O movimento
dos estudantes secundaristas do estado de São Paulo e de Goiás, que ocuparam
escolas para pressionar o Poder Público a ceder às suas reivindicações, é
resultado de uma nova forma de fazer política, iniciada nas grandes
manifestações de 2013. Na avaliação do filósofo e professor de Gestão de
Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, essas
iniciativas são marcadas pelo distanciamento aos partidos políticos e às
entidades representativas de classe.
“Eu acho que
faz parte de uma nova maneira de se relacionar com a política, que rompe com
aquela maneira da geração anterior, dos movimentos sociais dos anos 70, 80, que
se institucionalizaram, juntaram-se com partido político e tentaram conquistar
o poder político. Essa nova geração busca se desvencilhar do poder político e
reivindicar direitos sociais por meio da pressão externa ao sistema político”,
analisa o professor, autor do livro Vinte Centavos: A Luta Contra o
Aumento, que analisou as manifestações de 2013.
As ocupações,
iniciadas na Escola Estadual Diadema, na região do ABC Paulista, na noite do
dia 9 de novembro, tinham o intuito de combater a proposta de reorganização
escolar, proposta pelo governo paulista. A ação, no entanto, extrapolou a
intenção inicial: alcançou cerca de 200 escolas, levantou a discussão sobre a
qualidade do ensino nas escolas públicas, derrubou o então secretário de
educação do estado, Herman Jacobus Cornelis Voorwald, e fez com que o
governador, Geraldo Alckmin, revogasse o decreto que instituía a
reorganização escolar em todo o estado de São Paulo. Em Goiás, chega
a 19 o número de escolas ocupadas.
Os estudantes
assumiram o controle das escolas ocupadas, organizaram-se em grupos (de
segurança, de limpeza, de atendimento à imprensa, de alimentação, de
alojamento) e passaram a deliberar as ações do grupo por meio de assembleias. O
Comando das Escolas em Luta reúne o conjunto dos alunos que fazem parte do
movimento e articula a ação do grupo.
“A geração
anterior fundou um partido político, que é o Partido dos Trabalhadores, e atuou
por meio das instituições. Essa outra experiência já foi tentada. Estamos sendo
governados por um partido que foi fundado dessa maneira e chegou, mais ou
menos, ao seu limite de experiência histórica. E agora, a gente tem uma nova
geração, que está tentando um novo caminho, de se organizar, de fazer pressão,
fora do sistema político”, ressalta Ortellado.
Nas últimas
notas divulgadas pelo comando por meio de redes sociais, é clara a opção pela
independência aos sindicatos e às entidades que tradicionalmente representam os
alunos.
“Ocupamos mais
de 200 escolas, boicotamos o Saresp [Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar
do Estado de SP], e trancamos muitas vias importantes de diferentes pontos do
estado de São Paulo em uma semana, mostrando que nós, secundaristas, não só
sabemos nos organizar, mas que temos muita força para além das entidades
burocráticas que ele [o governo] está acostumado a dialogar. Tendo isso em
vista, só conseguiremos avanços para a educação, e para além dela, se nos
organizarmos de forma independente”.
De acordo com
o Ortellado, as manifestações dos estudantes podem revigorar o sistema político
atual, pouco sensível às reivindicações populares. “Temos agora uma nova
geração de políticos que são mais burocráticos, que têm demonstrado muito pouca
sensibilidade para as demandas da população. Demandas que terminam por explodir
e criar verdadeiras crises nacionais. Foi isso o que a gente viu no caso das
escolas, foi o que a gente viu em 2013”, destaca o professor.