Karine Melo e
Carolina Gonçalves – Repórteres da Agência Brasil
O professor de
direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Geraldo Prado foi o
primeiro a falar na quarta rodada de manifestações de especialistas escalados
para serem ouvidos pela Comissão Especial do Impeachment do Senado, nesta
terça-feira (2). As declarações de hoje são todas em defesa da presidenta Dilma
Rousseff.
Prado começou
a defesa da presidenta negando a acusação de crime de responsabilidade. Ele
avaliou que o debate político-jurídico sobre o impeachment está sendo guiado
por conceitos "limitados e ultrapassados". “Não basta que todos os
senadores queiram votar contra Dilma, se não existe crime de responsabilidade
praticado por ela. Se isso ocorre, a ordem jurídica criada a partir da
Constituição é violada”, disse.
O advogado
lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o mérito do processo
cabe ao Senado, mas que as decisões têm que ter um conteúdo obrigatório, pautas
civilizatórias. "Temos que resolver as questões políticas por
civilidade", disse.
O professor
criticou a maneira como integrantes da comissão e convidados têm usado palavras
e termos jurídicos durante o debate, como dolo e omissão, lembrando que “dolo
não é só 'querer' e omissão não é só 'ausência de ação'”. Segundo ele, os
argumentos fazem sentido numa acusação de homicídio, mas não na acusação da
prática de um ato complexo de gestão.
Denúncia
Prado defendeu
que o processo contra a presidenta da República se restrinja aos mesmos pontos
analisados na Câmara dos Deputados. “A acusação é a cara, a defesa é a coroa.
Acusação com cara de R$ 1 e defesa com cara de R$ 0,10 não é possível. A
acusação trata de plano safra e de decretos. Qualquer coisa fora disto é uma
violação ao direito de defesa”, afirmou.
Ao criticar os
rumos da discussão do processo pelos parlamentares, o professor lembrou que o
Congresso aprovou o ajuste da meta antes do final do exercício. “Meta fiscal
passou a ser cláusula pétrea. Direito de defesa não”, afirmou.
Sobre os seis
decretos editados sem autorização do Congresso, Geraldo Prado criticou a
possibilidade de Dilma ser afastada simplesmente porque a Justiça Militar, a
Justiça Eleitoral, entre outras instituições, solicitaram suplementação de
verba na forma de crédito suplementar. “O dinheiro autorizado para a Justiça
Militar estava contingenciado”, afirmou. Ele explicou que o Executivo não pode
contingenciar verbas de outro Poder mas pode contingenciar seus próprios
recursos.
"Vou
contar para meus netos que a presidenta da Reppública foi afastada por
reequipar a justiça militar”, disse.
Plano
Safra
Prado disse
ainda que o ponto do pedido de impeachment que trata dos atrasos de repasse
para bancos públicos, conhecido como pedaladas fiscais, no caso do plano safra
“também causa perplexidade na comunidade jurídica”.
“Não basta ter
uma regra. A regra não diz tudo. A interpretação do Tribunal de Contas da União
(TCU) integra a regra”, disse ao mencionar a mudança na orientação do tribunal
que estabeleceu normas para garantir que o repasse de recursos da União para
bancos públicos não se estendesse por longos meses e para que o saldo negativo
não ficasse acumulado em grandes valores.
Geraldo Prado
lembrou que a decisão do TCU é de outubro de 2015 e as ações do governo foram
anteriores. “Quando muda a opinião estabelece regra que só pode valer dali para
frente. Não se pode estabelecer relação para comportamento passado. Não admitir
isto é admitir que pode ser condenado por lei posterior ao comportamento que
você praticou”, alertou.
Relatório
Amanhã o
relator do processo de impeachment, Antonio Anastasia (PSDB-MG), apresentará
seu relatório à comissão pela admissibilidade ou não do processo. Na
quinta-feira (5), já com base no parecer do relator, a defesa da presidenta
terá mais uma oportunidade de falar na comissão e o advogado-geral da União,
José Eduardo Cardozo, deve assumir novamente a função.
Na sexta-feira
(6), o relatório será votado pelo colegiado. Feito isso, haverá um intervalo de
48 horas úteis para que, no dia 11 de maio, a votação final sobre a
admissibilidade ocorra em plenário. Ambas as votações serão feitas apenas por
maioria simples, ou seja, metade mais um dos presentes. Caso a admissibilidade
seja aceita, Dilma Rousseff será notificada e afastada imediatamente por 180
dias do cargo.
Neste momento,
o diretor da Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ), Rircado Lodi faz sua exposição.
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