Por Antônio
Luiz Carlini
Os dois substantivos, por décadas, inicio do século XX, foram usados para denominar nomes de bois que compunham JUNTAS de BOIS. Tendo o cuidado que o de cornos menores fosse o BARROSO. Ainda além destes, apareceram muitos DIAMANTES, BEIJA-FLOR, CANARIO, BEM-TE-VI, RIO BRANCO, ETC. formando dupla com um BARROSO, dentro dos domínios de terras, das Famílias dele, ou descendentes de Giovanni Carlini.
No exército lhe fora proibido pronunciar CARO para designar veículo, “CARRO”,BARO para designar BARRO, FERERA, para designar o nome do Sargento no comando de seu batalhão, pois, tinha que pronunciar “FERREIRA”. Não podia dizer que os aliados Japão, Itália e Alemanha eram TERÍVEIS, por que para o exército eles eram “TE RR ÍVEIS”. Assim sendo nosso tio, aprendeu que para manter sua face livre das tapas do Sargento, socos de Tenentes, ou cacetadas maiores na solitária, tinha que esquecer seu precioso sotaque e inserir em seu linguajar “suas falas”, aquele modo de falar dos urbanos ou os mestiços de Minas, de quem tinha rido lá na fazenda ao ouvir os migrantes falar:” Terra rruim – terra rocha – carro à óleo, etc. Bem diferente dos ítalos descendentes que diriam: Téra runha – téra roja – cáro di olho- báro bianco- etc. Foi um início difícil, mas como era jovem, aprendeu e passou a falar como os demais brasileiros, embora sentia-se um ítalo e, não um carioca ou mineiro.
Finda a prestação do Serviço Militar. Dispensado, retorna à fazenda. Sabia lá no fundo que um outro recomeço o aguardava, como um aprendizado com o idioma. Não podia, na fazenda, falar como o fez nos últimos meses na cidade. Relatou à Madrasta Serafina Loss Carlini, a quem sem cerimônia, chamava mãe, que estava com muito medo daquela retomada de vida ali em Caldeirão. Pois, temia que na distração pudesse pronunciar algum vocábulo estrangeiro, forasteiro ali e, além da bronca do pai muito severo, ainda arrecadaria apelidos por parte dos irmãos e primos da vizinhança. Ficou muito arredio com os irmãos, primos e vizinhos, para não se trair e falar com o LUXO dos pecadores urbanos!
Vários dias se passaram com ele se policiando no hábito com a língua, evitando com perfeição, pronunciar qualquer vocábulo, com o fonema RR, tal o teve que fazer no exército. Porém, quando se distraiu daquele cuidado, ocorreu em uma tarefa realizada, arando terra, junto com os irmãos Domingos Salvador Carlini e Geraldo Alcebíades Carlini, os dois adolescentes. Aravam terra com O BARROSO e O MARMELO, estes puxando o arado, guiado por João Pedro, Domingos guiando os bois e Geraldo segurando o chicote que estimulava os bois a continuar prosseguindo na obrigação imposta, de seguir o Domingos que segurando uma corda de tiras de couro, chamada laço, presa na cabeça dos bovinos, caminhava no sulco para os bois não se desviarem da linha.
Fizeram pausa para o café, onde em uma espécie de Pique Nique, beberam e se alimentaram, onde ocorreu uma prosa de muitos minutos. Geraldo deu restolhos de milho para os bois, enquanto ele e Domingos, boquiabertos ouviam de João Pedro coisas da cidade. Tais como os banhos de mar em Copacabana, do calor infernal em São Cristóvão e Realengo. Do esplendor panorâmico possível à visão, uma vez estando no Cristo Redentor no Corcovado. O Brasil poderia melhorar, se todos os planos de Getúlio Vargas se concretizassem, porque com as novas leis, como o Código Penal, o código civil e a Constituição, o Brasil não teria mais, uma Polícia Militar composta de analfabetos ignorantes. Doravante cumprida a lei nos Estados e Municípios, as mulheres poderiam votar, mas o melhor de tudo era o Salário Mínimo Obrigatório, este com poder de compra, para que um trabalhador vivesse com dignidade. Com as novas reformas no sistema monetário, a nova moeda, equiparava-se ao dólar, cujo poder de compra, assustava os países europeus.
Domingos e Geraldo, com muito menos de vinte anos e tendo sempre vivido ali, tinham ao menos mil perguntas para todas aquelas informações, já que ignoravam quase tudo o que João Pedro dissera. Especialmente aquelas mulheres jovens, mas corajosas de Copacabana, usando apenas um maiô, ao qual teve que descrever em detalhes. Porém, mudou de assunto quando percebeu que a avidez dos dois pelos corpos dentro daqueles maiôs e totalmente fora dos vestidos a que estavam acostumados ver, lhes interessava mais que tudo. Percebeu que a imaginação correra solta na utopia comum aos adolescentes cheios de hormônios fervilhantes!
João Pedro os conclama à retomada do serviço. Movimentam-se para reiniciar o andar dos bois, que naquela parada, mastigando e ruminando entraram em uma espécie de letargia, precisando de estímulos com gritos de ordem e até talvez, chicote para retomar o passo em acompanhar o Domingos que os puxava pelo laço de couro. Bois sonolentos. João Pedro os tange com palavras de ordem. E distraidamente pronuncia aquela frase com o luxo da cidade:
- Vamos lá Marmelo e BARROSO! Aqui tem muita TERRA para arar! Foi o caos para João Pedro! Pois, Barroso ao invés de Baroso e terra ao invés de téra! Os adolescentes ouviram e assistiram os bois virarem-se para trás, como que assustado com aquela língua diferente.
Domingos soltou a corda, Geraldo soltou o chicote. Perderam as forças com o organismo em gargalhadas! Riam do irmão. Riam muito. Irritado Pedro toma do chicote e os chicoteia, mas não sentia dor, por que em seus relatos posteriores, tentavam descrever a surpresa estampada na cara dos bois, em ver que João Pedro era bilíngue.
João Pedro reclama com o pai João Carlini filho, que o admoesta, acusando que Domingos e Geraldo deviam chicoteá-lo e não o contrário. Daquela hora em diante, lá no trabalho, depois do incidente, onde ouve intervenção do patriarca, três Carlini eram mudos. Mas em qualquer troca de olhar entre os dois, lá por trás do arado, outro chicote, chicoteava o ar!
João Pedro teve muito trabalho ameaçando irmãos por meses, já que os dois, impossibilitados de irem à Copacabana verem aqueles maiôs. Como paliativo, provocavam o irmão!
Sabendo dessa minha curiosidade, sobre o MODUS VIVENDI, deles quando jovens, meus tios Domingos e Geraldo, relataram a mim, esta passagem de um longo prazo, em que Tio João Pedro foi o pivô e virou vítima da gozação!
Gostei da diagramação! Quisera eu saber fazer isto! Obrigado!
ResponderExcluirTodos os méritos devem ser concedidos ao autor do texto. Afinal, sem a inspiração e capacidade dele, simplesmente essa postagem não existiria.
ExcluirAbração e parabéns meu caro Antonio.