sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Por que precisamos de outra democracia



           
Movimentos não protestam apenas contra injustiça. Perceberam que instituições submeteram-se aos interesses financeiros – e precisam ser mudadas

Por Antonio Negri e Michael Hart
As manifestações sob a bandeira de Occupy Wall Street ressoam em tantas pessoas, não só porque dão voz a uma sensação de injustiça econômica, mas também, e talvez mais importante, porque manifestam sofrimentos e aspirações políticas. Ao espalharem-se da parte sul de Manhattan para cidades grandes e pequenas por todo o país, mostraram que a indignação contra a ganância das grandes corporações e a desigualdade econômica é real e profunda. Mas, no mínimo tão importante quanto isso, é o protesto contra a falta – ou o fracasso – da representação política. Não é tanto a questão de se um ou outro político, esse ou aquele partido, nada faz ou é corrupto (embora isso, também, seja verdade), mas de se o sistema político representativo é, em termos gerais, inadequado. Esse movimento de protesto pode, e talvez consiga, converter-se processo democrático constituinte genuíno.

A face política dos protestos de Occupy Wall Street aparece quando o pomos ao lado de outros “acampamentos” do ano em curso. Juntos, formam um ciclo emergente de lutas. Em muitos casos, as linhas de influência são claras. Occupy Wall Street inspirou-se nos acampamentos das praças centrais na Espanha, que começaram dia 15 de maio, depois da ocupação da Praça Tahrir, no Cairo, no início da primavera. A essa sucessão de manifestações, é preciso acrescentar vários outros protestos, como as longas manifestações na Assembleia Estadual em Wisconsin, a ocupação da Praça Syntagma em Atenas, os acampamentos de israelenses por justiça econômica. O contexto desses vários protestos são muito diferentes, claro; e não são simplesmente repetição do que acontecera noutros lugares. Mas cada um desses movimentos conseguiu traduzir para a própria situação alguns elementos comuns.

Na Praça Tahrir, a natureza política do acampamento e o fato de que os manifestantes não eram nem jamais seriam representados, em nenhum sentido, pelo atual regime, eram visíveis. A exigência “Mubarak tem de sair” mostrou-se suficientemente potente para envolver todas as demais questões. Depois, nos acampamentos da Porta do Sol em Madri e da Praça Catalunha em Barcelona, a crítica da representação política foi mais complexa. O protesto espanhol reuniu vasto conjunto de demandas sociais e econômicas – sobre o déficit público, moradia e educação, dentre outras –, mas sua “indignação”, que a imprensa espanhola rapidamente apontou como a emoção que os definia, foi claramente dirigida contra um sistema político incapaz de tratar daquelas questões. Contra o arremedo de democracia que o atual sistema representativo oferece, os manifestantes dirigiram um dos seus principais slogans: “Democracia real ya,” ou “Democracia real, já”.

Occupy Wall Street deve ser entendido, então, como mais um desenvolvimento ou permutação dessas exigências políticas. Mensagem alta e clara dos protestos, é claro, é que os banqueiros e as indústrias da finança de modo algum nos representam: O que é bom para Wall Street com certeza não é bom para o país (ou para o mundo). E parte mais significativa do fracasso da representação, portanto, deve ser atribuída aos políticos e aos partidos políticos aos quais compete representar os interesses do povo, mas que, de fato, só representam, mais claramente, os bancos e os agentes que emprestam dinheiro. Esse reconhecimento leva a uma questão aparentemente simplória, básica: a democracia não deveria ser o governo do povo sobre a pólis – quer dizer, sobre toda a vida social e econômica? Em vez disso, o que se vê é que a política tornou-se subserviente aos interesses econômicos e financeiros.

Ao insistir na natureza política dos protestos de Occupy Wall Street, não estamos dizendo que todas as questões políticas possam ser equacionadas em termos das disputas entre Republicanos ou Democratas, ou os resultados do governo Obama. Se o movimento continuar a crescer, é claro, talvez force a Casa Branca ou o Congresso a tomar novos rumos de ação, e pode vir a ser, mesmo, significativo ponto de contenção durante o próximo ciclo eleitoral presidencial.

Mas tanto o governo Obama quanto o governo George W. Bush são autores de “resgates” de bancos e banqueiros. A falta de representação, que os protestos evidenciaram, aplica-se aos dois partidos. Nessas circunstâncias, o clamor dos espanhóis por “democracia real, já” soa ao mesmo tempo, urgente e desafiador.

Se observados em conjunto, esses diferentes acampamentos de protesto – do Cairo a Atenas, Madison, Telavive, Madrid e, agora, New York – manifestam uma insatisfação com as estruturas da representação política. O que oferecem, como alternativa? O que é a “democracia real” que tantos propõem?

As pistas mais claras estão na própria organização interna dos movimentos – especificamente, no modo como os acampamentos oferecem novas práticas democráticas. Esses movimentos desenvolveram-se segundo o que designamos como “uma forma multitudinária” e são caracterizados por frequentes assembleias e estruturas participativas para construir e tomar decisões. (E vale a pena observar que, quanto a isso, Occupy Wall Street e várias das demais manifestações também têm raízes nos movimentos de protesto antiglobalização que se estenderam, no mínimo, de Seattle em 1999 a Gênova em 2001.)

Muito se tem dito sobre mídias sociais como Facebook e Twitter, sempre usados nos acampamentos. Esses instrumentos de rede, evidentemente, não criam os movimentos, mas são ferramentas úteis, porque, em vários sentidos, correspondem à estrutura dos experimentos horizontais e democráticos dos próprios movimentos. Em outras palavras, o Twitter é útil, não porque divulga eventos, mas porque reúne as ideias de uma grande assembleia, para uma específica decisão, em tempo real.

Não espere que os acampamentos, então, desenvolvam líderes ou representantes políticos. Nenhum Martin Luther King, Jr. vai emergir das ocupações de Wall Street e outras. Para melhor ou para o pior – e certamente estamos entre aqueles que consideram Occupy WallStreet um assunto promissor – este ciclo emergente de movimentos vai se expressar através de estruturas de participação horizontal, sem representantes específicos. Tais experiências de organização democrática em pequena escala teria que se desenvolver muito mais, é claro, antes de se poder elaborar modelos eficazes para uma alternativa social, mas os ocupantes expressam poderosamente sua aspiração por uma “democracia real”.

Enfrentando a crise (financeira do capitalismo) e vendo claramente a forma como ela está sendo gerenciada pelo sistema político atual, os jovens que participam dos vários acampamentos fazem, e com inesperada maturidade, a desafiadora pergunta: “Se a democracia – ou seja, a democracia que temos hoje – está atônita sob os golpes da crise econômica e é impotente para fazer valer a vontade e os interesses da multidão, não seria a hora , talvez, de considerar que esta forma de democracia seja obsoleta?”.

Se as forças políticas geradas pelo poder da riqueza e das finanças passaram a defender interesses supostamente democráticos das atuais Constituições, incluindo a dos EUA, não é possível e mesmo necessário, hoje, propor e construir novos valores constitucionais que possam abrir avenidas e retomar o processo de busca coletiva da felicidade? Tal raciocínio e tais demandas, já vivamente explicitados nos movimentos idênticos que acontecem na Europa e na África Mediterrânea que se implantaram pelos EUA a partir de Wall Street, mostram a necessidade de um novo processo Constituinte e democrático.
Via OUTRAS PALAVRAS)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A última mentira do Cabo Anselmo


Por: Urariano Mota
José Anselmo dos Santos, ou Daniel, ou Jadiel, ou Jônatas...  ou mais simplesmente Cabo Anselmo, se apresentou no Roda Viva na última segunda-feira. Como já se esperava, ele esteve muito à vontade, porque os entrevistadores não pesquisaram a história dos seus crimes, e se fizeram esse indispensável dever, não quiseram levá-lo às cordas, para confrontar as suas esquivas com os depoimentos de testemunhas de 1973, ano das execuções de 6 militantes socialistas no Recife.
O momento mais acintoso foi quando ele se referiu à sua mulher, Soeldad Barrett, e dela retirou a gravidez, para se isentar de um hediondo crime, que cai como um acréscimo à

traição de entregá-la para a morte. 

 

Observem-no aqui neste momento, a partir do minuto 22.05 até 22.42.
Transcrevo:
“Cabo Anselmo - A Soledad usava DIU, desde que fez um aborto aqui em São Paulo, antes da ida para o Recife.
Entrevistador -  O senhor contesta a gravidez da Soledad?
Cabo Anselmo - Como?
Entrevistador - O senhor contesta que ela estivesse grávida, como a versão histórica ...
Cabo Anselmo - Se eu acreditar, como dizem os médicos, que o DIU era o mais seguro dos preservativos, eu contesto, sim.
Entrevistador - Então o feto encontrado lá não era dela?
Cabo Anselmo - Eu imagino que seria da Pauline. A Pauline estava grávida, inclusive teve problema de gravidez, e Soledad a levou até o médico.”    
Não vem ao caso agora observar que ele ganha tempo para responder, quando finge não ouvir bem e pergunta “Como?”. Importa mais agora confrontá-lo com três depoimentos históricos. No primeiro deles, e mais impressionante, a advogada Mércia Albuquerque assim declarou na Secretaria de Justiça de Pernambuco, em 1996:
“Soledad estava com os olhos muito abertos com expressão muito grande de terror, a boca estava entreaberta e o que mais me impressionou foi o sangue coagulado em grande quantidade que estava, eu tenho a impressão que ela foi morta e ficou algum tempo deitada e a trouxeram, e o sangue quando coagulou ficou preso nas pernas porque era uma quantidade grande e o feto estava lá nos pés dela, não posso saber como foi parar ali ou se foi ali mesmo no necrotério que ele caiu, que ele nasceu, naquele horror”.   
No segundo deles, a dona da butique em Boa Viagem, onde foram presas Soledad e Pauline , lembra que em 1973 Soledad lhe dissera que iria viajar para rever a única filha, antes de dar à luz, porque estava grávida. Isso foi falado à testemunha dias antes da  execução dos socialistas em janeiro, numa conversa íntima entre mulheres. Soledad estaria louca ou a dona da butique estaria inventando histórias?  E agora, por fim, prestem bem atenção no que lembra um professor de história do Recife: Soledad e Anselmo foram vistos na Rua das Calçadas, no Recife, a comprar roupinhas de bebê. Que lindo e canalha, não?  Será que estariam então todos enganados a fantasiar a gravidez de Soledad, somente para incriminar o pobre Anselmo?
Ontem no Roda Viva o Cabo Anselmo cometeu a sua mais escabrosa mentira. Transferiu a gravidez da mulher para outra morta. E todos os repórteres, entrevistadores, apresentador calaram diante da eloqüência do velho traidor. O DIU, dizem os médicos, tem apenas 0,1% de falha. Já um agente duplo nunca nega fogo: é 100 % mentiroso.

Sociólogo norte-americano antecipa que ‘o capitalismo chegou ao fim da linha’

O capitalismo está derretendo
 Por: Celeiro de Blogs
Aos 81 anos, o sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein acredita que o capitalismo chegou ao fim da linha: já não pode mais sobreviver como sistema. Mas – e aqui começam as provocações – o que surgirá em seu lugar pode ser melhor (mais igualitário e democrático) ou pior (mais polarizado e explorador) do que temos hoje em dia.
Estamos, pensa este professor da Universidade de Yale e personagem assíduo dos Fóruns Sociais Mundiais, em meio a uma bifurcação, um momento histórico único nos últimos 500 anos. Ao contrário do que pensava Karl Marx, o sistema não sucumbirá num ato heróico. Desabará sobre suas próprias contradições. Mas atenção: diferentemente de certos críticos do filósofo alemão, Wallerstein não está sugerindo que as ações humanas são irrelevantes.
Ao contrário: para ele, vivemos o momento preciso em que as ações coletivas, e mesmo individuais, podem causar impactos decisivos sobre o destino comum da humanidade e do planeta. Ou seja, nossas escolhas realmente importam. “Quando o sistema está estável, é relativamente determinista. Mas, quando passa por crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante.”
É no emblemático 1968, referência e inspiração de tantas iniciativas contemporâneas, que Wallerstein situa o início da bifurcação. Lá teria se quebrado “a ilusão liberal que governava o sistema-mundo”. Abertura de um período em que o sistema hegemônico começa a declinar e o futuro abre-se a rumos muito distintos, as revoltas daquele ano seriam, na opinião do sociólogo, o fato mais potente do século passado – superiores, por exemplo, à revolução soviética de 1917 ou a 1945, quando os EUA emergiram com grande poder mundial.
As declarações foram colhidas no dia 4 de outubro pela jornalista Sophie Shevardnadze, que conduz o programa Interview na emissora de televisão russa RT. A transcrição e a tradução para o português são iniciativas do sítio Outras Palavras, 15-10-2011.
Leia aqui a entrevista, na íntegra:
– Há exatamente dois anos, você disse ao RT que o colapso real da economia ainda demoraria alguns anos. Esse colapso está acontecendo agora?
– Não, ainda vai demorar um ano ou dois, mas está claro que essa quebra está chegando.
– Quem está em maiores apuros: Os Estados Unidos, a União Europeia ou o mundo todo?
– Na verdade, o mundo todo vive problemas. Os Estados Unidos e União Europeia, claramente. Mas também acredito que os chamados países emergentes, ou em desenvolvimento – Brasil, Índia, China – também enfrentarão dificuldades. Não vejo ninguém em situação tranquila.
– Você está dizendo que o sistema financeiro está claramente quebrado. O que há de errado com o capitalismo contemporâneo?
– Essa é uma história muito longa. Na minha visão, o capitalismo chegou ao fim da linha e já não pode sobreviver como sistema. A crise estrutural que atravessamos começou há bastante tempo. Segundo meu ponto de vista, por volta dos anos 1970 – e ainda vai durar mais uns 20, 30 ou 40 anos. Não é uma crise de um ano, ou de curta duração: é o grande desabamento de um sistema. Estamos num momento de transição. Na verdade, na luta política que acontece no mundo — que a maioria das pessoas se recusa a reconhecer — não está em questão se o capitalismo sobreviverá ou não, mas o que irá sucedê-lo. E é claro: podem existir duas pontos de vista extremamente diferentes sobre o que deve tomar o lugar do capitalismo.
– Qual a sua visão?
– Eu gostaria de um sistema relativamente mais democrático, mais relativamente igualitário e moral. Essa é uma visão, nós nunca tivemos isso na história do mundo – mas é possível. A outra visão é de um sistema desigual, polarizado e explorador. O capitalismo já é assim, mas pode advir um sistema muito pior que ele. É como vejo a luta política que vivemos. Tecnicamente, significa é uma bifurcação de um sistema.
– Então, a bifurcação do sistema capitalista está diretamente ligada aos caos econômico?
– Sim, as raízes da crise são, de muitas maneiras, a incapacidade de reproduzir o princípio básico do capitalismo, que é a acumulação sistemática de capital. Esse é o ponto central do capitalismo como um sistema, e funcionou perfeitamente bem por 500 anos. Foi um sistema muito bem sucedido no que se propõe a fazer. Mas se desfez, como acontece com todos os sistemas.
– Esses tremores econômicos, políticos e sociais são perigosos? Quais são os prós e contras?
– Se você pergunta se os tremores são perigosos para você e para mim, então a resposta é sim, eles são extremamente perigosos para nós. Na verdade, num dos livros que escrevi, chamei-os de “inferno na terra”. É um período no qual quase tudo é relativamente imprevisível a curto prazo – e as pessoas não podem conviver com o imprevisível a curto prazo. Podemos nos ajustar ao imprevisível no longo prazo, mas não com a incerteza sobre o que vai acontecer no dia seguinte ou no ano seguinte. Você não sabe o que fazer, e é basicamente o que estamos vendo no mundo da economia hoje. É uma paralisia, pois ninguém está investindo, já que ninguém sabe se daqui a um ano ou dois vai ter esse dinheiro de volta. Quem não tem certeza de que em três anos vai receber seu dinheiro, não investe – mas não investir torna a situação ainda pior. As pessoas não sentem que têm muitas opções, e estão certas, as opções são escassas.
– Então, estamos nesse processo de abalos, e não existem prós ou contras, não temos opção, a não ser estar nesse processo. Você vê uma saída?
– Sim! O que acontece numa bifurcação é que, em algum momento, pendemos para um dos lados, e voltamos a uma situação relativamente estável. Quando a crise acabar, estaremos em um novo sistema, que não sabemos qual será. É uma situação muito otimista no sentido de que, na situação em que nos encontramos, o que eu e você fizermos realmente importa. Isso não acontece quando vivemos num sistema que funciona perfeitamente bem. Nesse caso, investimos uma quantidade imensa de energia e, no fim, tudo volta a ser o que era antes. Um pequeno exemplo. Estamos na Rússia. Aqui aconteceu uma coisa chamada Revolução Russa, em 1917. Foi um enorme esforço social, um número incrível de pessoas colocou muita energia nisso. Fizeram coisas incríveis, mas no final, onde está a Rússia, em relação ao lugar que ocupava em 1917? Em muitos aspectos, está de volta ao mesmo lugar, ou mudou muito pouco. A mesma coisa poderia ser dita sobre a Revolução Francesa.
– O que isso diz sobre a importância das escolhas pessoais?
– A situação muda quando você está em uma crise estrutural. Se, normalmente, muito esforço se traduz em pouca mudança, nessas situações raras um pequeno esforço traz um conjunto enorme de mudanças – porque o sistema, agora, está muito instável e volátil. Qualquer esforço leva a uma ou outra direção. Às vezes, digo que essa é a “historização” da velha distinção filosófica entre determinismo e livre-arbítrio. Quando o sistema está relativamente estável, é relativamente determinista, com pouco espaço para o livre-arbítrio. Mas, quando está instável, passando por uma crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante. As ações de cada um realmente importam, de uma maneira que não se viu nos últimos 500 anos. Esse é meu argumento básico.
– Você sempre apontou Karl Marx como uma de suas maiores influências. Você acredita que ele ainda seja tão relevante no século XXI?
– Bem, Karl Marx foi um grande pensador no século XIX. Ele teve todas as virtudes, com suas ideias e percepções, e todas as limitações, por ser um homem do século XIX. Uma de suas grandes limitações é que ele era um economista clássico demais, e era determinista demais. Ele viu que os sistemas tinham um fim, mas achou que esse fim se dava como resultado de um processo de revolução. Eu estou sugerindo que o fim é reflexo de contradições internas. Todos somos prisioneiros de nosso tempo, disso não há dúvidas. Marx foi um prisioneiro do fato de ter sido um pensador do século XIX; eu sou prisioneiro do fato de ser um pensador do século XX.
– Do século 21, agora…
– É, mas eu nasci em 1930, eu vivi 70 anos no século XX, eu sinto que sou um produto do século XX. Isso provavelmente se revela como limitação no meu próprio pensamento.
– Quanto – e de que maneiras – esses dois séculos se diferem? Eles são realmente tão diferentes?
– Eu acredito que sim. Acredito que o ponto de virada deu-se por volta de 1970. Primeiro, pela revolução mundial de 1968, que não foi um evento sem importância. Na verdade, eu o considero o evento mais significantes do século XX. Mais importante que a Revolução Russa e mais importante que os Estados Unidos terem se tornado o poder hegemônico, em 1945. Porque 1968 quebrou a ilusão liberal que governava o sistema mundial e anunciou a bifurcação que viria. Vivemos, desde então, na esteira de 1968, em todo o mundo.
– Você disse que vivemos a retomada de 68 desde que a revolução aconteceu. As pessoas às vezes dizem que o mundo ficou mais valente nas últimas duas décadas. O mundo ficou mais violento?
– Eu acho que as pessoas sentem um desconforto, embora ele talvez não corresponda à realidade. Não há dúvidas de que as pessoas estavam relativamente tranquilas quanto à violência em 1950 ou 1960. Hoje, elas têm medo e, em muitos sentidos, têm o direito de sentir medo.
– Você acredita que, com todo o progresso tecnológico, e com o fato de gostarmos de pensar que somos mais civilizados, não haverá mais guerras? O que isso diz sobre a natureza humana?
– Significa que as pessoas estão prontas para serem violentas em muitas circunstâncias. Somos mais civilizados? Eu não sei. Esse é um conceito dúbio, primeiro porque o civilizado causa mais problemas que o não civilizado; os civilizados tentam destruir os bárbaros, não são os bárbaros que tentam destruir os civilizados. Os civilizados definem os bárbaros: os outros são bárbaros; nós, os civilizados.
– É isso que vemos hoje? O Ocidente tentando ensinar os bárbaros de todo o mundo?
– É o que vemos há 500 anos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Nostradamus de araque e a mal fadada Reforma Política.

Nostradamus prevendo a Reforam
Politica no Brasil.


No dia 30 de março deste ano, tirando onda de um legítimo Nostradamus, eis que fiz uma postagem no blog Dag Vulpi “pré-vendo” o que de fato acabaria por se confirmar (leia aqui o acautelado)
Aquele que sonhava com uma reforma política no Brasil, que acabasse com os velhos e viciados costumes e leram a minha postagem (indicada acima), concordando com aquele texto, certamente não teve nenhuma decepção, porém, aqueles que não levaram fé na minha profecia, mais uma vez tiveram uma grande decepção.

A Comissão Mista de deputados e senadores responsáveis para examinar o assunto apresentaram um relatório pouco sugestivo para discutir e promover mudanças que atendessem as expectativas de nós brasileiros.

Os ilustres parlamentares criaram duas Comissões para estudar a reforma: uma no Senado, com prazo de 45 dias para apresentar parecer sobre o assunto, e outra na Câmara, com prazo de seis meses para opinar. Alguns políticos decidiram promover shows pelo Brasil afora em audiências públicas promocionais intermináveis para ouvir a população, de preferência a despolitizada, pois quando aparecia alguém com propostas reais, e que realmente pudessem colaborar para o processo, estas eram simplesmente ignoradas. A exemplo do ocorrido na Assembleia Legislativa do ES, onde, uma comissão representando o grupo Consciência Política Razão Social da rede social facebook, (leia aqui) entregou à mesa organizadora, propostas para a uma reforma, elaboradas durante debates em várias  postagens e comentários sobre o assunto.

Resultado

O senado apresentou seu parecer, e a Câmara formulou uma proposição recheada de indicações que só servirão para reforçar o impasse no Congresso e transformar a tão sonhada reforma política em quimera irreal, sem pé nem cabeça.


Conclusão

Mais uma vez a Reforma Política foi um engôdo que não passou de discurso político para ensacar fumaça. Levando nada a lugar nenhum, não promovendo mudanças verdadeiras no processo eleitoral.


Aprendizado
O coronel Limoeiro, de Pernambuco, diria, se fosse vivo: ”Meu filho, se essa cerca for esticada a gente passa por baixo; se for bamba ou frouxa, a gente passa por cima”.



terça-feira, 18 de outubro de 2011

Oposição tenta colocar mais lenha na fogueira que frita Orlando Silva

Líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA) pensava apresentar, nesta segunda-feira, um requerimento com o objetivo de colocar mais lenha na fogueira que frita o ministro dos Esportes, Orlando Silva, após matéria publicada na revista semanal ultraconservadora Veja. Na reportagem, um soldado da Polícia Militar do Distrito Federal acusa o ministro de participar de desvios de recursos do ministério. O representante da direita quer convidar a fonte da matéria para falar na Casa, mas o ministro já sinalizou à base aliada que as acusações do PM João Dias Ferreira de que comanda um esquema de desvios na pasta são uma “trama farsesca”.
O ministro Silva também deverá falar na Comissão de Fiscalização e controle sobre as acusações de que teria participação direta num esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que distribui recursos a ONGs para projetos de incentivo à prática de esportes por jovens, segundo Veja. A oposição quer ouvir também Célio Soares Pereira, que afirmou à revista ter entregue dinheiro ao próprio ministro na garagem do ministério, em Brasília, no final de 2008. Ferreira chegou a ser preso em 2010 pela Polícia Civil do Distrito Federal, como suspeito de envolvimento no desvio de recursos do mesmo programa.
Pereira confirmou a jornalistas, nesta segunda-feira, a acusação contra o ministro Orlando Silva. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já pediu para que a Polícia Federal investigue o esquema relatado.
Em nota divulgada na véspera, o Ministério do Esporte disse que João Dias firmou dois convênios com a pasta, em 2005 e 2006, que não foram executados. O ministério pede a devolução de R$ 3,16 milhões dos convênios. De acordo com o ministro, desde que o TCU foi acionado, integrantes de sua equipe vêm recebendo ameaças.
“Armação”
Presidente nacional do PC do B, Renato Rabelo chamou de “armação” as denúncias de capa da última edição da revista Veja.
“Estou seguro e convicto de que tudo não passa de calúnia e armação, ele mesmo apresentou um pedido ao ministro da Justiça para que a Polícia Federal investigue as denúncias apresentadas por esse caluniador, João Dias. E, mais, já no início da próxima semana, também por sua iniciativa, Orlando irá à Câmara dos Deputados para desmascarar cabalmente essa acusação leviana”, destaca em nota o presidente do PC do B.
Segundo Rabelo, o ministro está tranquilo em relação à sua inocência e se colocou à disposição para depor sobre o caso na Câmara dos Deputados, na próxima terça-feira, atendendo pedido da bancada do PC do B. Rabelo também disse que as informações são infundadas.
“A única prova é o depoimento de João Dias Ferreira, cuja trajetória é pontuada por ações obscuras. Ele é réu em algumas ações na Justiça. Não sei se agora é revanche. Isso tudo nos causa muita estranheza”, afirmou na nota.
O dirigente do partido informou também que Ferreira saiu do PcdoB antes de 2006. O partido, disse Rabelo, vai estudar uma medida judicial para se defender das acusações.
Nesta segunda-feira, o ministro também voltou a afirmar que as denúncias são “uma farsa”. Ele abreviou a viagem que fazia ao México para voltar ao Brasil, nesta tarde. Silva foi chamado pelo Palácio do Planalto a dar explicações sobre as acusações de corrupção na pasta, que chefia desde 2006.

Recebido via email

Almir Neres pode perder mandato por improbidade

Partido quer tomar mandato de vereador.

Almir Neres fez uso da verba de gabinete com alimentação em Domingos Martins.

Almir Neres (PSD) usou verba quando era do PRP.

O presidente do PRP de Vila Velha, Marcus Alves, quer para o partido a vaga do vereador Almir Neres, ex-integrante da legenda que foi para o PSD.
A alegação é que, quando estava no PRP, Neres fez uso da verba de gabinete com alimentação em Domingos Martins e em uma choperia de Vila Velha.

O vereador já disse que o estabelecimento trata-se, na verdade, de um restaurante onde ele e a equipe de gabinete faziam refeições e que não bebe, pois é evangélico.

Ainda assim, Marcus Alves diz que não havia necessidade de o parlamentar utilizar a verba. "Ele mora em Vila Velha. Por que não ia almoçar em casa ao invés de gastar dinheiro público com isso?".

Para o presidente municipal do PRP, a imagem do partido saiu arranhada do episódio. "Pelo comportamento antiético dele como vereador, isso foi quebra de decoro parlamentar e ele fez isso quando era do PRP".

Alves diz que procurará o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e o Tribunal de Contas do Estado (TCES) para tratar da questão ainda nesta semana. Ele quer ainda que a Polícia Federal investigue o caso da verba de gabinete na Câmara.

De acordo com dados do TCES, Almir Neres gastou R$ 77,30 em um restaurante de Domingos Martins no dia 21 de março de 2009, um sábado.

Naquele ano, ele ainda registrou despesas de R$ 5,4 mil na Choperia Casa da Praia, nome oficial do restaurante Timoneiro, na Praia da Costa.

Como justificativa, Neres, que é vice-presidente da Câmara, disse que tem o direito de se alimentar. "Assim como todo ser humano se alimenta, eu também tenho direito a me alimentar. Como havia uma resolução, eu fiz uso simplesmente daquilo que era legal", afirmou.

Procurado pela reportagem, ontem, o vereador disse que não poderia falar pois estava ao volante. Mais tarde ele foi novamente contatado, mas não retornou às chamadas.

Imagem: Reprodução Colunista: Ivan de Freitas


Fonte: G1-ES

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