sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O Poder de uma Mudança no Paradigma


Talvez a mais importante noção a ser aprendida com a demonstração da percepção esteja na área de mudança no paradigma, aquilo que poderíamos chamar de experiência do tipo Ah-ah! - onde uma pessoa finalmente "vê" o desenho inteiro de outro modo. 

Quanto mais alguém se liga à percepção inicial, mais poderosa é a experiência do Ah-ah! É como se uma luz interna se acendesse subitamente.

O termo mudança no paradigma foi introduzido por Thomas Kuhn em seu memorável livro The Structure of Scientific Revolutions (Estrutura das Revoluções Científicas), que influenciou muitos autores. Kuhn mostra como praticamente todas as revoluções no campo da pesquisa científica começaram em rupturas com a tradição, com o modo antigo de pensar e com velhos paradigmas.

Para Ptolomeu, o grande astrônomo egípcio, a terra era o centro do universo e essa “verdade” arrastou-se por séculos, até que 1.340 anos depois, apesar da imensa resistência e perseguição, Copérnico criou uma mudança naquele paradigma ao colocar o sol no centro. E foi a partir daquela mudança de percepção que tudo o que antes se acreditava ser a verdade absoluta, passou a ser interpretado de modo bem diferente

O modelo de Newton para a Física era um paradigma preciso, e ainda constitui a base da engenharia moderna. No entanto, era parcial e incompleto. 

O mundo científico foi revolucionado pelo paradigma de Einstein, a Teoria da Relatividade, possuidor de um valor muito maior para a explicação e previsão dos fenômenos.

Enquanto a teoria dos germes não foi elaborada, um alto número de mulheres e crianças morreram durante o parto, sem que ninguém soubesse por quê. 

Durante as batalhas morriam mais soldados por pequenos ferimentos e doenças do que na linha de frente, em combate. Mas assim que a teoria dos germes foi aperfeiçoada, um paradigma totalmente novo, uma forma aperfeiçoada e melhor de se entender o que acontecia, tornou possível um avanço significativo e dramático na medicina.

Os Brasil de hoje é o fruto de uma mudança de paradigma. O conceito tradicional de governo fora, por séculos, a monarquia, baseada no direito divino dos reis. 

Com o tempo, um paradigma diferente foi criado - o governo do povo, pelo povo e para o povo. A democracia constitucional nasceu, libertando a imensa energia e capacidade do homem, criando um padrão de vida, influência, esperança e liberdade inigualados na história mundial.

Nem todas as mudanças de paradigma ocorrem para o bem. A mudança da Ética do Caráter para a Ética da Personalidade nos afastou das raízes que realmente nutrem a felicidade e o sucesso verdadeiros.

Contudo, quer nos levem a direções positivas ou negativas, quer sejam instantâneas ou fruto de um longo processo, as mudanças de paradigma nos conduzem de uma visão de mundo a outra. E estas mudanças promovem transformações significativas. 

Nossos paradigmas, corretos ou incorretos, é a fonte dos comportamentos e atitudes e, portanto, de nosso relacionamento com os outros.

Eu me recordo de uma mudança de paradigma que me aconteceu em uma manhã de domingo, no metrô de São Paulo. 

As pessoas estavam calmamente sentadas, lendo jornais, divagando, descansando com os olhos semicerrados. Era uma cena calma, tranquila.

Subitamente um homem entrou no vagão do metrô com os filhos.

As crianças faziam algazarra e se comportavam mal, de modo que o clima mudou instantaneamente.

O homem sentou-se a meu lado e fechou os olhos, aparentemente ignorando a situação. As crianças corriam de um lado para o outro, atiravam coisas e chegavam até a puxar os jornais dos passageiros, incomodando a todos. Mesmo assim o homem a meu lado não fazia nada.

Ficou impossível evitar a irritação. Eu não conseguia acreditar que ele pudesse ser tão insensível a ponto de deixar que seus filhos incomodassem os outros daquele jeito sem tomar uma atitude. Dava para perceber facilmente que as demais pessoas estavam irritadas também. A certa altura, enquanto ainda conseguia manter a calma e o controle, virei para ele e disse:

- Senhor, seus filhos estão perturbando muitas pessoas. Será que não poderia dar um jeito neles? O homem olhou para mim, como se estivesse tomando consciência da situação naquele exato momento, e disse calmamente:

- Sim, creio que o senhor tem razão. Acho que deveria fazer alguma coisa.

Acabamos de sair do hospital, onde a mãe deles morreu há uma hora. Eu não sei o que pensar, e parece que eles também não conseguem lidar com isso.

Podem imaginar o que senti naquele momento? Meu paradigma mudou. De repente, eu vi as coisas de um modo diferente, e como eu estava vendo as coisas de outro modo, eu pensava, sentia e agia de um jeito diferente. Minha irritação desapareceu. Não precisava mais controlar minha atitude ou meu comportamento, meu  coração ficou inundado com o sofrimento daquele homem. Os sentimentos de compaixão e solidariedade fluíram livremente.

Sua esposa acabou de morrer? Sinto muito.  Gostaria de falar sobre isso? Posso ajudar em alguma coisa?  Tudo mudou naquele momento.

Muita gente passa por uma experiência fundamental similar de mudança no pensamento quando enfrenta uma crise séria, encarando suas prioridades sob nova luz. Isso também acontece quando as pessoas assumem repentinamente novos papéis, como marido, esposa, pai, avô, gerente ou líder.

Poderíamos passar semanas, meses ou até mesmo anos usando a Ética da Personalidade para tentar alterar atitudes e comportamentos, sem sequer nos aproximarmos do fenômeno da mudança, que ocorre espontaneamente quando vemos as coisas por uma nova óptica.

Torna-se óbvio então que a vontade de realizar mudanças relativamente pequenas combina com o foco nas atitudes e comportamentos. Mas, se desejamos empreender mudanças qualitativas significantes, precisamos trabalhar com nossos paradigmas básicos.

Ou, nas palavras de Thoreau: "Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes". 


Um salto qualitativo somente pode ser realizado em nossas vidas quando deixamos de cortar as folhas da atitude e do comportamento e passamos a trabalhar nas raízes, nos paradigmas que determinam nossa conduta.

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Dag Vulpi

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