sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Como funcionam as urnas eletrônicas

Micro Terminal
O Brasil não costuma ser o primeiro ou o melhor em alguma área. Por exemplo, na educação o nosso país é apenas o 38º do ranking. Nos esportes, somos um pouco melhor, mas nem tanto. Na última Olimpíada, ficamos apenas em 22º lugar, com 3 medalhas de ouro. Nem no futebol, onde antes éramos os soberanos, nós mandamos mais. Nem me estenderei sobre o assunto, o sonoro 7 x 1 imposto pela seleção alemã nas semifinais da copa disputada aqui em nossa casa resume o drama.Enfim, já somos acostumados a não sermos os melhores nas coisas. Talvez sejamos os primeiros em cobrança de impostos e taxas.

Mas há uma coisa em que somos bons, ainda assim, mesmo desconhecendo minimamente seu funcionamento alguns discordam. Estou falando do nosso sistema eleitoral.

*Acompanhe no final da postagem o vídeo do 1º Fórum Nacional de Segurança em Urnas Eletrônicas.  


No dia 05/10/2014, todos os brasileiros entre 18 e 70 anos vão às urnas exercer a sua cidadania através do voto. E, ainda no mesmo dia, ficarão sabendo quais candidatos foram eleitos democraticamente. Toda essa rapidez se deve ao nosso avançado sistema eleitoral, que desde 1996 é informatizado, com os votos sendo computados nas urnas eletrônicas. Muito provavelmente você já esteja familiarizado com ela. Mas será que sabe como ela funciona? É justamente sobre isso que iremos tratar no Artigo de hoje. Falaremos sobre os componentes e funcionamento das urnas eletrônicas, bem como sobre o processo de apuração e contagem dos votos. Vamos lá?

Hardware
Antes de falarmos sobre o hardware em si, vamos falar antes sobre dois termos que talvez você não conheça: terminal do eleitor e microterminal. O terminal do eleitor é a urna propriamente dita, que fica protegida por uma cabine e é onde você vai domingo para apoiar o seu candidato. O microterminal, por sua vez, fica na bancada dos mesários e constitui-se somente de um teclado numérico, com as teclas “Corrige” e “Confirma” e um pequeno visor LCD. Há também uma porta serial para conexão direta com a urna eletrônica.
Antes de ir diretamente para a urna registrar seu voto, você primeiro entrega seu título de eleitor para um dos mesários da sua seção. Ele, por sua vez, digita o número do título no microterminal. O aparelho então verificará quem é você e se pertence realmente àquela zona eleitoral. Em estando tudo certo,  ele libera a urna eletrônica para votação.

A urna eletrônica, em si, é composta por uma tela de LCD e um teclado numérico, com as teclas “Branco”, “Corrige” e “Confirma”. Temos também um conector para fones de ouvido, no caso de um eleitor com deficiência visual. Em benefício destes, também, todas as teclas têm alto-relevo em braile, para que ele possa saber exatamente onde está teclando. Alem disso, há um módulo de impressão, que é usado duas vezes: antes do início da eleição e ao seu fim. Antes da apuração começar, o presidente da mesa imprime a “zerésima”, um documento que confirma que não há nenhum voto computado, que a urna está “zerada”. Ao final do dia, o presidente da mesa digita no microterminal a senha de encerramento. Com isso, a urna imprime o 1º Boletim de Urna (B.U.), com as informações referentes àquela seção. Se tudo estiver ok, o Presidente da Mesa aperta a tecla “Confirma” e mais 4 vias do B.U. são impressas.

Urna Eletrônica
A urna eletrônica possui duas memórias, chamadas de memória interna e externa, que consistem em dois cartões de memória Flash. Isso permite a redundância e backup dos dados, o que garante a segurança e confiabilidade das eleições. Se um dos módulos falhar ou for roubado, há o outro. Há ainda um pen drive, chamado de “memória de resultado”, de apenas 512 MB, que é usado ao final da eleição para gravar todos os votos computados pela urna eletrônica. E por fim, há uma porta serial, que conecta a urna eletrônica ao microterminal, para que estes possam trabalhar em conjunto. Esta conexão informa ao mesário o estado da urna: se ela está sendo alimentada eletricamente, se está em uso ou liberada para votação.

A urna eletrônica é bivolt, ou seja, funciona tanto em 110 quanto em 220 volts. No caso de falha no fornecimento de energia, ela possui uma bateria interna que aguenta 12 horas de funcionamento. E se ainda assim não for suficiente, ela pode ser ligada até na bateria de um carro! Ou seja, não há desculpa para uma zona ou seção eleitoral não darem andamento ao processo de votação. Cada urna é idêntica entre si, com apenas os dados dentro delas mudando. Eis as informações que a urna eletrônica carrega: sistema operacional, softwares, designação do município, seção e zona eleitoral, tabela de partidos e candidatos políticos, bem como suas respectivas fotos e a tabela dos eleitores daquela seção.

Sistema operacional e softwares
Mas primeiras urnas, usadas de 1996 até o ano 2000, era usado o sistema VirtuOS. Ele é um sistema multiusuário e multitarefa que atendia bem as necessidades das urnas eletrônicas. Nas eleições de 2002, 2004 e 2006, porém, o sistema escolhido foi o Windows CE. Ele havia sido especialmente desenvolvido para dispositivos portáteis, como smartphones da época e até consoles de games, à exemplo do Dreamcast. Ele era um sistema mais robusto que o anterior e rodava com apenas 1 MB de RAM. Ainda assim, visando cortar custos e ainda aumentar a segurança da plataforma, em 2008 o TSE resolveu adotar o Linux como sistema operacional. E ele vem sendo usado desde então.

Uma das etapas do processo de montagem da Urna Eletrônica
São usados, também, dois softwares nas urnas eletrônicas. O Gerador de Mídia e o Subsistema de Instalação e Segurança. O primeiro, Gerador de Mídia, é responsável por carregar todos os dados das seções eleitorais, tabela de eleitores, de candidatos, fotos e partidos políticos. Esses dados ficam num cartão de memória interno da urna, a memória interna, que nós já falamos anteriormente. É esse programa que grava também os dados na memória de resultado, que futuramente será transferida para os cartórios eleitorais. O segundo software, Subsistema de Instalação e Segurança, tem como função gerir todo o processo de votação, controlando o acesso e organizando os dados que são inseridos.

É importante ressaltar que todo o sistema e os softwares são compilados por técnicos do TSE, que inserem as chaves e as rotinas criptográficas. Após a compilação, os técnicos preparam pacotes de softwares, que são também criptografados e enviados aos diversos TREs (Tribunal Regional Eleitoral) espalhados pelo Brasil. Junto com o pacote de softwares, vai também o cadastro nacional dos eleitores. Por meio de um cartão de memória inserido na urna (memória externa), é que é feito o processo de boot (inicialização) e todos os dados e programas são carregados para a memória interna da máquina, que é devidamente formatada para a recepção destes dados. Então a urna é desligada e é colocado um novo cartão de memória, que armazenará todos os votos durante o dia. Depois ela é reiniciada e tem todos os seus componentes testados. Um processo de teste que dura mais de 6 horas! Se nada der errado, ela é lacrada e segue seu caminho para as respectivas zonas eleitorais.

Apuração
Agora vem uma parte muito importante do processo eleitoral: a apuração e contagem dos votos. Como nós já falamos acima, a urna possui um pen drive que armazena todos os votos. Ele é de apenas 512 MB. Parece pouco, mas é o suficiente. Cada voto ocupa apenas 4 bytes. Nesse ano, como temos apenas eleições para prefeito e vereador, cada eleitor ocupará míseros 8 bytes na urna eletrônica. Como que é garantida a segurança dos nossos votos? Claro, todos os votos são também criptografados, o que aumenta a segurança do sistema. Além do mais, a urna eletrônica é programada para funcionar apenas durante a eleição. Não é possível acessá-la nem antes e nem depois. Outra barreira que impede a modificação dos votos, é que eles são desvinculados do eleitor. Isso garante também o caráter secreto da votação. Além disso, a urna não é conectada à internet, o que inviabiliza o ataque de hackers.

Apuração dos Votos
Ao término da eleição, o pen drive com os votos é retirado da urna e ligado a um computador (chamado de transportador), em um dos inúmeros pontos de transmissão. Nesse ano, como serão eleições estaduais, os votos serão enviados para os TREs, através de uma rede privada e criptografada. Softwares especiais fazem a contagem dos votos. Mas no caso de eleição presidencial, os votos são enviados para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que conta com um super servidor altamente protegido, tanto física quanto logicamente. Este é o Totalizador. Esta máquina é tão potente que é capaz de computar e gerenciar até 300 mil votos por minuto! Claro que este é o computador mais visado por hackers. No dia da eleição, segundo dados do TSE, eles registram mais de 400 mil tentativas de ataque por minuto! No entanto, a alta segurança e o pouco tempo que os hackers têm para invadir acabam por dificultar demais a invasão. Até hoje, nunca registrou-se nenhuma tentativa bem-sucedida de fraude.

Mas, em minha opinião, a maior fonte de segurança das nossas eleições, é o acesso de todos os partidos políticos ao Boletim de Urna, que é impresso ao final do dia. Assim, todos os partidos podem checar se não há nenhuma anomalia nos votos. Os partidos podem, inclusive, constituir um sistema próprio para contagem dos votos, se ele quiser contar por si mesmo a resultado da eleição e comparar com o resultado oficial.

Vantagens
O nosso sistema eleitoral informatizado traz inúmeras vantagens. A primeira e mais visível é a rapidez da votação. As urnas eletrônicas são aparelhos extremamente simples e intuitivos. Qualquer pessoa, por menos instruída que seja, consegue manusear o aparelho sem problemas. Isso é um grande contraste com os votos em cédulas, que tinham muitas opções e era um verdadeiro problema para analfabetos funcionais. A contagem dos votos e os resultados acontecem no mesmo dia, no máximo até a meia noite! No sistema antigo, levava-se até uma semana para se contabilizar todos os votos. Ainda mais num país tão populoso como o nosso.

Outro problema que foi resolvido com as urnas eletrônicas, foi o alto número de votos nulos. Antigamente, na época das cédulas, muita gente marcava mais de um candidato para o mesmo cargo. O que invalidava o voto. Ou, como falou uma amiga minha dia desses: “Era bom quando era papel, que aí a gente riscava a folha todinha! Eu lá vou votar nesses m****!“. O voto eletrônico impossibilitou essas práticas. As chances de fraude também foram minimizadas ao máximo com o novo sistema de votação. Além dos procedimentos de segurança que nós abordamos acima, todos os partidos políticos e mesários podem acompanhar o preenchimento da urna eletrônica e a impressão da “zerésima”.

Outra grande vantagem foi a economia de recursos! Imagine a quantidade de árvores e água que foram preservados, visto que não é mais necessário se fabricar papel. Estima-se, que de 1996 para cá, mais de 20 mil árvores foram preservadas. O que corresponde a mais de 120 mil metros quadrados. Mais de 700 milhões de litros de água foram economizados. É uma quantidade suficiente para se abastecer uma cidade com mais de 100 mil habitantes. Ou seja, as economias e vantagens são realmente recompensadoras. O nosso sistema eleitoral é comprovadamente eficiente e seguro. 

Conclusão
Depois de saber como as urnas eletrônicas funcionam e a dinâmica de todo o processo de votação, podemos concluir que realmente o Brasil tem um dos mais avançados sistemas eleitorais. Pena que os que se candidatam aos cargos públicos não sejam tão honestos ou de idoneidade moral inquestionável. Temos um excelente sistema eleitoral para péssimos governantes. Mas somente nós podemos mudar isso. Como sempre, a tecnologia é o meio, e não o fim das coisas. Cabe a nós adquirirmos consciência política para usarmos esta máquina da melhor forma possível.

Pondere bem a sua escolha, não se deixe comprar por votos e agrados e ao menos lembre-se em quem votou esse ano, para que futuramente você pense se vale a pena ou não dar um voto de confiança ao seu candidato. E que no dia das eleições não enfrente filas gigantescas, mas reveja velhos conhecidos. Não sei se é comigo, mas eu sempre encontro gente que não tenho contato há tempos no dia da eleição. Espero que tenha gostado do artigo.





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