Mostrando postagens com marcador Ódio ao PT. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ódio ao PT. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O bullying midiático sobre o PT


Por Leonardo Boff, em seu blog:

Há um fato inegável que após a reeleição da presidenta Dilma em 2014 irrompeu muita raiva e até ódio contra o PT e o atual governo. Atesta-o um ex-ministro do partido da oposição, do PSDB, Bresser Pereira, com estas contundentes palavras:

“Surgiu um fenômeno que eu nunca tinha visto no Brasil. De repente, vi um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, contra um partido e uma presidente. Não era preocupação ou medo. Era ódio. Esse ódio decorreu do fato de se ter um governo, pela primeira vez, que é de centro-esquerda e que se conservou de esquerda. Fez compromissos, mas não se entregou. Continua defendendo os pobres contra os ricos. O ódio decorre do fato de que o governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres”(FSP 01/03/2015).

Este ódio foi insuflado fortemente pela imprensa comercial do Rio e de São Paulo, por um canal de TV de alcance nacional e especialmente por uma revista semanal que não costuma primar pela moral jornalística e, não raro, trabalha diretamente com a falsificação e a mentira. Esse ódio invadiu as mídias sociais e ganhou também as ruas. Tal atmosfera envenena perigosamente as relações sociais a ponto de que já se ouvem vozes que clamam pela volta dos militares, por um golpe ou por um impeachment.

Tal fato deve ser lamentado por revelar a baixa intensidade do tipo de democracia que temos. Sobretudo deve ser interpretado. Nem chorar nem rir, mas tentar entender.Talvez as palavras do ex-presidente Lula sejam esclarecedoras:

“Eles (as classes dirigentes conservadoras) não conseguem suportar o fato de que, em 12 anos, um presidente que tem apenas o diploma primário colocou mais estudantes na universidades do que eles em um século. Que esse presidente colocou três vezes e meia mais estudantes em escolas técnicas do que eles em 100 anos. Que levou energia elétrica de graça para 15 milhões de pessoas. Que não deixou eles privatizarem o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os bancos do Espírito Santo, de Santa Catarina e do Piauí. Que nos últimos 12 anos nós bancarizamos 70 milhões de pessoas, gente que entrou numa agência bancária pela primeira vez sem ser para pagar uma conta. Acho que isso explica o ódio e a mentira dessas pessoas. Pobre ir de avião começa a incomodar; fazer faculdade começa incomodar; tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa”(discurso no sindicato dos bancários do ABC no dia 24 de julho de 2015: Jornal do Brasil online de 25/07/2015).

Posso imaginar a enorme dificuldade que possuem as classes proprietárias com seus poderosos meios de comunicação de aceitar a profunda transformação que surgiu no país com o advento do PT, vindo de baixo, do seio daqueles que sempre estiveram à margem e aos quais se negaram direitos e plena cidadania. Como escreveu acertadamente o economista Ladislau Dowbor da PUC de São Paulo:

”Eles querem a volta ao passado, a restrição das políticas sociais, a redução das políticas públicas, o travamento da subida da base da pirâmide que os assusta”. E acrescenta: “A máquina administrativa herdada foi feita para administrar privilégios, não para prestar serviços. E os privilegiados a querem de volta”(Carta Maior, 22/09/2015).

Efetivamente, o que ocorreu não foi uma simples troca de poder mas a constituição de uma outra base de poder, popular e republicana que deu centralidade ao social, fazendo com que o estado, bem ou mal, prestasse serviços públicos, incluindo cerca de 40 milhões de pessoas, fato de magnitude histórica.

Para entender o fenômeno do ódio social socorrrem-nos analistas da violência na história. Recorro especialmente ao pensador francês René Girarad (*1923) que se conta entre os melhores. Segundo ele, quando na sociedade se acirram os conflitos, o opositor principal consegue convencer os demais de que o culpado é tal e tal pessoa ou partido. Todos então se voltam contra ele, fazem-no de bode expiatório sobre o qual colocam todas as culpas e corrupções (cf. Le bouc émissaire, 1982). Assim desviam o olhar sobre suas próprias corrupções e, aliviados, continuar com sua lógica também corrupta.

Ou pode-se atribuir aos acusadores aquilo que o grande jurista e politólogo alemão Karl Schmitt (+1986) aplicava a todo um povo. Este para “garantir sua identidade tem que identificar um inimigo e desqualificá-lo com todo tipo de preconceito e difamação” (cf.O conceito do político,2003). Ora, esse processo está sendo sistematicamente feito contra o PT, um verdadeiro bullying coletivo. Com isso procura-se invalidar as conquistas populares alcançadas e reconduzir ao poder aqueles que historicamente sempre estigmatizaram o povo como jeca-tatu e ralé e ocuparam os aparelhos de estado para deles se beneficiar.

Distorce minha intenção quem pensar que com o que escrevi acima estou defendendo os que do PT se corromperam. Devem ser julgados e condenados e, por mim, expulsos do partido.

O avanço do povo através do PT é precioso demais para que seja anulado. As conquistas devem continuar e se consolidar. Para isso é urgente desmascarar os interesses anti-populares, frear o avanço dos conservadores que não respeitam a democracia e que almejam a volta ao poder mediante algum tipo de golpe.


domingo, 21 de junho de 2015

Será ódio antipetista ou egoismo de classe?


Seria ódio ou o não menos execrável egoísmo, o sentimento que parte da sociedade brasileira vem demonstrando em suas atitudes, tanto em palavras quanto em atos.

O professor de Ética e Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Alessandro Pinzani, entende que as razões que explicam essa divisão entre os brasileiros têm tudo a ver com a política da gestão petista, que entre outras coisas criou programas e leis que não foram bem aceitas pelas camadas historicamente mais favorecidas. É o caso da regulamentação do trabalho doméstico.

"A classe média se sentiu ameaçada em seu estilo de vida e se viu em parte alcançada pelas classes sociais inferiores, que passaram a usufruir de bens e serviços que até então ela considerava como seus privilégios."

Isso explica em grande parte, segundo ele, os comentários preconceituosos nas redes sociais ou até mesmo por parte de alguns comentaristas na TV sobre o “pobre”, que agora compra carro, sobre os “farofeiros”, que agora frequentam os aeroportos ou os shopping centers – o que, aliás, desencadeou, a partir de 2013, a repressão policial aos rolezinhos dos adolescentes das periferias em centros de compras mais badalados, em bairros nobres.

"Na realidade, acabou vindo à tona um preconceito que já existia de maneira profunda, mas que não precisava se manifestar abertamente, uma vez que suas vítimas (os pobres, os negros, os nordestinos) não compartilhavam os mesmos espaços (físicos, sociais, econômicos) da classe média, a não ser em posição subordinada, como zelador de prédio, entregador de encomendas, empregada doméstica", diz Pinzani.

Ou seja, a classe média tem a sensação de estar perdendo terreno em termos de importância social e política e em termos de qualidade de vida. "Isso lhe provoca medo e uma reação quase instintiva de ódio contra os atores sociais que considera responsáveis por isso, a saber, o governo petista e os próprios membros das classes subalternas."

Pinzani entende que isso pode mudar com o tempo, uma vez que a presença dos filhos dos “pobres” (que já deixaram em parte de sê-lo) nas universidades pode levar à criação de uma nova classe média menos preconceituosa. "Não sei quantos dos médicos que pertencem àquele grupo de Facebook que sugeria a castração química dos nordestinos e dos pobres são filhos de pobre ou de nordestino. Com certeza, com o ingresso de mais nordestinos ou pobres nas universidades, o número de profissionais preconceituosos poderá diminuir, mas isso vai demorar ainda muito."

Ao lado da professora Walquíria Leão Rego, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pinzani percorreu as regiões mais pobres entrevistando bolsistas do Bolsa Família. E garante que, ao contrário do que muita gente apregoa, não é apenas o programa de transferência de renda que estaria por trás do apoio dos mais pobres a Dilma.

"As pessoas mais pobres têm a percepção, bastante correta, de que os governos petistas foram os primeiros a se interessar concretamente por eles e por seus problemas. São quase 60 programas de combate à pobreza, não somente o Bolsa, e a maioria deles visa não somente a transferir renda, mas a criar condições estruturais que ajudem essas pessoas a saírem da sua situação. Óbvio que os pobres votam seguindo seu interesse, como o faz a classe média, quando vota em candidatos que prometem diminuir os impostos", analisa.

Para o professor, os que apoiam o governo da presidenta reconhecem também os avanços educacionais, sobretudo a partir de programas como o ProUni, o Fies, a ampliação na oferta de vagas pela ampliação da rede federal de ensino superior e o Pronatec. "Há ainda muitas outras coisas complementares. A população está percebendo que há esses programas.

Para o filósofo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Vladimir Safatle, essa divisão da sociedade não chega a surpreender, uma vez que, segundo ele, a sociedade brasileira é claramente dividida do ponto de vista ideológico, que chega a ultrapassar a divisão das classes sociais.

“Mesmo o Lula ganhava a eleição com uma média de 60% dos votos. Ou seja, 40% da população estava com o pensamento conservador, e não era só a classe média. Não existe 40% de classe média no Brasil. Esse percentual abrangia setores da classe mais pobre”, disse em entrevista à RBA.

Para Safatle, essa divisão é positiva. "Assim, as pessoas vão entender de uma vez por todas: nós não estamos no mesmo país. Nós não vivemos no mesmo país. Nós temos diferenças fundamentais com vários grupos, que representam o pensamento conservador nacional”, disse.

“Nem em relação a nossa história temos acordo: essas pessoas, em última instância, acham que é normal que o Estado não criminalize a tortura de Estado, que é normal falar que a ditadura militar foi um mal necessário, por exemplo.”

Para Alessandro Pinzani, uma sociedade dividida nunca foi e nunca será um fenômeno positivo. Ele lembra que as sociedades europeias superaram as profundas divisões sociais e econômicas somente através de revoluções, guerras e, sobretudo, de políticas sociais de amplo alcance e de longo prazo.

E que ao longo da história dos últimos séculos, as lutas sociais da classe operária e, em geral, dos trabalhadores, bem como o risco concreto de uma revolução social, levaram os governos – inclusive os mais conservadores – a tomar medidas para diminuir a desigualdade social e garantir um nível mínimo de qualidade de vida para todos.

"Na Alemanha do final do século 19, o reacionário chanceler Bismarck introduziu legislações sociais que muitos membros da classe média brasileira atual considerariam comunistas e dignas da Cuba castrista", lembra Pinzani.

Ainda segundo ele, o renovado aumento da desigualdade econômica é visto com muita preocupação na Europa, onde todos os governos afirmam querer tomar medidas contra o fenômeno. Isso por entenderem que uma sociedade que exclui uma parcela importante da população não é saudável e corre o risco de implodir.

"Agora, no Brasil, é difícil convencer os excluídos que eles têm o dever de manter-se leais a uma ordem jurídica e política que os discrimina ou prejudica. Os pobres aceitaram sua exclusão por séculos quase sem revolta, mas com importantes exceções. Agora não parecem estar mais dispostos a fazer isso, e com certeza não quererão voltar para o status quo anterior às políticas sociais dos governos petistas."


Se Aécio tivesse conseguido se eleger, sabia que deveria levar em conta tudo isso, ou enfrentaria muitas resistências e, provavelmente, manifestações populares como as de 2013. "Com a vitória, Dilma seguirá enfrentando o mal-estar da classe média. Em suma, durante algum tempo não haverá mandato confortável para nenhum dos que sejam presidente no Brasil."

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

Seguir No Facebook