O ministro do
Supremo descarta entrar para a política no curto prazo. O que esperar do futuro
dele e do STF?
Por Diego Escosteguy
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Trecho de reportagem da edição de ÉPOCA desta semana:
JOAQUIM BARBOSA
Ele é adepto da escola ativista. Seu senso de
execução da Justiça, apesar de alguns exageros,
anima o Supremo (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
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Trezentos
metros separam o Palácio do Planalto da presidência do Supremo Tribunal
Federal, ocupado hoje por Joaquim Benedito Barbosa Gomes, o herói do
mensalão – o homem que muitos brasileiros gostariam de ver no outro lado da
Praça dos Três Poderes. Seria uma travessia inédita na democracia brasileira.
Do amplo gabinete espelhado da presidência do Supremo, no alto do Tribunal, os
300 metros se encolhem. É a ilusão que o poder em Brasília confere. Parece
bastar um pulinho. Mas requer um salto suicida. Joaquim sabe disso. Por isso,
resolveu: não será candidato a presidente da República em 2014. Numa tarde
recente e chuvosa em Brasília, Joaquim recebeu, naquele mesmo gabinete, mais um
curioso em saber, afinal, quais são seus planos para 2014. Joaquim não olhava a
vista. Não tinha interesse. Olhava para os livros – como sempre fez. O
interlocutor observou que Joaquim não teria aptidão para entrar na política,
ainda mais depois de conhecer, no processo do mensalão, as sujas entranhas dos
partidos brasileiros. Mesmo que entrasse depois. Mesmo que num cargo menor – se
a Presidência está a 300 metros, o Congresso está a apenas 100.
“Acho
difícil”, afirmou Joaquim. “Não me vejo fazendo isso (entrando na política
algum dia). O jogo da política é muito pesado, muito sujo. Estou só assistindo
a essa movimentação.” E deu um sorriso malicioso, como quem quer fazer os
adversários sofrer – leia-se, a turma do PT que o esculhamba diuturnamente –
com a perspectiva de ter de enfrentá-lo nas eleições. “Deixem falar… Deixa
falar… Não serei candidato a presidente. Realmente eu não quero”, disse. “É
lançar-se, expor-se, a um apedrejamento.”
O
apedrejamento a que ele se refere é diferente das pauladas que tomou à frente
do mensalão. Joaquim sabe disso. “Em 11 anos aqui, você aprende. Adquire uma
casca dura. Eu não tinha essa casca dura até há uns seis anos. Isso vem com o
tempo.” Embora Joaquim discorde que suas dores crônicas nas costas e nos
quadris tenham relação com os rigores do mensalão, é unanimidade entre seus
amigos que o processo lhe custou muito. As dores incomodam. E devem ser o
principal fator que definirá a provável aposentadoria precoce do Supremo, em novembro
deste ano. Joaquim pretende se aposentar quando deixar a presidência da Corte.
Joaquim se
incomoda também com o assédio de partidos como PV e PSB. Nunca recebeu ninguém
para conversar – nem autorizou que alguém falasse em nome dele. “Ninguém veio
diretamente falar comigo. Fui ao Congresso, ouvi um zum-zum-zum. Está cheio de
emissários que querem chegar”, disse ele a um amigo. “Não recebo ninguém aqui.
Em primeiro lugar, acho que não seria apropriado eu, como presidente do
Supremo, sair por aí fazendo negociações políticas. No dia em que sair daqui,
estarei livre para fazer isso. Enquanto eu estiver aqui, não. Em segundo lugar,
não dou nem nunca dei espaço para esses donos de partido ficarem… não, nunca.
São abordagens indiretas. A maior parte do que sei é pela imprensa.”
Num momento em
que o Supremo está dividido pelos traumas do mensalão, existe apenas uma
unanimidade entre todos os ministros da Corte – uma unanimidade que se estende
à Procuradoria-Geral da República e aos amigos de Joaquim. Caso, por alguma
razão insondável, Joaquim mude de ideia e resolva entrar na política, será um
desastre para ele, para o Supremo e para a legitimidade do julgamento do
mensalão. Mas os ministros mais próximos dele, assim como todos os seus poucos
amigos de confiança, têm certeza de que ele diz a verdade quando garante que
não dará o salto de 300 metros. Nem o de 100.
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