Sete
anos depois das primeiras denúncias, Supremo conclui julgamento do
escândalo com 25 réus condenados e confirma que o governo Lula
comprou votos no Congresso para aprovar projetos
BRASÍLIA
- No último ato do escândalo do mensalão, o Supremo Tribunal
Federal (STF) condenou nesta segunda-feira, por 6 a 4, os operadores
do esquema pela formação de uma quadrilha que atuou no governo e
foi comandada pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Ele sofreu
condenação por chefiar o esquema, auxiliado na cadeia de comando
pelo ex-presidente do PT José Genoino, pelo ex-tesoureiro do partido
Delúbio Soares e pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de
Souza.
Sete
anos depois das primeiras denúncias, o STF desfechou o escândalo
com 25 réus condenados e julgou que a gestão do ex-presidente Luiz
Inácio da Silva comprou votos no Congresso para a aprovação de
projetos de interesse da administração federal. De acordo com o
ministro Celso de Mello, decano do tribunal, "um dos episódios
mais vergonhosos da história política do País", operado por
"homens que desconhecem a República, pessoas que ultrajaram as
suas instituições e que, atraídos por uma perversa atração do
controle criminoso do poder, vilipendiaram os signos do Estado
Democrático de Direito e desonraram com seus gestos ilícitos e
ações marginais a ideia que consignam o republicanismo na nossa
Constituição".
Um
grupo que reuniu 11 réus no total para a prática de crimes de
lavagem de dinheiro, contra a administração pública - peculato e
corrupção - e contra o sistema financeiro - gestão fraudulenta de
banco. "Tenho, para mim, que, neste perfil, reside a verdadeira
natureza dos membros dessa quadrilha, que, em certo momento histórico
de nosso processo político, ambicionou tomar o poder, a constituição
e as leis do País em suas próprias mãos. Isso não pode ser
tolerado", afirmou Mello. "Ninguém tem legitimidade para
transgredir as leis e a Constituição de nosso país. Ninguém está
acima da autoridade do ordenamento jurídico do estado",
continuou.
No
entendimento do STF, o desvio de recursos públicos, os empréstimos
bancários fraudados, a lavagem desse dinheiro e a distribuição
para deputados, tudo foi montado para angariar apoio ao governo Lula
e ampliar o poder do PT. Na sessão desta segunda-feira, o Supremo
julgou a última fatia do processo. Condenou Dirceu e outros dez réus
por integrar o que o decano do STF classificou como "uma
sociedade de delinquentes". "Formou-se na cúpula do poder,
à margem da lei e ao arrepio do direito, um estranho e pernicioso
sodalício (sociedade de pessoas que vivem em comum), constituído
por dirigentes unidos por um comum desígnio, um vínculo associativo
estável que buscava eficácia ao objetivo espúrio por eles
estabelecidos: cometer crimes, qualquer tipo de crime, agindo nos
subterrâneos do poder como conspiradores, para, assim, vulnerar,
transgredir, lesionar a paz pública", afirmou Mello.
O
grupo foi integrado por Dirceu, Delúbio, Genoino, Valério,
dirigentes do Banco Rural e das agências de publicidade que ajudaram
a capitalizar o mensalão. Votaram pela condenação dos réus pelo
crime de formação de quadrilha os ministros Joaquim Barbosa, Luiz
Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Carlos
Ayres Britto (presidente). "No caso, houve a formação de uma
quadrilha das mais complexas, envolvendo, na situação concreta, o
núcleo dito político, o núcleo financeiro e o núcleo
operacional", afirmou Marco Aurélio Mello. "Mostraram-se
os integrantes em número de 13. É sintomático o número",
acrescentou o ministro, lembrando o número do PT, mas ignorando que
dois dos 13 réus foram absolvidos. Conforme a maioria dos ministros,
o esquema envolvia divisão de tarefas entre cada um dos núcleos,
pressupunha a união estável entre os réus para a prática de
crimes que atentaram contra a paz pública. "Havia um projeto
delinquencial de natureza política", afirmou Fux. "Esse
projeto delinquencial foi assentado aqui pelo plenário como
existente. Todos sabiam o que estavam fazendo. Todos foram condenados
por isso", disse.
Quatro
integrantes da Corte não julgaram que o grupo constituiu uma
quadrilha. Para os ministros Ricardo Lewandowski, Rosa Weber, Cármen
Lúcia e Dias Toffoli, os réus não se juntaram com o fim de
integrar um grupo destinado à prática indeterminada de crimes. A
partir de agora relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, começa
a revelar as penas que defende que sejam impostas a cada um dos réus.
Deve começar pelo ministro da Casa Civil. Barbosa já adiantou que
aqueles que estavam no topo da cadeia de comando do esquema terão
tratamento mais severo. Somente depois de todo o julgamento, os
ministros discutirão se os condenados começam imediatamente a
cumprir as penas, como defendeu o procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, ou se aguardam em liberdade o trânsito em julgado do
processo, o que deve ocorrer apenas em 2013.
Felipe
Recondo, Mariângela Gallucci, Eduardo Bresciani e Ricardo Brito, de
O Estado de S.Paulo
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