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domingo, 30 de novembro de 2014

Mais que ideologia, o ódio ao PT é um fenômeno a ser explicado


Por Fernando Vieira  em 28 de outubro de 2014

Desde o fim das eleições e a vitória de Dilma Rousseff as redes sociais estão inundadas de declarações de ódio que beiram o fascismo: “nordestinos acabaram com o Brasil”, ”Vocês, seus pobres e miseráveis vão continuar na merda”, ”votaram em Dilma e acabaram com nosso país”, ”haverá uma ditadura comunista”, ”odiamos o PT”, ”vou embora do Brasil por que eu posso, seus pobres miseráveis”, ”vão continuar dependendo de Bolsa Esmola pra viver”, algumas declarações feitas no Facebook são um exemplo disso.

Certa moça diz que deixará o Brasil, pois ela, diferentemente dos “miseráveis” que votaram em Dilma tem condições de ir morar em Orlando (EUA) junto com seu pai, deixa claro que: ”eu sou rica, não preciso de bolsa esmola”.

Mas, de onde vem tanto ódio? O que fez o PT para causar tamanho ódio? Serão apenas os escândalos de corrupção que, atentando contra certa moralidade (roubar é feio) despertam o ódio? Ou será algo mais? Ora, devemos descartar a hipótese da corrupção, segundo o TSE os partidos mais corruptos (envolvidos em um maior número de casos de corrupção) são o DEM e o PSDB, não o PT. Ou seja, direcionar o ódio a corrupção, não é o mesmo que direcionar o ódio ao PT, afinal, ele não criou a corrupção, e nem tampouco é o único a praticá-la, portanto, tal justificava não é suficiente para explicar este fenômeno. Escrevo sem pretensões de esclarecer o fenômeno, um curto texto não é capaz de explicar tal ódio.

Se a corrupção é apenas o verniz do ódio pregado ao PT, e que se revela, neste período pós-eleitoral como um ódio muito mais profundo ( ao nordestino, ao negro, aos miseráveis), de onde surge o ódio contra o PT? Quero considerar este ódio em dois níveis:

1-) O ódio que a ”elite” (sobretudo a classe média tradicional) tem ao PT, é, segundo penso, um ódio direcionado ao fim do privilégio da exclusividade frente ao acesso a bens e espaços de poder. Trazendo a tona uma reflexão um tanto freudiana sobre o tema, me arrisco a dizer que a ”elite” tinha sua libido, seu fluxo libidinal (considerando libido como a força desejante) direcionado a ”exclusividade”, seja a de ter acesso a um carro do ano, a um notebook, a internet ou ter acesso a Universidade, ao diploma, às viagens no exterior. Havia entre a “elite” e estes ”acessos” uma relação clara de exclusividade. O “Outro”, pobre geralmente, da classe trabalhadora, não teria acesos a tais bens. A exclusividade, produzia o gozo do fluxo libidinal, semelhante a paixão. Quando alguém está apaixonado, direciona ao ser “amado” sua libido, se um Terceiro surge e rompe a exclusividade do ser amado, então, aquele que rompeu será o alvo de uma espécie de fluxo libidinal destrutivo, o ódio. Este ódio que a Elite tem do PT, é, portanto, o ódio ao agente da perda da exclusividade.

Recorrendo ao filósofo esloveno Slavoj Žižek e a “Realidade do Virtual”, entendo que em nossa ”Era Cínica” assumir o ódio ao partido que retirou a tal “exclusividade” seria “feio” ou politicamente incorreto, afinal, demonstraria certo desejo de segregação, o ódio ao PT, que é o ódio ao rompimento do fluxo libidinal da exclusividade, seria, então, escondido atrás do ódio à corrupção.

Para que este ódio a corrupção se consolide como justificativa há o envolvimento de dezenas de meios de produção e enunciação da verdade: revistas , mídias televisivas, militância virtual, superexposição midiática dos escândalos de corrupção. Tais discursos constroem a justificativa para a existência do ódio, fundado, em verdade, na perda da exclusividade e desejo de segregação.

Entretanto, resta-nos a pergunta: Mas e a nova classe média? Tão beneficiada pelos 12 anos de Governo do PT, como se explica o ódio que ela ( sobretudo alguns jovens) demonstraram em relação ao PT? Ora, é neste ponto que vamos ao item 2 da tentativa de compreender este ódio;

2-) Há na história do Ocidente, e na história do Brasil, um fenômeno que pode ser chamado de ” colonização da subjetividade”, ou a ” síndrome do vira latas”, ou seja, pensar, supor que aquilo que é estrangeiro é melhor do que o que é nacional, e pensar que, aquilo que pertence à “elite” é melhor do que o que pertence ao pobre, ao trabalhador. É supor, por exemplo, que a opinião do Neymar, em termos políticos, seja mais importante que a opinião de qualquer outro jovem na casa dos 20 anos. De modo que o ódio, nascido na elite se reflete e é apropriado subjetivamente pela nova classe trabalhadora e por alguns pobres. Tal fenômeno ocorre na medida em que há a crença na superioridade do outro. Superioridade essa que é historicamente construída, seja na relação escravo-senhor, seja na relação patrão-empregado.

Nas falas que mencionei ( de ódio) as pessoas fazem questão de diferenciar-se: ”Eu sou rica”, ” Eu posso deixar o país”, precisam marcar o território das diferenças entre a classe a qual pertencem e os demais. Dizem ainda ”eu tentei ajudar vocês, mas vocês votaram na ‘porra’ da Dilma”, colocando-se, deste modo, em posição superior no discurso “eu tentei ajudar vocês”, é a sinhazinha, a Sinhá, que tenta ajudar o de baixo. É a lógica da filantropia, da filhinha do coronel que quer dar aula pros pobres. É a lógica de que eles querem nos ajudar a crescer pelo nosso esforço, quando não criam, nada além de amarras objetivas e subjetivas para a manutenção da sujeição dos pobres, negros, índios, LGBTs, e da Classe Trabalhadora.

Creio que este ódio ao PT mereça estudos. Pois, ele faz parte de uma onda fascista que tem surgido no Brasil, sobretudo em São Paulo. E, nós, da esquerda, precisaremos fazer frente a tais discursos. Dilma ganhou, mas tempos de embates maiores e mais comovidos estão por vir.

sábado, 16 de julho de 2011

A educação de mentira

Como o Brasil está trocando conhecimento por ideologia 


Por Gustavo Arja Castañon*
 
Dias trágicos estamos vivendo na educação pública brasileira. Notícias que chocam o cidadão leigo se sucedem dia após dia. Já acostumados a ver as crianças aprovadas automaticamente nas escolas, analfabetos funcionais se formando no segundo grau e o Brasil nos últimos lugares de todas as avaliações internacionais de educação, agora nos deparamos com novos absurdos. Nos chocamos com o fechamento autoritário das APAEs e do Benjamin Constant (IBC) instituições amadas e respeitadas em todo o Brasil, referências da educação inclusiva. Ficamos perplexos com a distribuição nas escolas de livros didáticos de má qualidade e forte conteúdo ideológico, como o livro de português que desvaloriza ideologicamente o uso correto da língua. Mas o que a maioria das pessoas não sabe é que todos esses absurdos tem uma fonte comum. Antes, seu poder de destruição não era claro. Agora, é.

Baixos salários sim, políticos demagogos sim, mas o que mais?

A desgraça da educação brasileira é sim, em grande medida, fruto dos baixos salários dos professores, o que provoca carência de quadros em disciplinas e fuga de grande parte dos mais capazes para outras profissões. Isso a gente já sabe.

Mas não é o baixo salário dos professores que aprova automaticamente, ensina que falar “os menino pega o peixe” é errado por causa do preconceito da classe dominante ou fecha as APAEs e o IBC contra a vontade e o interesse dos alunos e das famílias desesperadas.

Também não é somente o PT ou o PSDB ou o DEM, embora todos eles – todos – contra promessas de campanha promovam a aprovação automática para maquiar números de escolarização e nada façam contra o descalabro salarial e educacional.

A pedagogia do ressentimento

Vamos ser honestos. O que se degenerou no Brasil foi a pedagogia. Acusa-se às vezes, sem maiores análises, o construtivismo pedagógico e a pedagogia de Paulo Freire como responsáveis pela tragédia educacional brasileira. Mas o que esses acusadores não sabem (ou fingem não saber) é que nos grupos hegemônicos das faculdades de pedagogia não resta nada de Piaget, e de Freire, só a reverência.

Não, também não é o marxismo. Antes fosse. Se as faculdades de pedagogia tivessem sido tomadas pelo realismo materialista marxista nossas crianças estariam sendo doutrinadas, mas ao menos estariam aprendendo matemática e ciência moderna: física, química, biologia.

Pouco há no currículo dos cursos de pedagogia brasileiros que diga respeito ao termo. Técnicas de ensino e uso de novas tecnologias para a aquisição de habilidades como a leitura (que é uma técnica), são rotuladas de tecnicismo e desvalorizadas como instrumentos de destruição do senso crítico e da criatividade. Diagnóstico psicológico de dificuldades de aprendizado é demonizado como processo de estigmatização. Conhecimento científico psicológico básico sobre processos cognitivos (aprendizagem, memória, linguagem, percepção, pensamento) estão ausentes dos currículos por serem considerados instrumentos de perpetuação da ideia de indivíduo e de natureza humana. Conhecimento neurocientífico é ignorado por implicar prova da existência de capacidades inatas e condicionantes biológicas não sociais.

O que se estuda então a maior parte do tempo nos quatro anos de um curso de pedagogia e nos dois de licenciatura? Doutrinação. Variações pós-modernas e consequências de duas ideias irmãs: sociologismo (a negação do conceito de indivíduo e responsabilidade pessoal e a ideia de que todo conhecimento é uma construção social) e relativismo (a crença de que não existe verdade e que o conhecimento é ideologia).

Esterilizados pela ideia de que é verdade que não existe verdade, a maioria dos novos pedagogos se forma discursando contra a ciência moderna e contra todo tipo de avaliação (portanto, de reprovação). Para eles, como o sujeito é uma construção social, avaliações só serviriam ao propósito de dominação de classe e estigmatização do aluno pobre, impondo-lhe uma cultura “eurocêntrica” e “fabricando” seu fracasso escolar.

O relativismo epistêmico nega o valor que é o norte do conhecimento e da educação: a verdade. Quando afirma: ‘não há verdade válida para todos’, afirma que isso é verdade, e que é para todos. O relativismo é o dogmatismo mais ingênuo e danoso que existe, o dogmatismo inútil e ilógico de um dogma só, e que ainda assim, consegue se contradizer.

O casamento do ressentimento com a demagogia

Essas ideias falsas e rancorosas se casaram no Brasil com “administradores públicos” populistas que queriam maquiar os terríveis índices de evasão escolar, repetência e escolaridade média brasileiros, sem gastar um tostão a mais com educação. Os governos do PSDB em São Paulo, e de Garotinho e Cesar Maia no Rio, lideraram a disseminação da aprovação automática no Brasil.

Hoje vivemos o aprofundamento desse processo na educação básica com a gestão do PT. Apesar dos compromissos assumidos na campanha pela Presidente Dilma contra a aprovação automática, o MEC continua patrocinando este câncer sob o nome de “progressão continuada”. Faz isso porque se tornou refém dos grupos que exigem o aprofundamento dessas políticas, e controlam o sistema de confecção de livros didáticos e “políticas inclusivas” (para eles, o fechamento do IBC e das APAEs).

Porque as APAEs e o Benjamin Constant são inimigos?

As APAEs e o IBC existem para transmitir conhecimento (portanto emancipar) a pessoas com deficiências, concentrando nossos escassos recursos materiais e humanos. Mas para a pedagogia do ressentimento elas são inimigas, porque fabricariam a exclusão ao separar crianças do convívio social legitimando a ideia de que são diferentes. Como se a falta de visão, audição e paralisia cerebral fossem construções sociais e não fatos biológicos.

Para resolver isso, querem arrancá-las de professores e ambientes físicos altamente especializados e do convívio e socialização com outras crianças que tem as mesmas experiências. Mas o que é mais incrível: querem atirar crianças cegas, surdas ou com paralisia cerebral em classes comuns, entre crianças comuns (com a crueldade comum da idade), entregando crianças que precisam se comunicar em libra e ler em braile na mão dos mesmos professores que não conseguem ensinar Português a adultos. É a exclusão em nome da inclusão.

E o pior é que todos sabem disso. O MEC sabe disso. Os políticos sabem disso. Você sabe disso. E ninguém, à exceção das famílias desesperadas dessas crianças, está fazendo nada para evitar esse crime.

Nossa covardia e omissão nos levaram à ruína. E agora?

Nós sabemos que essa antipedagógica, esse anarquismo pedagógico, nos levou à ruína. Sabemos que um diploma público ginasial não atesta mais nem que a pessoa sabe ler ou somar. A educação brasileira tem um dos piores resultados por recurso investido do mundo.

Antes de executar ações para reverter esse quadro, temos que deter sua piora. Se você concorda com alguma coisa que foi dita aqui, por amor a nossas crianças, faça alguma coisa. Assuma o desgaste. Se exponha. Combata a desconstrução em sua escola e em sua universidade. Divulgue este artigo. Escreva o seu. Participe das reuniões de pais. Impeça o fechamento das APAEs e do IBC. Lute pelo fim da aprovação automática. Pressione seu deputado. Pare de falar mal do Brasil no bar e assuma sua responsabilidade.

Não podemos mais lavar nossas mãos enquanto a educação pública brasileira se transforma numa atividade de doutrinação, psicoterapia ineficaz e lazer. Não podemos nos omitir enquanto o futuro de nossas crianças está entregue a uma legião de Pôncios Pilatos que, diante da realidade da desgraça educacional brasileira, lavam de suas mãos os restos do futuro de nossas crianças e perguntam cinicamente: “O que é a verdade?”.

 





*Gustavo Arja Castañon é doutor em Psicologia e professor de Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora.
http://quemtemmedodademocracia.com/colunas/non-abbiate-paura/a-educacao-de-mentira/

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