quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sardenberg discorda do fato de um economista ortodoxo participar do governo Dilma



A tese levantada pelo jornalista Carlos Alberto Sardenberg, ao afirmar que Dilma ganhou as eleições pela esquerda e governará pela direita é no mínimo curiosa, ou seja, escolher o nome do ortodoxo Joaquim Levy para comandar a economia, ainda que essa seja a melhor opção segundo o próprio jornalista, não deveria ter sido a opção da presidente reeleita, mas sim um economista mais flexível e liberal. No entender do Sardenberg, que além de jornalista também é palpiteiro econômico no jornal da Globo, a presidente Dilma não teria o direito de tentar salvar o tão criticado, por ele próprio, atual modelo econômico, pelo fato de que para isso ela esteja promovendo para ministro da fazenda um nome que ele julga que somente poderia ser promovido para este mesmo posto por um presidente da direita, caso aquele tivesse vencido as eleições. Para legitimar sua incoerência, o próprio Sardenberg cita na sequencia de seu texto-desabafo, que este que ele agora não admite como participante de um governo de esquerda é o mesmo que foi secretário do Tesouro entre os anos de 2003 a 2006, época em que o presidente, a exemplo da atual, também era petista e procurava manter os vagões da economia nos trilhos.    


Leia abaixo o texto do Sardenberg na íntegra:

A conspiração
A nomeação de Levy para comandar a economia só faz sentido se ele tiver total autonomia para aplicar seu receituário

Quer dizer, então, que não tem nada de mais ganhar uma eleição pela esquerda e governar pela direita? Pois é assim mesmo, não tem problema, andam dizendo por aí: Lula não fez isso no seu primeiro mandato? E não é que deu certo?

Deu mesmo. E com um personagem — Joaquim Levy, secretário do Tesouro de 2003 a 2006, campeão brasileiro de ajuste nas contas públicas — que está sendo chamado de volta para repetir a façanha. E promovido a ministro da Fazenda do segundo governo Dilma.

O serviço é mais difícil hoje. Começa que a presidente Dilma tem visão bem diferente em política econômica. Lula, no campo das ideias, é um pragmático. Funcionou, tudo bem. Já Dilma, economista formada, tem convicções firmes. E, falando francamente, opostas às de Levy, também ele muito seguro de suas convicções mais ortodoxas. Nas funções públicas (Fazenda, Planejamento, secretaria da Fazenda do Rio) sempre foi muito rigoroso na aplicação de seus pontos de vista.

Assim, a nomeação de Levy para comandar a economia só faz sentido se ele tiver total autonomia para aplicar seu receituário, cuja peça central é a busca do equilíbrio das contas públicas, com a redução do endividamento público. Ele já disse que o governo brasileiro deveria buscar a nota A das agências de classificação de risco — o que significa reduzir o déficit público nominal, a inflação e a taxa real de juros.

Sobre inflação, Levy declarou numa entrevista ao “Valor”: “Inflação de 6% a 6,5%, todo mundo concorda, é muito alta.” Nem todo mundo: a presidente Dilma diz sempre que a inflação está controlada e dentro da meta. Para ela, a meta está nos 6,5% atuais e que constituem o teto da margem de tolerância. Já Levy acha que a meta é 4,5%, que o BC deveria buscá-la com mais firmeza e, no futuro, reduzi-la para algo como 3 a 3,5%.

Se fosse para fazer mais do mesmo, Dilma não precisaria de Levy. E este, claro, não toparia a parada.

Logo, ao contrário do que diz formalmente, a presidente se convenceu ou foi convencida ou forçada a aceitar que a tal nova matriz econômica é um fracasso.

Mas tem também uma teoria conspiratória: os próximos dois anos serão difíceis. Poderão ser mais ou menos difíceis, conforme a política aplicada, mas não há como escapar de um aumento na taxa de desemprego, de juros mais altos, contenção de gastos públicos, desvalorização do real, inflação ainda alta. Mantida a política Dilma/Mantega do primeiro mandato, essas coisas aconteceriam na fatalidade, “à selvagem”, descontroladas. Portanto, um ajuste na marra, mais doloroso e mais longo.

Com Levy, se ele puder fazer sua política, o ajuste será organizado, controlado e, mais importante, com expectativas muito positivas. O mercado, os consumidores, os contribuintes, os investidores, todo mundo gosta de coisas claras e previstas. Como diz Levy, a meta para o equilíbrio das contas públicas pode ser qualquer uma, desde que seja bem simplesinha. Se precisar ficar explicando muito, não cola.

Ora, é exatamente o contrário que está fazendo o governo Dilma nos estertores do primeiro mandato. A meta de superávit primário era de R$ 116 bilhões, foi corrigida para R$ 80 bilhões, depois abatida para R$ 49 bilhões — e agora a base governista tenta aprovar no Congresso um projeto que elimina qualquer meta.

Por isso, aliás, os futuros ministros da Fazenda, Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, serão anunciados nesta quinta, mas não tomarão posse. Em vez de assumir com a avacalhação da meta fiscal, vão começar propondo outra meta, provavelmente com um programa de médio prazo de ajuste das contas públicas.

E se Levy não for confirmado?
Aí será um desastre. Tirante a esquerda, incluindo essa ala do PT, e economistas alinhados com o pensamento original de Dilma, os meios econômicos receberam com verdadeira animação a indicação de Levy, “vazada” pelo próprio Palácio do Planalto. Se não for ele, os mercados desabam, a confiança de consumidores e de investidores vai ao chão.

Tudo considerado, ao menos na partida, Dilma-15 repete Lula-03. Ortodoxia na política econômica, incluindo a senadora Katia Abreu no Ministério da Agricultura, que repete o Roberto Rodrigues do primeiro mandato de Lula. Para a esquerda, vão os ministérios sociais.

A questão que fica para ver na prática é a seguinte: o ministro Levy terá tanta autonomia e tanta habilidade política para comandar o ajuste quanto as teve o então ministro Palocci em 2003?

Esse é o teste.
E qual seria, afinal, a conspiração? Dilma teria chamado os ortodoxos para fazer o serviço sujo. Concluído o ajuste, em uns dois anos, quando o país estivesse pronto para voltar a crescer, chamaria de volta os velhos amigos.

12 comentários:

  1. E eu discordo do Sardenberg, uma vez que o modelo Neodesenvolvimentista do governo é quase uma "coalisão de todos os segmentos sociais"
    Basta lembrar Henrique Meireles no governo Lula para desfazer a crença que a direita tenta impor de um governo Petista comunista.

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  2. Quando não se tem em seus quadros de militantes com competencia, dá nisso!

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  3. Parece que nem o direito ao acerto será concedido a presidenta. (risos). Lembrando que o Joaquim Levy foi secretário do Tesouro entre os anos de 2003 a 2006, ou seja, durante a gestão do ex presidente Lula. Particularmente pouco importa o nome ou as origens políticas daqueles que irão assumir este ou aquele cargo, o que me importa são os resultados. O que não é concebível é um jornalista do "nipe" do Sardenberg, que foi um genuíno cabo eleitoral do Aécio, ser contra que o nome que ele defendia para o governo do direitista seja opção para o governo de esquerda. O que está em jogo vai muito além do desempenho pessoal da presidente reeleita e seu consequente crescimento nos índices de aprovação, o que está em cheque é o futuro da economia brasileira e consequentemente a sorte de todos os cidadãos brasileiros. A preocupação da direita é exclusivamente torcer para que o barco afunde, a possibilidade de o governo da Dilma "acertar a mão" e os indicadores melhorarem causam espécie nos adversários, e isso se dá pelo simples fato de que, em isso acontecendo, nas eleições de 2018 o PT conseguiria pelo menos mais 4 anos à frente do país. Aos olhos daqueles, pouco importa o Brasil e os brasileiros, o que importa é o poder, mesmo que para atingir esse objetivo vidas inocentes sejam ceifadas pela fome e a falta de direitos básicos.

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  4. Já pensou que assim ele fica na sinuca se defende ou se ataca, se defende, pois é da doutrina que eles queriam estariam dando força a governo que não da direita, se ataca como atacar as linhas que eles defendem. Não esta facil para ninguém. Jogada de mestre essa da presidenta.

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  5. No caso do Joaquim Levy não haverá nenhum problema, afinal ele participou diretamente do governo Lula entre os anos 2003 e 2006 como secretário do tesouro, mas seria interessante a presidente indicar alguns nomes da extrema direita para ocupar o primeiro escalão, mesmo sabendo que aqueles não aceitariam, afinal, falar é bem mais fácil que fazer. rss

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  6. aplausos para vcs e para a DILMA a PRESIDANTA mais mentirosa q já passou por essa nação brasileira! e a mais corruptora diga-se de passagem, aliás entre ela e o LULADRÃO o título fica difícil! Vcs são inacreditavelmente tapados, isto porque penso q sejam honestos!

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  7. Da parte que me toca agradeço sua participação Sonia, os "aplausos" e as dúvidas entre ser tapado ou desonesto eram dispensáveis. Estou certo de que você tem capacidade para contribuir bem mais com o assunto sugerido do que com seu comentário feito acima.

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  8. Essa "Sônia" n aparece p/ mim. Provavelmente foi alguma radical - dentre tantos - q eu bloqueei na ocasião das eleições. Não devo estar perdendo nada.

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  9. O q penso (no momento) em relação a uma gde parcela da oposição - a raivosa e a pseudo calma -, é q para eles tanto faz. Vale tudo, desde q seja contra o PT. Alguns votariam em Suzanne Richthofen em oposição a qlqr candidato do PT. Vi pessoas inteligentes perderem totalmente o bom senso e se jogando à estultícia durante o período das eleições (alguns ainda se mantém inconformados).

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  10. Esse sentimento e comportamento por parte de alguns ainda se arrastará por um bom tempo meu caro Marcos Taga. Infelizmente a emoção de alguns está se sobrepondo à razão e, quando a razão fica para um plano inferior as consequências dificilmente serão as melhores.

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  11. Sônia Sonia Limoeiro Monteiro, ui ainda está na minha lista ??? Precisa ler, estudar história e economia do Pais pelo menos. Não enxerga é estreita demais p entender alguma coisa. É a "dos contras," qualquer coisa serve desde q não seja PT

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Dag Vulpi

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