Na última
semana, o país acompanhou de perto duas grandes mobilizações: no domingo
passado (13), uma parcela significativa da população foi às ruas pedindo a renúncia
ou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, condenando a corrupção nas
várias esferas governamentais e endossando o trabalho da operação Lava Jato e
do juiz Sérgio Moro. Na sexta-feira (18), foi a vez daqueles que são contrários
à retirada de Dilma do poder se manifestarem, marchando por democracia e
garantia dos princípios constitucionais.
Para o
filósofo e professor de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São
Paulo (USP), Pablo Ortellado, a pauta dos protestos de domingo passado (13) é
mais objetiva.
“Os dois
grupos são muito plurais. As bandeiras das mobilizações eram mais diversas no
ano passado, quando se discutia se eram a favor ou contra o impeachment. Agora
há unanimidade em relação a isso. A mobilização de sexta (18) foi mais
divergente. Há quem apoie o governo Dilma incondicionalmente, há quem apoie o
governo, mas critique a política econômica, e há quem não apoie o governo, mas
é contra a interrupção do mandato da presidente”, explica.
Ortellado
enxerga pontos de afastamento entre os perfis de integrantes dois movimentos:
“O processo de mobilização dos dois grupos é muito diferente. Enquanto os
manifestantes que compõem o grupo pró-impeachment é, em sua maioria, de classe
média ou alta e branco, o grupo contrário à remoção da presidente é mais
diverso, analisando a escolaridade, renda e composição étnica. Mas percebemos
que os dois grupos estão extremamente mobilizados”.
“A capacidade
de mobilização dos que defendem o governo em São Paulo, onde um pedaço
importante do jogo é jogado, foi surpreendente. Não foi um ato de grande
envergadura, como foi o de domingo, mas não foi nem um pouco desprezível,
principalmente em um momento de grande fragilidade do governo”, pontua
Ortellado.
O professor
diz que a sucessão de fatos políticos extremamente delicados – a delação do
senador Delcídio do Amaral, a condução coercitiva do ex-presidente Lula e sua
posterior nomeação como ministro-chefe da Casa Civil, culminando na divulgação
das interceptações telefônicas feitas no âmbito da investigação da 24ª fase da
Operação Lava Jato – agitaram os dois campos políticos.
“São
mobilizações mais radicalizadas e acirradas. Houve um boom para os dois lados,
gerando um antagonismo sem precedentes. É absolutamente imprevisível apontar o
que vem agora, porque varia muito com a conjuntura.
Só tivemos
mobilizações deste tamanho por conta da sequência de eventos, e isso faz parte
do jogo político. Os atores estão usando-os com o objetivo de indignar e
mobilizar o povo. Eles não estão sendo lançados ao acaso”, declara.
Para
Ortellado, a sociedade carece de um “fórum de discussão”: “A sociedade está
hiperpolitizada e discutindo política de uma maneira muito apaixonada. O jogo
político está sendo muito jogado nos meios de comunicação, que não cumprem seu
papel de darem o viés analítico. Não temos um fórum de discussão, e sim um
grande campo de batalha”.
E a consequência
disso é a necessidade de ter que tomar um lado: “Tem esse sentimento de uma
parcela expressiva da população, de não se identificar com nenhum dos dois
lados. Mas o antagonismo é tão acentuado e tão frequente que essas vozes estão
sendo atraídas para um dos polos ou atacadas por um dos dois. E as posições
ponderadas se dissolvem em um debate de vozes que estão falando muito alto”.
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