sexta-feira, 18 de maio de 2012

O "esculhambê" do processo sucessório no PT do ES é antigo.

Por: Ueber José de Oliveira* Fonte
A partir de meados deste primeiro semestre, como é de praxe, se acentuaram as movimentações em torno do processo eleitoral que ocorrerá no segundo semestre de 2012. E chama atenção as pressões por parte do atual Prefeito da Capital, João Coser (PT), e de seu grupo político para que a candidata do seu próprio partido, a ex-ministra Iriny Lopes, desista da disputa em prol da chamada geopolítica do ex-governador Paulo Hartung (PMDB), que resolveu lançar seu nome especialmente após pesquisas demonstrarem que, desde o término de seu mandato de governador, vem perdendo popularidade, o que foi associado ao fato de não ocupar nenhum cargo eletivo.
Pensando sobre o assunto, me veio imediatamente na memória um passado não muito distante, os idos de 1992. Naquele ano, o então Prefeito de Vitória, Vitor Buaiz (PT), ao ser preterido da sua preferência de indicar o então Vice-Prefeito Rogério Medeiros (que foi derrotado nas prévias para João Coser), acabou apoiando, mesmo que timidamente, o então candidato tucano, Paulo Hartung, que também era aliado de Vitor na Prefeitura desde o pleito de 1988.

À época, tal posicionamento de Vitor foi considerado uma afronta às diretrizes partidárias, quase uma heresia! Diante do seu posicionamento, Buaiz foi advertido pelos Diretórios estadual e nacional do PT e sofreu sanções diversas, além de relativo desgaste político interno à sigla. O maior crítico da postura de Vitor foi justamente João Carlos Coser. Apesar disso, Buaiz terminou a sua administração com 82% de aprovação. Todavia, apesar da aprovação quase unânime por parte da população de Vitória, Buaiz não conseguiu fazer seu sucessor. Como afirmaria ele mesmo anos mais tarde, o tempo ajudaria a compreender a grande lição: “o povo não perdoa os dirigentes que não se entendem…”. Sem mencionar as últimas eleições nos planos nacional e estadual, isso aconteceu em Vitória com o PT em 1992, se repetiu com o PSDB em 2004 e me parece que Coser não aprendeu a lição.
Vários fatos demonstram este déficit de aprendizado de Coser desde então. Uma delas foi quando Buaiz assumiu o governo do estado, em 1995, após ter costurado uma aliança bastante ampla, à época também considerada espúria, ante às dificuldades petistas de, sozinho, vencer o pleito de 1994, especialmente em se tratando daquela disputa específica, muito delicada por conta do fenômeno eleitoral com o qual o candidato petista concorreu, o ex-deputado Dejair Camata. A não composição com forças políticas fora do espectro político da esquerda, fatalmente redundaria na vitória de Cabo Camata e os capixabas sabem, especialmente os cariaciquenses, as conseqüências nefastas que isso poderia acarretar ao Espírito Santo.

É bom lembrar o papel do então Deputado Federal João Coser nos primeiros meses do governo petista no Espí­rito Santo. Por um curto perí­odo, ele foi importante liderança do PT tanto nas esferas federais quanto estaduais, e até articulou com maturidade a aprovação de alguns projetos de interesse do Vitor, mesmo sendo a maioria de parlamentares da oposição.

Todavia, passado alguns meses, a bancada petista na Assembléia, em parceria com Coser, passou a atacar incisivamente o Governo Vitor, criticando especialmente o tratamento aos aliados. Talvez seja por isso que a direção nacional do PT avalie, até hoje, que, no governo do Espí­rito Santo, pela imaturidade, o Partido teria chegado ao poder antes da hora!
Assim como ocorrera em 1992, mais uma vez o PT pagou caro pelos desentendimentos intra-partidários: o fracasso nas urnas.

Depois de 1997, já sob o comando da tendência de Coser – a Articulação de Esquerda –  o PT se fragilizou muito eleitoralmente. Em 1998, teve um desempenho muito ruim, pois, além de não ter conseguido lançar candidatos nas eleições majoritárias, elegeu apenas 1 (um) deputado estadual e 1 (um) federal (o próprio Coser). Em 2000, nas eleições locais, teve um rendimento ainda pior, não conseguindo eleger nenhum prefeito. A recuperação do Partido no Estado só veio a ocorrer em 2002, com a chegada de Lula ao poder da República.

Voltando ao atual posicionamento de João Coser no quadro sucessório da capital. As articulações ora em curso apresentam algumas similaridades em relação a 1992. Uma delas, é que o mesmo João Coser que atacou duramente a posição de Vitor ao apoiar o grupo de Paulo Hartung, que fez ferrenha oposição ao Governo petista à frente do Estado por conta da mesma situação, agora rejeita a candidatura da Ministra Iriny Lopes, do seu próprio partido, dividindo o PT da Capital em prol do mesmo Paulo Hartung.

É evidente que o cenário como um todo é bastante distinto.  O PT já não é mais o mesmo, e devemos admitir que João Coser não desenvolveu, nem de perto, uma administração bem avaliada tal como a de Buaiz. Mas tal como ocorrera em 1992, com o posicionamento do atual Prefeito João Coser, a capital capixaba fatalmente cairá nas mãos das mesmas forças políticas de 1992, além de deixar numa situação embaraçosa a Ministra Iriny Lopes, que não se pode negar, é um nome de peso da política capixaba e absolutamente viável eleitoralmente na capital.

A última movimentação da direção estadual do PT, na pessoa de José Roberto Dudé, busca emplacar a falsa idéia segundo a qual a manutenção da candidatura de Iriny é decorrente de uma postura arrogante e que a candidatura não possui musculatura para emplacar. Diante desse fato, pergunto: e a bravata de Coser e seus aliados em impedir a qualquer custo à legítima candidatura da ex-ministra, na base da tratoragem, não é arrogância? E João Coser, quando insistiu em passar por cima da decisão do ex-Prefeito Vitor Buaiz, tinha condições de vencer o pleito?

Coser e Cia não perceberam que, tal como ocorrera em 1992, a postura equivocada de Buaiz contra Coser, que ele mesmo vem repetindo em relação à Iriny, certamente encadeará outros problemas para além do município de Vitória, com repercussões muito mais profundas, o que mais uma vez custará caro ao PT capixaba, que demorou 12 anos para retornar ao comando da capital, fato ocorrido somente em 2004. Nesse sentido, estamos acompanhando a materialização de uma observação, quase uma profecia, feita por alguém há muito tempo atrás: a “história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

Ueber José de Oliveira* -Doutorando em Ciência Política – Ufscar -Mestre em História Social das Relações Políticas – UFES.Email: ueberoliveira@yahoo.com.br


Título original: O processo sucessório em Vitória-ES: a história como tragédia e a sua repetição como farsa

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