Quem trabalha
como assessor de um executivo, de uma autoridade, seja pública, seja privada,
em algum momento, cedo ou tarde, terá a sensação de ser mais inteligente do que
o chefe. Não raro este sentimento é sufocado pela ideia um tanto lógica de que
se o assessor fosse de fato mais inteligente, por certo o assessor seria chefe,
e o chefe seria o assessor. E estamos falados.
E assim o
subalterno se recolhe à sua sombra de insignificância e legitima o chefe em seu
pedestal. Mesmo quando o assessor seja uma espécie de braço-direito, daqueles
que não descuidam de seu assessorado, escrevendo seus discursos, suas
palestras, falando por ele nas entrevistas, dizendo-lhe como deve se portar, o
que propor, que negócio fechar, que hora entrar, que hora sair de uma situação,
daqueles que entregam o parecer finalizado, que levam o despacho pronto para
colher assinatura no rodapé do imbróglio mais impermeável. Ainda assim, pela
lógica da disposição das coisas, pelas posições no organograma, pelo status do
cargo, pelo salário que recebe, o assessor, mesmo percebendo que sua lucidez
possa ser maior do que a do assessorado, é levado a crer que alguma coisa do
chefe (o músculo de tomar decisão, o tirocínio talvez) seja mesmo superior.