projetos no Congresso para regularizar esse capital. Por outro lado, as leis se tornaram mais rigorosas para combater o crime”. Uma delas é a de número 12.683/2012, que tornou mais severas as multas para lavagem de dinheiro (aumentou de R$ 200 mil para R$ 20 milhões) e a possibilidade de punição a quem remeteu o dinheiro por qualquer origem ilícita. Antes era limitada a crimes como tráfico e terrorismo.   

Por que as pessoas mandam dinheiro para Suíça?

O sigilo bancário, com contas identificadas por números substituindo nomes, foi fundamental para que os bancos privados na Suíça se tornassem uma espécie de paraíso fiscal, um chamariz para dinheiro ilegal. Não havendo rigor na identificação, pode se propiciar sonegação e lavagem de dinheiro. Nos últimos cinco anos, porém, o país tem endurecido as normas para correntistas a fim de que o país não perca credibilidade na atração de capitais regulares.

“Existe uma necessidade de transparência. A Suíça tem feito esforço muito grande para combater remessas ilegais e a imagem de um paraíso para dinheiro originário de crimes”, aponta Eduardo Diamantino, especialista em direito tributário, . Desde a última década, com um acordo denominado FACTA entre Suíça e Estados Unidos, impôs-se um novo padrão de exigência. “Os dados vazados do HSBC devem ser semelhantes a outros bancos grandes, levando-se em conta o período. Sem dúvida, isso mudou nos últimos anos”.

O professor Valcir Gassen entende da mesma forma e acredita que o país europeu tem levado a sério as medidas de identificação. “Os países, incluindo o Brasil, precisam estreitar os laços com a Suíça, o que deve fechar o cerco contra dinheiro do crime.”

O que diz o banco?

O HSBC lamentou as falhas no processo e no rigor de receber as contas com origens suspeitas. “Nós reconhecemos que os padrões de segurança na filial suíça do HSBC foram significativamente menores do que são hoje". Em nota, a instituição financeira garantiu que mudou bastante as normas para evitar problemas como esse que abalaram a imagem e a credibilidade. "Passos significativos ao longo dos últimos anos foram dados para implementar reformas”. O texto acrescenta que clientes que não preenchiam os novos padrões rigorosos da instituição foram excluídos, “incluindo aqueles onde tivemos preocupações em relação ao cumprimento das obrigações fiscais". O banco garantiu que promoveu uma reorientação dos negócios. "Como resultado deste reposicionamento, Swiss banco privado HSBC reduziu sua base de clientes em quase 70% desde 2007."

O que diz o Consórcio de Jornalistas?

A divulgação dos dados para o público está ainda restrita a 140 jornalistas do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que tem sede em Washington (EUA), e que se identifica como sem fins lucrativos.  No Brasil, o repórter Fernando Rodrigues, que edita blog publicado pelo grupo UOL, é o profissional que tem conhecimento dos dados.

Nesta semana, ele explicou que apura as informações desde o ano passado e que está fazendo uma “minuciosa checagem” para publicar apenas nomes com “interesse público” a fim de não violar a privacidade desses correntistas. Segundo ele, a maioria dos nomes é desconhecida do grande público. Ele acrescentou que não tem contado com o apoio das autoridades brasileiras para checagens de dados.

O que diz a Receita Federal brasileira?

A Receita Federal  admitiu, nesta semana, que pôde constatar irregularidades de contribuintes. “As análises preliminares de alguns contribuintes já revelam hipóteses de omissão ou incompatibilidade de informações prestadas ao Fisco Brasileiro”, informou em nota. De acordo com a Receita, a unidade de inteligência do órgão teve acesso à parte da lista de pessoas “supostamente” com contas na filial suíça do HSBC.

Como procedimento de investigação, a Receita garante que aprofunda a pesquisa e busca mais informações sobre a denúncia publicada pelo Consórcio de Jornalistas Investigativos para que exista punição aos envolvidos. “(A receita faz) o levantamento de possíveis valores não declarados, passíveis portanto de autuação fiscal e de representação fiscal para fins penais em razão da ocorrência de crime contra ordem tributária”. O órgão brasileiro explica que está em contato com outras instituições e que algumas das pessoas supostamente envolvidas foram investigadas anteriormente.

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Dag Vulpi

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