O Conselho de
Ética da Câmara dos Deputados remarcou para amanhã (9), às 13h30, a votação do
parecer preliminar do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) sobre o pedido de
cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro
parlamentar. A reunião de hoje (8), que durou pouco mais de três horas, teve
vários pedidos de fala e foi suspensa com o início da ordem do dia no plenário
da Casa.
Como o
Regimento Interno da Câmara impede a votação nas comissões quando começa a
ordem do dia, a reunião do Conselho de Ética foi encerrada antes da votação.
“Não posso atropelar, não posso correr o risco de amanhã quererem anular a
sessão. Estou fazendo o rito normal. Ouvi todos os deputados, tive toda a
paciência do mundo. Amanhã devemos concluir os trabalhos”, disse o presidente
do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA).
Para o
deputado Zé Geraldo (PT-PA), não será mais possível adiar a votação, o que já
ocorre pela quinta vez. O parlamentar disse que deve haver votos suficientes
para que o processo continue no conselho. “As questões estão exauridas, e
amanhã vamos direto para a votação. Se a votação fosse hoje, o Cunha teria
perdido, tanto é que levaram para amanhã porque perceberam isso, mas eu
acredito que o resultado amanhã será o mesmo de hoje.”
O relator
Fausto Pinato (PRB-SP), que pede a continuidade do processo, também disse que a
fase de debate já acabou. “Já se encerraram os debates, né? Haverá um ou outro
requerimento para entrar [na reunião de amanhã], mas é importante o jogo
democrático, deixar todos os deputados falarem. Cabe agora a cada deputado a
votar pela admissibilidade ou não.”
Ele evitou
dizer que houve “manobra” dos aliados de Cunha para adiar a votação. “Se vocês
interpretarem como manobra, ou não, eu, como relator, tenho que estar atento à
questão regimental.”
O advogado de
Cunha, Marcelo Nobre, disse que entrou com um mandado de segurança no Supremo
Tribunal Federal (STF) pedindo a troca do relator. “O mandado é contra uma
decisão do presidente do conselho, que considerou possível alguém do mesmo
bloco partidário ser relator do representado. O Artigo 26 do Regimento Interno
da Câmara veda isso. Diz que, durante o primeiro biênio, todos eleitos para
mandato, como no caso aqui do conselho, de dois anos, não permite que seja
relator de alguém do seu bloco partidário”, argumentou o advogado.
O presidente
do conselho negou ontem (7) o pleito de mudança de relator. Caso o Supremo
acolha o pedido, um novo relator será designado e um novo relatório preparado,
atrasando ainda mais o processo no conselho. O advogado de Cunha, porém, não vê
motivo para pressa. “Não há pressa no julgamento de ninguém. Quero que o
julgamento seja justo. Poucas semanas [a mais], ou amanhã, não importa. O que
importa é que a justiça seja feita. Eu só recebi ontem a questão de ordem do
presidente do conselho e entrei com mandado de segurança ontem.”
Questões
regimentais
Os
parlamentares perderam muito tempo discutindo questões regimentais. Alguns
deputados quiseram direito de resposta por terem sido citados e outros
invocaram “questão de ordem” para falar, o que foi negado pelo presidente do
conselho, José Carlos Araújo. O tempo foi passando com essas discussões, e a
ordem do dia foi iniciada no plenário da Casa.
O deputado
Júlio Delgado (PSB-MG) acusou vários colegas de atrasarem de propósito a
votação e disse que estavam fazendo “chicana”, como é chamada a tentativa criar
dificuldade em processos jurídicos com base em detalhe ou ponto irrelevante.
“Não vamos dizer que não estamos fazendo chicana para protelar. Voto contrário
ao adiamento da votação para podermos votar hoje ainda”. Um deputado gritou:
“chicana, não! Respeito!”, mas esse bate-boca não foi à frente.
O pedido de
cassação do mandato de Cunha foi protocolado no dia 13 de outubro pelo PSOL e a
Rede. Cunha foi denunciado ao STF por suspeita de ter recebido US$ 5 milhões em
propina do esquema investigado pela Operação Lava Jato.
O pedido se
baseia em documento encaminhado pela Procuradoria-Geral da República (PGR),
atestando como verdadeiras as informações de que Cunha e parentes têm contas
secretas na Suíça e que teriam recebido dinheiro, fruto do pagamento de propina
em contratos da Petrobras. O parlamentar nega e diz que os recursos no exterior
vêm de negócios de venda de carne no Continente Africano.